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A Educação Infantil no Contexto das Avaliações Externas em Larga Escala
A Educação Infantil no Contexto das Avaliações Externas em Larga Escala
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A Educação Infantil no Contexto das Avaliações Externas em Larga Escala

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A partir da década de 90, a avaliação em larga escala vem se constituindo em um dos elementos estruturantes das políticas educacionais em curso no Brasil, apesar dos diferentes focos que pode ter em diferentes níveis de ensino. A educação infantil não faz parte diretamente desse contexto, pois essas avaliações não são aplicadas nessa faixa etária. No entanto essa etapa da educação básica não está isenta dessa lógica.

O livro A educação infantil no contexto das avaliações externas em larga escala pretende discutir a utilização dos Cadernos Pedagógicos para a pré-escola na rede pública municipal do Rio de Janeiro, no período de 2009 a 2016. Argumenta que tais cadernos visam preparar as crianças para as avaliações que farão ao longo de sua escolaridade, embora na educação infantil tais cadernos não apresentem explicitamente o caráter preparatório que apresentam no ensino fundamental.

A autora argumenta que a preocupação com o desempenho escolar futuro dos alunos da rede justifica a antecipação da aquisição do código escrito para a pré-escola. Estudos apontam que crianças pré-escolares possuem um melhor desenvolvimento intelectual e sociocomportamental do que crianças que não frequentaram a pré-escola. Porém defende que esse cenário empobrece o trabalho pedagógico realizado com essa faixa etária.

Esta obra destina-se a professores da educação básica e pesquisadores da área da Educação. Sua principal contribuição está no fato de colocar em discussão duas questões extremamente atuais e relevantes: a função da pré-escola e a concepção de alfabetização que orienta as políticas para a primeira infância nesta localidade.
LanguagePortuguês
Release dateFeb 1, 2018
ISBN9788547317997
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    A Educação Infantil no Contexto das Avaliações Externas em Larga Escala - Virgínia Louzada

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Para Regina Leite Garcia e a sua luta por uma escola pública de qualidade para as classes populares.

    AGRADECIMENTOS

    À professora Maria Teresa Esteban, pelo convívio, investimento, confiança e amizade.

    Aos professores/as Regina Leite Garcia (in memoriam), Andréa Fetzner, Jader Janer, Ivanildo Amaro e Cristiana Callai, pelas considerações fundamentais para este trabalho.

    Aos amigos e amigas da UFF (entre eles, Roberto Marques), pelos comentários generosos.

    À Stela Guedes Caputo, pela sua amizade.

    À Nilda Alves, pela sua acolhida.

    À minha mãe, Eula, pela vida.

    À minha filha, Sophie, por ter deixado o mundo melhor, desde que passou a existir.

    Ao contrário, as cem existem.

    A criança é feita de cem.

    A criança tem cem mãos

    Cem pensamentos

    Cem modos de pensar

    de jogar e de falar.

    Cem sempre cem modos de escutar

    as maravilhas de amar.

    Cem alegrias para cantar e compreender.

    Cem mundos para descobrir.

    Cem mundos para inventar.

    Cem mundos para sonhar.

    A criança tem cem linguagens

    (e depois cem cem cem)

    mas roubaram-lhe noventa e nove.

    A escola e a cultura

    lhe separaram a cabeça do corpo.

    Dizem-lhe:

    de pensar sem as mãos

    de fazer sem a cabeça

    de escutar e não falar

    de compreender sem alegrias

    de amar e maravilhar-se

    só na Páscoa e no Natal.

    Dizem-lhe:

    de descobrir o mundo que já existe

    de cem

    roubaram-lhe noventa e nove.

    Dizem-lhe:

    que o jogo e o trabalho

    a realidade e a fantasia

    a ciência e a imaginação

    o céu e a terra

    a razão e o sonho

    são coisas que não estão juntas.

    Dizem-lhe

    que as cem não existem

    A criança diz:

    ao contrário, as cem existem.

    Loris Malaguzzi

    APRESENTAÇÃO

    O objetivo desta obra é discutir a concepção de avaliação em pauta na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, a partir da implementação dos Cadernos Pedagógicos, produzidos pela mesma Secretaria, para a educação infantil, modalidade pré-escola, no período de 2009 a 2016. Para o desenvolvimento do trabalho foram adotadas as seguintes etapas metodológicas: a) revisão bibliográfica; b) pesquisa documental; e c) estudos de documentos.

