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Antropologia Digital e Experiências Virtuais do Museu de Favela
Antropologia Digital e Experiências Virtuais do Museu de Favela
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Antropologia Digital e Experiências Virtuais do Museu de Favela

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Antropologia digital e experiências virtuais do Museu de Favela analisa os usos de redes sociais por jovens das favelas do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho no Rio de Janeiro, e documenta o processo de criação de plataformas digitais para o Museu de Favela na mesma comunidade.

A base teórica é da antropologia, especialmente a subdisciplina da antropologia digital de tradição inglesa. Recorrendo à abordagem etnográfica, o livro investiga as vozes polifônicas dos atores locais ao partilhar do legado e patrimônio das memórias sociais comunitárias.

A hipótese que fundamenta a pesquisa é de que o mundo on-line é campo de mediação tão autêntico com o offl-ine, com todas as suas contradições. Assim, muitas marcas sócio-históricas das experiências de sociabilidade, do modo de relação com a política, das expressões espirituais e da cultura do lúdico nas favelas aparecem nas redes sociais como retenções precedentes, embora novos sentidos e experiências se multipliquem.
LanguagePortuguês
Release dateNov 10, 2017
ISBN9788547308117
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    Antropologia Digital e Experiências Virtuais do Museu de Favela - Mônica Machado Cardoso

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    À minha mãe, Cecília,

    pela inspiração na vocação acadêmica.

    Aos meus filhos – Thiago, Gabriela e Júlia –,

    pela parceria e cumplicidade na aventura de viver

    um ano na divisão entre o Rio e Londres.

    Ao Paulo,

    por seu amor e apoio incondicional a este projeto.

    E a toda a comunidade do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho,

    pela carinhosa acolhida.

    AGRADECIMENTOS

    Este livro é a síntese de dois momentos relevantes da minha trajetória acadêmica. Relata a experiência de compartilhar as políticas de comunicação do Museu de Favela no Cantagalo, Pavão, Pavãozinho no Rio de Janeiro e também incorpora as reflexões teóricas que me inspiraram durante meu pós-doutorado na University College London, de agosto de 2014 até julho de 2015.

    Agradeço, em primeiro lugar, aos gestores do Museu de Favela pela oportunidade de trabalhar durante quase cinco anos em parceria com eles – no ano de 2012 como docente do projeto de Comunicação Solidária do programa Rio Geração Consciente, e nos anos seguintes por meio da parceria entre o Museu de Favela e o Laboratório Universitário de Publicidade Aplicada (Lupa-ECO/UFRJ), onde sou uma das coordenadoras. Sinto-me grata à diretora-presidente do MUF, Antônia Soares, pela generosidade de me acolher e pela confiança depositada em nosso trabalho e por seu relato afetivo para a capa do livro. Em destaque, à sócia-fundadora Rita de Cássia, pela crença no trabalho, pelas longas conversas que tivemos sobre a cultura local, os desafios do MUF e por ter me presenteado com a apresentação do livro. Ao sócio-fundador Sidney Tartaruga, pelas conversas animadas sobre a vida na favela e por compartilhar comigo suas ideias criativas para gestão do MUF. A sócia-fundadora Kátia Loureiro, que gentilmente nos acolheu durante dois anos no museu e esteve sempre a nosso lado na criação da proposta da revista digital do Museu de Favela; e ao professor Mário Chagas, por sua solidariedade, seu compartilhamento do saber e legado museológico e pelo apoio para continuidade de nossa parceria. Um agradecimento mais do que especial a minha querida amiga Valquíria, Kirinha, que me acolheu no MUF com muito carinho quando era coordenadora local do curso Rio Geração Consciente em 2012 e me recebeu por 10 meses como docente na Base 1 do Museu de Favela. E a Raphaela Feliciano, pelo apoio e pela confiança, e que durante a maior parte do período em que convivemos no MUF respondia pela coordenação de comunicação social. E a Fabiana e Rita Chagas, por toda solidariedade e por todo o entusiasmo com que elas colaboraram com nosso trabalho. E ainda ao Sr. João, por sempre ser solicito quando precisamos de seu apoio administrativo.

