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Inclusão e aprendizagem
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Inclusão e aprendizagem

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Este livro conta com trabalhos que resultam de estudos e pesquisas de intelectuais e profissionais envolvidos com a temática da inclusão e que estão comprometidos com o bem comum, com a educação e com o outro. Os textos reunidos nesta obra não exaltam a inclusão per se, mas problematizam seus aspectos políticos, pedagógicos, sociais e econômicos envolvidos naquilo que ela tem em sua positividade.

Cada um dos capítulos foi escrito por pesquisadores do Grupo de Estudos e Pesquisa em Inclusão (Gepi/CNPq/Unisinos) que se viram impelidos a desenvolver a pesquisa "Inclusão: processos de subjetivação docente" (Edital Universal 14/2012). Os achados desse estudo foram obtidos de um conjunto de políticas públicas voltadas para a inclusão, que passaram a circular e a determinar práticas educacionais nos anos de 1990, e de outro conjunto, formado por 57 narrativas docentes produzidas em nove capitais brasileiras.

A potência do material coletado, em especial das narrativas docentes, bem como os achados obtidos com essa investigação, fizeram com que a pesquisa "Saberes docentes e aprendizagem na matriz de experiência inclusiva" (Edital Pq 2015) fosse proposta, a fim de dar continuidade às análises empreendidas. Portanto, buscou-se um olhar mais micro para as práticas pedagógicas dos professores, sem o intuito de responsabilizá-los pela inclusão, analisando-se o processo de in/exclusão que se estabelece na escola. Além disso, por um viés mais macro, pretendeu-se analisar esse cenário em que se constituem tais práticas que subjetivam os professores para que assumam a inclusão como um imperativo, tomando a aprendizagem como uma condição de parceria com o Estado. Há, pois, a necessidade de continuarmos investindo em pesquisas nessa perspectiva, a fim de contribuir com as discussões no âmbito da formação de professores.
LanguagePortuguês
Release dateJan 1, 2017
ISBN9788547303686
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    Inclusão e aprendizagem - CARINE BUEIRA LOUREIRO

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    AGRADECIMENTO

    Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento das pesquisas Inclusão: processos de subjetivação docente (Edital Universal 14/2012) e Saberes docentes e aprendizagem na matriz de experiência inclusiva (Edital Pq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por viabilizar publicação deste livro, ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Inclusão (GEPI/CNPq/UNISINOS) e, especialmente, agradecemos a cada um dos integrantes do GEPI que contribuíram com suas produções para a composição desta coletânea.

    APRESENTAÇÃO

    Compartilhando esta apresentação estão dois livros, ambos organizados e escritos pelos pesquisadores que integram o Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão (GEPI), credenciado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e registrado no CNPq. O livro Inclusão e subjetivação: ferramentas teórico-metodológicas possui como público alvo pesquisadores, professores e interessados na temática da inclusão e que buscam nos Estudos Foucaultianos formas de fazer pesquisa e de trabalhar com ferramentas metodológicas típicas de uma analítica arqueogenealógica. O livro Inclusão e aprendizagem: da educação básica à universidade possui como público alvo professores em exercício na escola básica e na universidade, bem como professores em formação nos cursos de licenciatura. Ambos os livros são derivados de pesquisas financiadas pelo CNPq, mais especificamente: Inclusão: processos de subjetivação docente (Edital Universal 14/2012) e Saberes docentes e aprendizagem na matriz de experiência inclusiva (Edital Pq).

    Além de abordagens distintas feitas dos dados de tais pesquisas, a publicação de dois livros se dá devido à composição heterogênea do GEPI; a saber: pesquisadores, doutorandos, mestrandos, graduandos, muitos dos quais são também bolsistas CNPq, CAPES, FAPERGS entre outras agências de fomento, bem como professores de cursos de licenciatura e de escolas de educação básica localizadas na região do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores que compõem o GEPI são oriundos de distintas universidades brasileiras e estrangeira: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade do Estado do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Centro Universitário UNIVATES e Universidade Pedagógica Nacional de Bogotá/Colômbia (UPN).

