Brincar e Aprender: Dimensões Indissociáveis no Desenvolvimento da Criança
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A escola como ambiente de aprendizagem não pode deixar o brincar em segundo plano, para momentos de descanso ou como premiação. Ao contrário, o brincar, por sua inerência na vida da criança, deve ser a diretriz curricular e estar presente em todos os momentos.
O estudo realizado em uma creche pública constatou que, mesmo com uma proposta de educação integral, com um ambiente aconchegante, que convida para o brincar, ainda existe uma barreira que impede a sua efetivação na prática, pois os horários destinados a essas atividades são mínimos e orquestrados, não possibilitando à criança a escolha sobre o que, como e em que tempo pode brincar; tudo é preparado e direcionado pelo adulto.
A análise aponta para um contexto educacional complexo, com práticas autoritárias e dicotomizadas, envoltas em um cenário aparentemente lúdico.
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Book preview
Brincar e Aprender - Adelaide Joia.
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
À Cecilia, luz da minha vida, cujo sorriso me encanta,
fortalece e estimula a lutar pela infância, incentivo maior não há.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor doutor Antonio Chizzotti, que me acolheu e incentivou. Minha admiração por seu compromisso com a educação.
Aos meus pais (in memoriam), que com simplicidade e determinação, conseguiram me proporcionar, em momentos tão difíceis, a oportunidade de estudar. Eterna gratidão.
Aos meus filhos, Abdeir e Luana – muito em breve professores como eu –, que sem perder a ternura lutam por seus ideais. Obrigada pelo incentivo. Muito orgulho.
Ao Airton, companheiro e incentivador, com quem compartilho, há muitos anos, alegrias, sonhos e desafios. Obrigada pelo apoio de sempre.
À professora doutora Maria Ângela Barbato, incansável na luta pelo direito à infância. Obrigada pelo apoio e por prefaciar este livro.
À professora doutora Eliane Bruno (in memoriam), que tive a honra de conhecer durante minha trajetória e que tanto me ajudou. Muito obrigada pela disponibilidade, atenção e sugestões.
À querida amiga, professora Angélica, companheira que tanto admiro. Grata para sempre por nossas conversas e pelas dicas preciosas.
À Cidinha, amiga querida e sempre presente, com quem compartilhei angústias, dúvidas e decisões. Minha grande e eterna admiração pelo apoio e companheirismo.
Às parceiras da Secretaria de Educação de Franco da Rocha, sem nominar para não correr o risco de esquecer alguém. Muito obrigada pelo apoio e trocas.
Ao contrário, as cem existem (Loris Malaguzzi)
A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre cem
modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir.
Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens
(e depois cem cem cem)
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem as mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
de descobrir o mundo que já existe
e de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe:
que as cem não existem
A criança diz:
ao contrário, as cem existem.
Apresentação
As discussões, pesquisas e produções acadêmicas acerca da infância no Brasil ocorridas nas últimas décadas contribuíram para uma série de avanços e conquistas no âmbito das políticas públicas para a primeira infância, tanto no campo da proteção integral e especial, quanto no da educação, haja vista que a creche e a pré-escola, passaram a compor a educação infantil e esta a primeira etapa da educação básica. Nessa configuração, a creche passa a ser, pelo menos do ponto de vista legal, um espaço institucional de direito integral das crianças pequenas¹.
Todavia ainda há muito por se fazer para que, de fato, tal direito seja assegurado, especialmente no que tange à faixa etária de 0 a 3 anos. No que se refere à oferta de vagas, não obstante a meta constante no Plano Nacional de Educação² (Lei 13.005/ 2014) seja atender 50% das crianças até o final da vigência, em 2015, conforme dados do observatório³ do PNE, o Brasil atingiu a marca de 30,4%. Não é pouco, entretanto, os dados revelam que as famílias com níveis econômicos mais elevados apresentaram maior porcentagem de acesso, enquanto que o acesso das crianças provenientes de famílias mais pobres é inferior, atingindo a marca de apenas 21,9% das matrículas. Para alcançar 50% de cobertura será necessário criar cerca de dois milhões de novas vagas no País, lembrando que os municípios mais pobres têm mais dificuldade em ampliar o acesso.