    Eu não teria tido a oportunidade de ampliar minha interação no Museu de Favela sem o engajamento da nossa equipe do Lupa-ECO-UFRJ. Por isso, a acolhida do projeto pelas outras duas coordenadoras, Marta Pinheiro e Beatriz Lagoa, foi de suma importância. Desde o primeiro momento, elas mostram-se entusiasmadas com a proposta do Museu de Favela e foram coautoras das produções midiáticas que lá fizemos. Agradeço muito a nossos bolsistas durante os anos de 2013 e 2014, pelo comprometimento e pela dedicação aos projetos que realizamos no Museu de Favela e que estão relatados aqui. Em especial, a Bernardo Moraes, Amanda Déa, Rodrigo Moreno e à participação voluntária de Júlia Couto. O engajamento voluntário de Isis Reis deve ser destacado, pois já não era mais bolsista do Lupa quando realizamos o projeto de programação do hostsite, e como expert em desenvolvimento de plataformas digitais adotou a proposta de programação do novo site do Museu de Favela como seu trabalho final de conclusão de curso. O lindo resultado dessa experiência pode ser consultado em: .

    O debate teórico deste livro está fundamentado na antropologia digital e nas trocas com os pesquisadores do projeto The Global Social Media Impact do departamento de Antropologia da University College London. Agradeço à Capes a concessão de uma bolsa de pós-doutorado para minha pesquisa na Inglaterra e à Escola de Comunicação da UFRJ por ter me concedido um ano de afastamento para o pós-doutorado. Agradeço muito a meu supervisor do pós-doutorado, Prof. Daniel Miller, por sua leitura atenta do texto e suas fundamentais contribuições, pela minha acolhida em sua equipe durante o ano que vivi em Londres e pela generosidade de escrever o prefácio desta obra. Do seu grupo de trabalho, as ricas trocas com Juliano Spyer, Elisa, Jo, Tom, Shriram, Rasvam e Ambar – representando pesquisas etnográficas de Brasil, Turquia, Trinidad, China, Índia e Itália – foram colaborações preciosas para elaborar ideias que divido aqui e para ampliar minha visão de como as mídias sociais podem ter usos locais em cada contexto cultural específico.

    A amizade e a parceria de Ilana Strozenberg, que compartilha da minha vida acadêmica desde o início, foi fundamental nesse percurso, em especial na acolhida do meu projeto no Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ.

    Sou grata à amiga Beatriz Becker, por todo seu incentivo e a partilha da experiência de viver em Londres, no mesmo período, quando também fazia seu pós-doutorado. Agradeço à minha analista, Paulete Frajhof, por sua escuta atenta e a presença firme durante toda a travessia desse período. E, ainda, aos meus irmãos, Marcelo e Maura, pelas alegrias e aflições compartilhadas no caminho.

    Minha gratidão ainda a todos os estudantes do projeto Rio Geração Consciente das favelas do Cantagalo, Pavão, Pavãozinho, do Observatório de Favelas da Maré e da Casa Viva Redeccap em Manguinhos, por compartilharem comigo de suas visões de mundo sobre a vida social e experiências de consumo e cidadania. Agradeço a disponibilidade e o tempo dedicado de todos os jovens interlocutores das favelas do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho que, embora tenham tido seus nomes preservados, como é tradicional na investigação antropológica, têm as marcas de suas histórias nos relatos e depoimentos. Sem esses rastros de memórias este livro não seria possível.

    A autora

    APRESENTAÇÃO

    O trabalho desenvolvido pela professora e pesquisadora Mônica Machado e sua equipe do Lupa ECO/UFRJ foi um divisor de águas para que o Museu de Favela (MUF) pudesse desenvolver técnicas de comunicação e acessibilidade com o público interno da comunidade e externo, de modo a facilitar o entendimento de nossas ações e atrair um número maior de pessoas para nossos eventos. No MUF elaboramos coletivamente as quatro edições das revistas digitais, o hotsite, a nova página do Facebook do Museu e demos um upgrade no site da organização. Agora o leitor encontra ali as informações necessárias para se conectar com nossas propostas num site mais atraente e interativo. Tudo feito coletivamente e ouvindo sempre as opiniões da comunidade por meio de pesquisa. Uma parceria que deu certo e feita a partir de uma relação de muito respeito entre as duas instituições, construindo junto, e não fazendo uma para a outra.