    A pesquisa Inclusão: processos de subjetivação docente visou conhecer, analisar e problematizar como as políticas e os saberes sobre a inclusão chegam aos docentes, capturando-os e fazendo-os operar sobre si mesmos e sobre os outros, segundo a lógica da inclusão. Para tanto, dois grupos de materiais foram analisados. Um primeiro grupo foi constituído por políticas e leis sobre inclusão educacional, e o segundo grupo foi constituído por 57 narrativas de docentes atuantes em escolas públicas e privadas, produzidas em distintos estados brasileiros. Mais detalhes sobre a produção das narrativas docentes serão trazidos no livro de enfoque metodológico intitulado Inclusão e subjetivação: ferramentas teórico-metodológicas.

    A pesquisa Saberes docentes e aprendizagem na matriz de experiência inclusiva, iniciada em 2015, nasceu da necessidade de um desdobramento da investigação apresentada no parágrafo acima. Ao partir da inclusão como uma matriz de experiência e dos saberes docentes e da aprendizagem como partes integrantes de tal matriz, objetiva conhecer e problematizar os saberes docentes mobilizados nas práticas escolares sobre a aprendizagem, bem como conhecer as condições de possibilidade para os contornos atuais dos conceitos de aprendizagem no campo da educação e da pedagogia. Para tanto, são analisadas narrativas docentes produzidas para a pesquisa já referida anteriormente e analisados clássicos da educação e da pedagogia com a finalidade de melhor compreender os conceitos de ensino, saberes docentes e aprendizagem que circulam hoje na escola.

    Maura Corcini Lopes

    Coordenadora do GEPI

    PREFÁCIO

    aqui

    nesta pedra

    alguém sentou

    olhando o mar

    o mar

    não parou para ser olhado

    foi mar

    pra tudo quanto é lado

    (Leminski, 2013, p. 68)

    Muito se diz da escola, há muito tempo: insuficiente, obsoleta, formadora, transformadora, inspiradora. Muitos são os pesquisadores que se propõem a pensar sobre esse espaço, e, por vezes, inclusive, é comum perguntarmo-nos: as crianças ainda devem ir à escola? (VEIGA-NETO, 2000, p. 9). Como discuti em outro texto, a escola tornou-se essa instituição obrigatória, universal e praticamente naturalizada na sociedade ocidental (HATTGE, 2013), de maneira que se tornou retórico dizer o quanto ela é necessária. Quem vive seu cotidiano no contexto educacional brasileiro vivencia um espaço múltiplo, plural. Muitas são as conquistas; inúmeros, os desafios. A Política Educacional brasileira, nas últimas décadas, caminha em diferentes direções: ao mesmo tempo em que se supervalorizam as avaliações externas e seus resultados padronizados, tomando-os como medida da qualidade da educação, difunde-se cada vez mais, a partir das políticas de inclusão, a importância da instituição de processos individualizados no que diz respeito ao ensino e à aprendizagem dos sujeitos. Nesse sentido, em tempos de discussão de uma base nacional comum curricular, paradoxalmente, a individualização do ensino coloca-se como um caminho para incluir, e esse contexto dificilmente é analisado com mais profundidade.

    Em meio a tantos paradoxos, este livro, Inclusão e Aprendizagem: contribuições para pensar as práticas pedagógicas, que nos apresenta o Grupo de Estudos e Pesquisa em Inclusão (GEPI/UNISINOS/CNPq), é um livro corajoso, fruto da maturidade das discussões de um grupo que estuda e pesquisa junto, de um grupo que alia rigor nas análises com sensibilidade ao que se passa nesse espaço tão próprio que é o espaço escolar. Sim. A leitura deste livro inevitavelmente nos conduz como leitores a pensar no espaço da escola, nas práticas que ali tomam forma e nos sujeitos que ali se (trans)formam. Os pesquisadores implicados nesta obra trazem a escola para ser olhada. É claro que, tal como o mar de Leminski, a escola transborda pra tudo quanto é lado. Ela não para para ser olhada – mas se dá a ver. E, sendo vista, permite que, a partir do que se vê, outras possibilidades sejam pensadas.