    Embora não haja a atribuição de notas e conceitos na pré-escola, nessa localidade nota-se que a mesma lógica seletiva presente nas avaliações externas em larga escala, promovidas pela SME/Rio e pelo Governo Federal (por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep) nos demais anos de escolaridade, também está presente nessa etapa da educação básica.

    Essa lógica está alicerçada em uma perspectiva classificatória de avaliação, preocupada exclusivamente com o desempenho desses/as alunos/as nas referidas avaliações, em detrimento dos processos formativos. Nesse sentido, preocupa-se em antecipar a aquisição do código escrito para a pré-escola, uma vez que existem estudos que apontam ser importante que crianças frequentem a pré-escola para melhorar o desempenho escolar futuro.

    Referendar o trabalho pedagógico realizado na pré-escola a partir da lógica de preparação para o ensino fundamental empobrece e despotencializa esse trabalho. Isso porque o trabalho realizado com as diferentes linguagens deixa de ser valorizado para se investir unicamente na aquisição do código escrito, numa perspectiva restrita de alfabetização. Assim, a avaliação, em uma perspectiva classificatória, tem sido a ferramenta utilizada para legitimar a padronização, classificação e hierarquização das aprendizagens infantis.

    Espera-se que a denúncia desse atual contexto da educação infantil na rede pública municipal carioca possibilite à pré-escola ser entendida como uma etapa da educação básica com características próprias, ao invés de simplesmente ser encarada como o período preparatório para o ensino fundamental.

    A autora

    PREFÁCIO

    Abrir um livro, sempre um convite a uma experiência única, a diálogos férteis, a questionamentos, a aprendizagens. Ser convidada para abrir um livro fazendo o seu prefácio marca todas essas possibilidades com uma grande emoção.

    Emoção pode ser uma palavra interessante para dar início a esta conversa. Porque este é um livro sobre educação infantil, sobre avaliação, sobre os entrecruzamentos que se produzem entre esses dois processos, mas também é mais do que isso. É um trabalho de uma professora profundamente comprometida com a escola, com as crianças que vão à escola, com os projetos de educação que se abrem às classes populares, com a ação docente na realização desses projetos. Portanto é um texto que emerge de uma história cheia de emoção, a história do fazer/ser professora com as crianças nas escolas públicas de periferias urbanas do Rio de Janeiro. Um texto que tem emoção e emociona, porque é repleto de vida, expressão de uma experiência, partilha de reflexões que são sistematizadas em um determinado momento, mas se tecem ao longo de toda uma vida. Toda uma vida de professora.

    Assim, este é um livro que fala da escola, com a escola e para a escola. A escola de educação infantil comprometida com as crianças das classes populares. Desse lugar, opção consciente e explícita, o texto discute as políticas públicas para a escolarização da infância tomando como referência os cadernos pedagógicos produzidos para a educação infantil para investigar como os processos instaurados nessa etapa inicial da escolarização e da vida se relacionam com a avaliação externa em larga escala.

    A autora entrelaça tempos e lugares, documentos e memórias para apresentar uma reflexão consistente sobre as propostas hegemônicas no âmbito da educação infantil que contribui para a problematização do projeto de educação ainda predominante em nossas escolas, aliando-se aos movimentos de professores e pesquisadores que vêm, há décadas, formulando outros projetos mais vinculados às demandas e experiências infantis. Os diálogos que constituem o texto convidam a outros diálogos, evocam elementos importantes para a reflexão sobre o fazer cotidiano da escola e sobre sua articulação com as políticas instauradas.

    A mim, a obra traz permanentemente a interrogação sobre como olhamos para as infâncias, como pensamos sobre elas, o que queremos quando nos colocamos em relação com elas, na escola. Penso em quanto perdemos, adultos e crianças, professoras/es e estudantes, quando a sala de aula é reduzida a lugar de transmissão de informações e desenvolvimento de habilidades predefinidas e abandona o instigante desafio de coletivamente descobrir o mundo. Penso em tantas possibilidades que o diálogo e a parceria com as crianças e com os/as diversos/as profissionais com quem compartilhamos a escola nos oferecem.