    A cultura popular e a academia, quando somam forças, conseguem atingir um patamar mágico e grandioso, quando o foco é levar e trazer conhecimento, diminuindo as fronteiras entre asfalto e favela. O resultado dessa longa parceria vem trazendo excelentes resultados, e o legado maior é a criação deste livro, que conta um pouco e o muito dessa história. Livro que agora chega a suas mãos, dá asas a sua imaginação, e espero que entre e fique em seu coração por um bom tempo.

    Essa parceria certamente não acaba com este livro: é apenas o recomeço de outras histórias que pretendemos construir e narrar juntas para o nascimento de muitas outras edições – uma rua de mão dupla – num vai e vem de ótimas ideias, inovações pela valorização das memórias individuais e coletivas das favelas do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho.

    Como o MUF vem inspirando outros territórios, outros estados, também nós nos inspiramos nessa galera linda de outros pontos de memória espalhados por este imenso Brasil, que tem feito tanta coisa legal. E também nos inspiramos em você, Mônica, por sua dedicação, por sua ética profissional, e por isso lhe convidamos para que fizesse parte do nosso Conselho, tamanha importância de sua opinião para o nosso trabalho. Hoje, mais do que a professora, Mônica tornou-se uma amiga e conselheira do Museu de Favela, e agora a escritora que multiplica suas experiências pessoais e profissionais com o MUF, fortalecendo relações de afeto e troca, que são fundamentais para a valorização e promoção do outro, no exercício da cidadania plena e justa. Sabemos que é assim que deve ser sempre.

    Por tudo isso a parabenizo e agradeço por compartilhar com a gente este filho (livro) que é seu, mas que lhe peço licença para dividir com a equipe do Museu de Favela, tendo a responsabilidade de cuidar dele como parte de nós – resultado dessa parceria que ainda vai render muitos bons frutos. Contamos contigo, sua equipe e seus alunos nessa jornada fantástica.

    Abraços e parabéns!

    Da sua amiga, Rita Santos

    Sócia-fundadora do Museu de Favela

    PREFÁCIO

    Sharing Culture

    Um bom livro é aquele que nos enche de fascinantes insights sobre os temas da pesquisa, mas igualmente aquele que nos mostra como os tópicos que interessam têm significado para muitos questionamentos científicos. Este trabalho é bem-sucedido nos dois aspectos. É uma rica documentação de pesquisa sobre uma favela em particular, um museu singular e o crescimento da mídia social nesse espaço. Ao mesmo tempo é uma reflexão que alarga os horizontes conceituais sobre as novas formas de expressão que facilitem a nossa capacidade de compartilhar a cultura, podendo funcionar particularmente bem em relação a determinadas sociedades ou situações sociais.

    A razão para esse duplo sucesso é porque a perspectiva dessa pesquisa está fundada na antropologia comparativa. Se sua orientação conceitual fosse apenas sobre a mídia social ou exclusivamente sobre o Museu de Favela ou ainda sobre o ativismo político, nós só poderíamos fazer suposições sobre os temas em específico. Mas sua riqueza e profundidade está em sua análise na triangulação desses fenômenos, onde nascem os argumentos. Nesse caso há mais um ponto específico. O que é especial sobre a correlação entre o museu e a mídia social é que ela expande os signos da comunicação visual mais do que a tradicional cultura oral ou textual de comunicação. Ao escrever este prefácio eu tenho a sorte de poder ver este livro em uma perspectiva comparativa mais profunda e o potencial de seus insights e conclusões. Nós estamos completando um projeto que está sendo publicado como Why we post (O que postamos). Isso inclui um livro também sobre o Brasil, embora o trabalho de campo tenha sido na Bahia, e se chama Social Media e Emergent Class in Brazil (Mídias sociais e classes emergentes no Brasil), de Juliano Spyer. Como resultado nós podemos ver como o estudo de Machado sobre a favela mantém íntima relação com esse projeto, especialmente porque o livro de Spyer é um dos nove livros em que é possível comparar o de Machado, uma produção acadêmica que eu acompanhei na Inglaterra. Então, nós agora temos três níveis. O que o trabalho de Machado nos diz sobre a experiência cultural da favela? O que nos diz sobre o Brasil? Finalmente, o que nos diz sobre a relação entre a museologia social e as experiências da social mídia em nível global?