    O GEPI é um grupo ímpar. Nasceu há quase duas décadas da vontade de saber de um grupo de estudantes universitários coordenados por suas professoras (LOPES; FABRIS, 2013). Hoje, composto em sua maioria por pesquisadores e estudantes de mestrado e doutorado e com um foco mais específico de estudo, que converge para os processos de in/exclusão, o grupo segue dedicado a aprender junto – o que não significa pensar do mesmo modo ou estudar os mesmos temas. A face múltipla desse grupo é que lhe permite uma produção tão rica e fértil.

    Os autores e autoras desta obra partem de um tema comum: a inclusão. Junto à temática da inclusão, a aprendizagem. A partir desse binômio, cada um dos textos deste livro traz para discussão outros temas, como intencionalidade pedagógica, modos de ser professor, diversidade, governo, tempo, práticas de subjetivação, autoaprendizagem. O livro apresenta-nos também análises de diferentes níveis de ensino: a escola básica em geral, a especificidade dos anos finais do Ensino Fundamental, o Ensino Superior. Frutos dos estudos e discussões realizadas a partir de duas pesquisas – Inclusão: processos de subjetivação docente e Saberes docentes e aprendizagem na matriz de experiência inclusiva –, os textos presentes na obra abrem ao leitor uma gama de possibilidades de questionamento, problematização, análise e criação. E essa possibilidade que se abre de criar a partir do que se lê, do que se discute, do que se pensa, do que se faz, é que torna a leitura destes textos fundamental. Trata-se de uma leitura que importa a todos que se ocupam de problematizar o que está posto e de qualificar os processos de ensino e aprendizagem na sua relação com o mote inicial deste livro: os processos de in/exclusão nas suas múltiplas dimensões e formas, abertos a novos pensares e novos fazeres, tão necessários e urgentes.

    Morgana Domênica Hattge

    Referências

    HATTGE, Morgana Domênica. A naturalização da escola e o processo de governamentalização do Estado. In: FABRIS, Elí T. Henn; KLEIN, Rejane Ramos (Orgs.). Inclusão e biopolítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 79-97.

    LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

    LOPES, Maura Corcini; FABRIS, Elí T. Henn. O GEPI e como nos tornamos o que somos. In: FABRIS, Elí T. Henn; KLEIN, Rejane Ramos (Orgs.). Inclusão e biopolítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 15-24.

    VEIGA-NETO, Alfredo. Espaços, tempos e disciplinas: as crianças ainda devem ir à escola? In: CANDAU, Vera Maria (Org.). Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 9-20.

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    INCLUSÃO: PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DOCENTE

    Maura Corcini Lopes

    INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA: Relações entre ensinar e aprender

    Deise Andréia Enzweiler

    PRÁTICAS DE IN/EXCLUSÃO NA PASSAGEM DOS ANOS INICIAIS PARA OS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    Rejane Ramos Klein

    PRÁTICAS IN/EXCLUSIVAS E OS MODOS DE SER PROFESSOR(A) NA CONTEMPORANEIDADE

    Sandra de Oliveira

    Viviane Inês Weschenfelder

    PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO NO IMPERATIVO INCLUSIVO

    Eliana Pereira de Menezes

    INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA ESCOLA BÁSICA: RESPEITO E TOLERÂNCIA PARA CONVIVER COM AS DIFERENÇAS

    Patrícia Gräff

    APRENDIZAJE PERMANENTE O EL GOBIERNO DE LOS ABYECTOS

    David Andrés Rubio-Gaviria

    APRENDIZAGEM A QUALQUER TEMPO E EM QUALQUER LUGAR

    Carine Bueira Loureiro

    INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR: subjetivação e governo das diferenças

    Adriana da Silva Thoma

    Graciele Marjana Kraemer

    CONCLUSÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA PENSAR INCLUSÃO E APRENDIZAGEM DE OUTROS MODOS...