Para além das questões quantitativas, faz-se necessário e urgente cumprir as metas referentes à qualidade da educação infantil.
Em meio a avanços, propostas e desafios, a educação da criança pequena continua sendo objeto de inúmeros e intensos debates na área. Nos dias atuais, além das vozes femininas – das mães trabalhadoras – gritarem pelo direito à creche para seus filhos, estudos da Psicologia, da Pedagogia, da Neurociência entre outros, corroboram com a causa apontando que os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento do ser humano e que, portanto, garantir os cuidados e a educação das crianças nessa peculiar fase de desenvolvimento deve ser uma obrigação do Estado, da família e da sociedade.
Na literatura, encontram-se argumentos enfatizando que educar crianças pequenas não significa escolarizá-las, ao contrário, que o papel da educação infantil é garantir os direitos integrais das crianças, ou seja, o respeito, o cuidado, a educação, a proteção, a afetividade, as interações, as brincadeiras, considerando-se as diferentes linguagens, especialmente o corpo e o movimento.
Especificamente sobre o brincar, inúmeros autores enfatizam a sua importância no processo educacional das crianças, tais como Vygotsky (1988), Moyles (2002), Kishimoto (2007), Brougère (2008), Carneiro e Dodge (2007), Sonia Kramer (2007), Friedmann (2013), entre outros.
Não obstante o aporte teórico apontar para uma educação infantil integral, observa-se que o tripé – ludicidade, afetividade e cuidado – tem ocasionado grandes descompassos entre as propostas pedagógicas e as práticas vigentes.
Assim sendo, entre tantas questões relacionadas ao atendimento às crianças pequenas, chamou-me a atenção o currículo e as práticas pedagógicas desenvolvidas na educação infantil. Que concepções de atendimento estão presentes nas creches públicas? Qual lugar a ludicidade ocupa nesses espaços? E quais as contradições existentes entre as teorias e as práticas pedagógicas?
A sistematização do estudo possibilitou a organização deste livro da seguinte forma: o capítulo 1 apresenta e discute a literatura e a legislação que versa sobre a educação infantil, especialmente sobre a creche e as especificidades das crianças pequenas; o capítulo 2 traz uma discussão acerca das brincadeiras na vida das crianças e, portanto, a sua importância nas instituições de ensino; o capítulo 3 versa sobre o estudo de caso; o capítulo 4 apresenta os dados coletados, os resultados e faz a análise dos dados, e por fim, a conclusão revisa a importância do brincar, resume os principais conteúdos e tece novas considerações.
PREFÁCIO
Quem não se lembra dos tempos de criança, no fim da tarde, na rua, o burburinho dos pequenos com suas brincadeiras, os quintais com os amigos e os familiares, e até mesmo o encantamento dos recreios das escolas? Era uma alegria, uma grande felicidade.
Até mesmo o balançar da mãe com seus filhos nos braços, acalentando-os com uma cantiga de ninar, era uma brincadeira.
Há uma grande polêmica em torno do conceito do que é ou não brincar. Na tentativa de definir melhor o termo, autores das diferentes áreas do conhecimento acabaram por classificá-lo sem, porém, identificar de maneira clara a barreira tênue existente entre a atividade lúdica e o trabalho.
Brincar afasta-se da vida corrente não só pela sua duração, mas principalmente pela sua liberdade e pelo prazer. Para a criança, o brincar é a própria vida, um momento mágico em que passa do real para o imaginário, do espontâneo para o simbólico, do atual para o passado ou para o futuro.
Existem na língua portuguesa dois vocábulos que designam tal ação, jogo e brincadeira, e, em geral, são usados como sinônimos. Porém existe entre eles uma diferença, por vezes tênue, uma vez que jogo acaba sendo o termo universalmente aceito para designar a atividade lúdica. O primeiro, advindo do latim jócu, jocari, indica os jogos de regras, os ritos religiosos, as atividades físicas e os jogos de azar. Já o segundo advém da palavra vínculum, isto é, laço, apontando, geralmente, para a