    Mesmo antes do desenvolvimento desses estudos poderíamos sugerir, por exemplo, que a cultura de compartilhamento por meio da história oral tem mais tradição nas classes populares da sociedade brasileira do que na experiência cultural na Inglaterra. Na Inglaterra não temos as mesmas tradições da cultura pública ao ar livre que encontramos no Brasil. Assim, esses fenômenos nos levam a uma pergunta sobre o desenvolvimento do compartilhamento visual. Seria aceitável concluir que em locais como o Brasil, com essas tradições anteriores, a cultura do compartilhamento digital se desenvolve mais rápido do que na Inglaterra? Com base nos trabalho de Machado e Spyer, podemos ver que este é de fato o caso. Observemos de outra perspectiva: a ênfase nos signos visuais digitais na comunicação de um museu social pode ser especialmente útil para as classes emergentes no Brasil, onde as expressões icônicas estão fortemente na base da cultura; no entanto o tema não vai ser tão relevante para a Inglaterra. O que a abordagem comparativa nos faz afirmar aqui é que as mídias sociais têm sentidos eminentemente locais. Há outros elementos no livro de Machado que são singulares de sua reflexão. Por exemplo, a direta comparação entre o impacto da mídia social e o projeto de um museu não é algo que eu conheça de outros estudos. Também há muito a ganhar, considerando os vários gêneros de partilha que emergem deste trabalho. Em certo sentido, poderíamos considerar a partilha da espiritualidade promovida no Brasil pelo aumento de igrejas evangélicas como o oposto do compartilhamento digital da linguagem do humor e piadas, uma vez que as instituições religiosas tendem a ser instituições formais. Mas neste livro podemos ver que o modo de expressão da religiosidade se faz muitas vezes em conjunto com a retórica do humor na narrativa digital. Assim como outros gêneros que são distintos de ambos, como o ativismo político, associa-se a estes e vai se desenhando e crescendo cada vez mais como um ativismo digital.

    Há ainda outro tipo de comparação que pode ser vista como extremamente valiosa na elaboração deste projeto, que é baseada em uma estratégia de investigação ampla. Muitas das descobertas mais interessantes vêm do trabalho de campo da pesquisa e são apresentados decorrentes de um survey. Mas, muitas vezes, tal trabalho de pesquisa é difícil de interpretar fora de contexto. Nesse caso também vemos o trabalho etnográfico e um relacionamento sustentado por um longo período, que é o que nos dá confiança na interpretação dos achados mais quantitativos, à luz do presente compromisso qualitativo mais amplo e profundo. Eu suponho que todos esses achados conseguem ilustrar meu ponto inicial: como é possível leituras da sociedade brasileira por meio dos usos sociais das mídias digitais. E no caso específico, como imaginar a favela mediante os usos sociais que seus moradores fazem das plataformas e redes digitais. Assim, qualquer pessoa interessada nas favelas do Rio de Janeiro, em seu desenvolvimento atual, deve ler este livro. Mas seria mais importante enfatizar a sua contribuição ampliada para os estudos sobre mídia social, os museus, sobre o Brasil e as ciências sociais em geral.

    Prof. Ph. D Daniel Miller

    Anthropology Institute – Department of Material Culture

    University College London – UCL – UK

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    ativação digital e o Museu de Favela

    1 - ANTROPOLOGIA DIGITAL, CULTURA MATERIAL E MUSEOLOGIA SOCIAL

    1.1 DELIMITANDO O CAMPO DA ANTROPOLOGIA DIGITAL

    1.2 CULTURA MATERIAL NA TRADIÇÃO ANTROPOLÓGICA

    1.3 REFLETINDO SOBRE O CONCEITO DE CULTURA MATERIAL E MUSEOLOGIA SOCIAL

    2 - CIRCUITOS HISTÓRICOS E O CONSUMO DIGITAL NO PAVÃO, PAVÃOZINHO E CANTAGALO

    2.1 A FAVELA DO CANTAGALO, PAVÃO E PAVÃOZINHO

    2.2 ATIVAÇÃO DIGITAL NAS FAVELAS E A EXPERIÊNCIA NO CANTAGALO, PAVÃO E PAVÃOZINHO

    3 - REAFIRMAR O ESTAR LÁ ESTIMULANDO AS VOZES POLIFÔNICAS: A EXPERIÊNCIA DO ENGAJAMENTO DIGITAL NO MUSEU DE FAVELA NO CANTAGALO, PAVÃO, PAVÃOZINHO