    O livro expõe desafios aos que vivem a escola, aos que pensam a escola, aos que sabem da importância da escola. Desafios que se agigantam quando estamos falando das ações com as crianças pequenas.

    Como disse, grande é a minha emoção por apresentar este livro. Maior ainda por ser o primeiro de Virgínia, com quem partilho uma longa história de trabalho e de amizade. O texto confirma a qualidade e seriedade de seu trabalho.

    Fico por aqui, já que o melhor está por vir.

    Profª Drª Maria Teresa Esteban

    Professora Associada/UFF

    LISTA DE SIGLAS

    Sumário

    PRIMEIRA PARTE

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    CAPÍTULO 1

    Justificativa e relevância acadêmico-social deste projeto

    CAPÍTULO 2

    Percurso metodológico

    SEGUNDA PARTE

    AVALIAÇÃO: CONCEPÇÕES E CONTEXTOS

    CAPÍTULO 3

    Controle, regulação, eficiência e qualidade

    CAPÍTULO 4

    Parcerias e programas inseridos no contexto de avaliação/prestação de contas/responsabilização da educação municipal carioca

    CAPÍTULO 5

    E por falar em educação infantil...

    CAPÍTULO 6

    E por falar em alfabetização...

    TERCEIRA PARTE

    CADERNOS PEDAGÓGICOS PARA A PRÉ-ESCOLA

    CAPÍTULO 7

    Como estão organizados os cadernos pedagógicos para a pré-escola?

    CAPÍTULO 8

    Questões que os cadernos pedagógicos possibilitam discutir

    CAPÍTULO 9

    Desnaturalizando o padrão tido como universal, a partir dos estudos pós-coloniais

    CAPÍTULO 10

    O que os cadernos pedagógicos dizem sobre a avaliação da aprendizagem?

    QUARTA PARTE

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    Lista de páginas e sítios consultados

    PRIMEIRA PARTE

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Era um dia de maio de 2012. Havia sido convocada com as demais colegas da equipe da Gerência de Educação Infantil (GEI) da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro (SME∕Rio), da qual fazia parte, para visitar as escolas consideradas com baixo desempenho na Prova Alfabetiza Rio¹. Tarefa nada fácil, considerando o fato da rede municipal carioca ser uma das maiores redes pública de ensino da América do Sul. Escolas distribuídas em 10 CRE² e a necessidade imperativa de visitar imediatamente aquelas as quais a secretária havia sinalizado.

    Sim, essa orientação veio diretamente da secretária. Cláudia Costin foi nomeada secretária municipal de educação no início da primeira gestão de Eduardo Paes, em 2009. Em abril de 2014, Costin deixou o cargo para ocupar a posição de Diretora Global de Educação do Banco Mundial. Sua sucessora foi à professora Helena Bomeny, subsecretaria da gestão anterior.

    Retornando à época das visitas às escolas, recebemos um documento extenso (por volta de sete páginas), desenvolvido pela Coordenadoria de Educação da SME/Rio³ (CED), com a seguinte recomendação: para preenchê-lo, precisávamos visitar as turmas de pré-escola e verificar o ambiente alfabetizador (não apenas das salas de aula ocupadas por essas turmas, mas da escola como um todo) e conversar com as professoras⁴. No documento em questão havia perguntas relativas ao mobiliário, à organização espacial da sala e do trabalho pedagógico realizado com as crianças, assim como a utilização dos materiais pedagógicos disponíveis para o manuseio delas, planejamento e afins (inclusive sobre a utilização do material técnico-pedagógico idealizado pela SME/Rio).

    Preciso dizer que, no mínimo, considerava curioso o teor das visitas. A história trilhada pela educação infantil na rede estava mais próxima da valorização da educação infantil como uma etapa com especificidades próprias do que a concepção que visa preparar a criança para o ensino fundamental. Visitar a escola para averiguar se o trabalho pedagógico estava sendo o suficiente para preparar o terreno para a alfabetização era, sob meu ponto de vista, negar as conquistas feitas nesse sentido e as orientações dos próprios documentos oficiais sobre a primeira infância, como veremos adiante.