    Rejane Ramos Klein

    Carine Bueira Loureiro

    SOBRE OS AUTORES

    INTRODUÇÃO

    INCLUSÃO: PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DOCENTE

    Em 2012, foi iniciada a pesquisa Inclusão: processos de subjetivação docente, financiada pelo CNPq – Edital Universal –, pelos pesquisadores do Grupo de Estudo e de Pesquisa em Inclusão (GEPI)¹, credenciado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e no CNPq. Tal pesquisa foi proposta a partir da necessidade de desdobrarmos dados obtidos em investigações anteriores, desenvolvidas no próprio grupo, tanto de forma coletiva quanto de forma individual. Após termos desenvolvido inúmeras investigações sobre políticas educacionais inclusivas, sentíamos a necessidade de conhecermos os efeitos de tais políticas nos professores atuantes em escolas públicas. Por isso, a pesquisa aqui anunciada investe na busca de processos de subjetivação docente, produzindo narrativas de professores atuantes em escolas públicas ou privadas brasileiras. Partimos da determinação de investigarmos tais processos em distintas capitais brasileiras, pois acreditávamos que diferentes regiões do Brasil eram interpeladas pelas políticas e pelos investimentos governamentais de distintas formas.

    As investigações sobre o tema da inclusão produzidas no grupo têm uma característica particular: são atravessadas e constituídas por uma leitura de caráter filosófico e social dos problemas educacionais. Devido a tais atravessamentos, com frequência, aproximamo-nos ou distinguimo-nos de outros grupos, não só da educação, como também das ciências sociais, que trabalham com os temas da inclusão e da exclusão social. Sem reduzirmos a problemática da inclusão aos problemas educacionais, interessa ao GEPI problematizar práticas engendradas em determinados regimes de verdades que exigem da educação a constituição de tipos específicos de sujeitos. Dito de outra forma, interessa realizar pesquisas que sejam capazes de expor as condições históricas que permitiram as práticas de educação inclusiva ou a própria emergência da inclusão como um tema de nosso tempo.

    Desafiados pelas investigações que circulam no campo da educação, os pesquisadores do GEPI interrogam-se sobre os efeitos da inclusão desde a sua emergência nas políticas educacionais brasileiras no ano de 2002². Inquieto com a hegemonia, às vezes festiva, dos discursos pró-inclusão, o GEPI passou a buscar por dissonâncias discursivas presentes nas políticas, mas principalmente nos saberes produzidos pelos professores em seus cotidianos escolares.

    Então, tendo passado mais de uma década das primeiras referências à palavra inclusão nas políticas educacionais brasileiras, e após inúmeros investimentos na formação de professores, entre outros realizados com recursos públicos, o GEPI questiona, entre outras coisas, os efeitos da inclusão sobre os professores. Ao partir da noção de que a inclusão se configura como um imperativo categórico para o Estado brasileiro, no início da investigação que origina este livro, tínhamos três hipóteses: 1ª) a de que a resistência à inclusão havia baixado; 2ª) a de que a inclusão havia invisibilizado a presença e a participação do aluno com deficiência na sala de aula; e 3ª) a de que os professores continuavam a opor-se à inclusão. As três hipóteses foram formuladas a partir do conjunto de pesquisas a que tínhamos acesso e que produzimos na primeira década e meia deste século. Com o andar de nossas análises das narrativas dos professores, percebemos que há um conjunto de práticas pedagógicas mobilizadas pela aprendizagem de qualquer um na escola. Estas não foram percebidas logo no início de nossos exercícios analíticos, talvez porque a atenção dos pesquisadores estava voltada para a busca da inclusão. Este último grupo analítico permitiu que acrescentássemos mais uma hipótese, além daquelas outras três já referidas anteriormente: a de que é possível trabalhar com qualquer outro, sem estar pautado ou ser determinado pelos discursos da inclusão.