    3.1 REFLEXÕES SOBRE O PERCURSO ETNOGRÁFICO DESTE ESTUDO

    3.2 O CONCEITO DO MUSEU DE FAVELA NO CANTAGALO, PAVÃO, PAVÃOZINHO

    3.3 RELATO DA EXPERIÊNCIA DE AMPLIAÇÃO DA COMUNICAÇÃO DIGITAL DO MUSEU DE FAVELA

    3.4 A CRIAÇÃO DO HOTSITE DO MUSEU DE FAVELA TOUR

    4 - TROCAS DIGITAIS: estreitando as relações de sociabilidade

    5 - MOBILIZAÇÕES, ATIVISMOS, PARTICIPAÇÕES: as mídias digitais como locus das vozes multissituadas

    6 - O DIÁLOGO COM O OUTRO MUNDO: a forte presença da espiritualidade nas narrativas digitais na favela

    7 - COMPARTILHANDO O SENSO DE HUMOR E A CULTURA DO ENTRETENIMENTO

    8 - PENSANDO SOBRE O CONCEITO DE POLYMEDIA PARA POTENCIALIZAR A COMUNICAÇÃO DO MUSEU DE FAVELA

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    experiências digitais e gêneros culturais da vida nas favelas cariocas

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    ativação digital e o Museu de Favela

    Este livro divulga e analisa as experiências de ativação digital do Museu de Favela do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, Rio de Janeiro, com a consequente reflexão sobre os hábitos de uso das mídias sociais dos moradores, especialmente os jovens dessa comunidade. A proposta é discutir como as mídias sociais nas favelas ao mesmo tempo dialogam com os valores tradicionais enquanto espalham novas linguagens e dinamicamente reescrevem as relações culturais locais. Quanto aos usos das redes sociais, o foco é especialmente o Facebook, o WhatsApp e as cosmologias culturais desses usos.

    As imaginações sociais sobre as favelas cariocas são plurais, dialogam entre registros dos nativos documentados historicamente na cultura antropológica, nas traduções jornalísticas e cinematográficas e são cada vez mais retratadas nas experiências de autorrepresentação dos moradores locais. Essas interpretações, ricas e complexas, vão produzindo um sentido de escritura cultural que os diálogos em disputa projetam.

    Os discursos autorais dos moradores aparecem no movimento de criação do Museu de Favela ou no Museu da Maré, no projeto Viva Favela com o blog Favela 2.0, nos diversos projetos do Observatório de Favelas, no filme 5 X Favela: Agora por Nós Mesmos, na coleção literária Tramas Urbanas, na emergência do festival Flupp e em muitas outras experiências recentes. Em todos os casos, a ampliação das vozes das favelas ganha novos contornos com traços culturais cada vez mais expressivos dos protagonistas comunitários, demandas mais sustentadas e pautas plurais que incluem desde as reivindicações por qualidade de bens e serviços públicos, ampliação das lutas por reconhecimento social, de laços afetivos com toda a cidade, direitos a espaços de mídia para multiplicar mais a interação social. E é nesse contexto que fervilham os debates sobre o lugar das cidades, da periferia, dos atores sociais populares, dos questionamentos sobre os processos midiáticos e o crescimento da ativação digital. Portanto, as novas tecnologias digitais chegam às periferias nesse ambiente de ebulição criativa e são rápida e criativamente incorporadas como veículos de mediação dessa efervescência: os telefones celulares smartphones são meios para performances, instalações, produções colaborativas, como recursos para ocupação simbólica da cidade. Especialmente os jovens vão, por meio de diversos meios – arte de rua, intervenções, danças, flashmobs e do celular –, fazendo circular formas e práticas interativas nas praças, nas ruas, nos espaços públicos. E também no modo de apropriação criativa das mídias sociais. Assim, as histórias vão sendo narradas, tecidas e reescritas, enriquecendo os debates sobre direitos sociais dos moradores das periferias, sobre conflitos e sonhos de uma vida digna e de oportunidades.

    O crescimento da frequência de uso de telefones celulares e das plataformas de mídia sociais converge também com o desejo de inclusão cultural das populações que estavam fora do circuito dominante, sem acesso de qualidade aos conteúdos partilhados pelas novas mídias. Do ponto de vista econômico, as classes populares, dadas as políticas de transferência de renda, foram recentemente incorporadas mais expressivamente no mundo do consumo, antes da atual crise. As políticas governamentais de ampliação de crédito para compra de produtos e serviços e a redução de

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