    Este trabalho pretende discutir a concepção de avaliação em pauta na SME/Rio para a pré-escola, a partir da implementação dos Cadernos Pedagógicos, produzidos pela mesma Secretaria. Esse material é produzido pela GEI, impresso pela Ediouro Gráfica e Editora LTDA e está organizado da seguinte forma: a) Almanaque de Férias⁵, que as crianças recebem ao final do ano letivo para fazer suas atividades em casa, no período de férias; b) Cadernos de Atividades, que são utilizados durante o ano letivo. Os cadernos pedagógicos são um material estruturado, elaborado e distribuído pela SME/Rio para todos os anos de escolaridade do ensino fundamental e também para a educação infantil, modalidade pré-escola, desde o início da gestão Paes/Costin. No ensino fundamental, os cadernos de apoio pedagógico visam preparar as crianças para as Avaliações Bimestrais da Rede.

    Os cadernos pedagógicos começaram a ser utilizados na pré-escola da rede pública municipal carioca a partir de 2012⁶. Na educação infantil não apresentam explicitamente o caráter preparatório que apresentam no ensino fundamental, uma vez que não há provas externas padronizadas para essa faixa etária. Suas atividades estão direcionadas para a aquisição do código escrito, pois intencionam oferecer a sistematização de um trabalho com a leitura e a escrita na educação infantil, com diferentes gêneros textuais e atividades a partir da consciência fonológica. Além dos cadernos pedagógicos, a equipe de educação infantil da SME∕Rio também produziu nesse período os seguintes materiais para orientar o trabalho pedagógico realizado na rede: a) Em 2010, as Orientações Curriculares para a Educação Infantil – OCEI; b) Em 2011, o caderno Planejamento na Educação Infantil; c) Em 2013, as Orientações ao professor de Pré-escola I e II: Cadernos de Atividades da Criança, o caderno Avaliação na Educação Infantil e as Orientações para a organização da sala na educação infantil: ambiente para a criança criar, mexer, interagir e aprender.

    Trabalhei como professora da rede municipal do Rio de Janeiro nos anos iniciais do ensino fundamental entre 1994 e 2013. Durante 12 anos atuei como professora regente em turmas de pré-escola ao 5º ano. Após esse momento, trabalhei na equipe responsável pela formação continuada em serviço dos∕as professores∕as alfabetizadores∕as da 3ª CRE. Em janeiro de 2010 aceitei o convite para integrar a equipe de Educação Infantil da SME/Rio, gerência responsável pela implementação das políticas pensadas para a primeira infância da rede e também responsável pelo acompanhamento do trabalho pedagógico realizado pelas escolas, creches e Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI) e pela formação continuada em serviço de professores/as e agentes auxiliares de creche. Trabalhei na rede pública carioca até a minha exoneração, em abril de 2013, por ter sido aprovada em concurso público para ser professora do ensino básico, técnico e tecnológico/1º segmento, no Instituto Benjamin Constant, instituição que trabalha com pessoas cegas e de baixa visão.

    Minha trajetória profissional se confunde com a minha trajetória acadêmica, sendo impossível dissociá-las. Iniciei o curso de Pedagogia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 1993; portanto a maior parte dele foi realizada concomitantemente com a minha atuação profissional na Prefeitura do Rio de Janeiro. Conclui a graduação e fiz duas Pós-Graduações Lato Sensu na busca de tentar compreender o complexo cotidiano escolar que eu encontrava e buscar elementos para o trabalho pedagógico que eu realizava. O segundo curso, Alfabetização das crianças das classes populares, organizado e ministrado pelo Grupalfa, na UFF, possibilitou o encontro com a Profª Drª Maria Teresa Esteban e a minha participação do grupo de pesquisa coordenado por ela: A reconstrução do saber docente sobre avaliação: desafios e possibilidades da escola organizada em ciclos. Uma das questões discutidas no grupo me incentivou a fazer inscrição no processo seletivo para o mestrado, iniciado em 2004. Conclui o curso em 2006, com uma dissertação orientada pela Profª Teresa, que tinha como proposta discutir o 1º Ciclo de

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