    Com o anúncio das quatro hipóteses e do contexto de pesquisa de onde partimos, penso ser importante apresentar, mesmo que rapidamente aqui, a pesquisa que alimenta com seus dados os capítulos que compõem este livro.

    Das condições de produção da pesquisa às definições metodológicas

    A pesquisa que fornece materiais para a construção do presente livro tinha como objetivo conhecer, analisar e problematizar como as políticas e os saberes sobre a inclusão chegam aos docentes, capturando-os e fazendo-os operar sobre si mesmos e sobre os outros segundo a lógica da inclusão. Para tanto, esforços foram canalizados visando a contemplar variáveis determinantes das condições de pesquisa. Além das análises de políticas de inclusão, o grupo empreendeu energias na produção de narrativas com professores de distintas capitais brasileiras. A escolha dos professores para a produção de material deu-se respeitando alguns critérios: a) ser professor de escola básica pública ou privada; b) atuar, preferencialmente, nas capitais brasileiras; c) estar disponível para conversar sobre suas práticas pedagógicas. Não desejávamos conversar com eles sobre inclusão, embora quiséssemos perceber como discursos sobre a inclusão os haviam subjetivado. A dificuldade enfrentada na pesquisa era a de encontrarmos uma forma de nossos sujeitos de pesquisa falarem de si na relação com o outro, sem dirigirmos suas respostas. Nas primeiras narrativas produzidas, perguntávamos diretamente sobre as práticas de inclusão. As respostas não foram satisfatórias, pois os professores não se mostravam espontâneos na relação com a inclusão. Sabiam o que queríamos que dissessem e daí construíam suas narrativas. Ao percebermos tal condução, mudamos as estratégias metodológicas. Passamos, após uma breve apresentação dos pesquisadores que iriam coordenar a narrativa, a pedir que contassem uma experiência pedagógica. Os critérios para a escolha da experiência deviam ser do próprio professor.

    Além do modo como desencadeávamos a narrativa, interessa contar dois outros procedimentos: como chegamos aos professores e como conduzimos o trabalho. Chegávamos aos professores nas escolas por meio de colegas de outras universidades, que mediavam os contatos entre nós e nossos prováveis sujeitos de pesquisa. Com a mediação dos colegas, tínhamos a legitimação dos sujeitos para entrarmos e conversarmos com eles nas escolas. Embora em algumas instituições tenhamos sentido receio por parte dos professores em conversar conosco, fomos muito bem recebidos. Primeiramente, fazíamos um contato, agendávamos um dia para trabalharmos e deslocávamos, quando possível, em razão dos custos, dois pesquisadores para a capital onde deveria realizar-se a narrativa. Devido às dificuldades de agenda e de disponibilidade dos professores, quando chegamos às escolas, algumas vezes, aconteceu de, ao invés de haver de cinco a oito professores nos aguardando, conforme previamente acordado por telefone, tínhamos dois ou até um professor. A conversa ficava mais difícil quando tínhamos um professor apenas, porém, nunca desperdiçamos a possibilidade do contato e de sabermos o que tinham para nos contar. Em conversas com mais de três professores, um ia interpelando o outro, e os pesquisadores podiam acompanhar, reforçando as narrativas com pequenas sinalizações gestuais ou verbais. Os tempos de conversa eram variados; chegamos a ter quatro horas consecutivas de trabalho em um grupo de oito professores.

    Antes de iniciarem as narrativas, um dos pesquisadores presentes apresentava-se e dizia que nosso objetivo era conhecer um pouco das experiências pedagógicas dos professores e como elas eram vistas por eles próprios. Também pedíamos para contar mais sobre nossa pesquisa depois da produção de dados, pois, pela nossa experiência

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