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Formação de Professores e Condições de Trabalho em Classes Multisseriadas
Formação de Professores e Condições de Trabalho em Classes Multisseriadas
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Formação de Professores e Condições de Trabalho em Classes Multisseriadas

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A composição de Formação de professores e condições de trabalho em classes multisseriadas é resultado de um esforço do pesquisador em apresentar uma análise crítica sobre as condições em que a educação rural continua existindo e as possibilidades da emergência e consolidação da Educação do Campo, que se faz e refaz na luta concreta dos milhares de trabalhadores rurais pelo direito ao trabalho, à terra e à educação. A luta pelo direito à Educação e à Reforma Agrária se alimenta do desejo de transformar o campo como lugar do atrasado ou do altamente tecnologizado, voltado para o agronegócio, que expulsa homens e mulheres para um território camponês que seja capaz de produzir a vida a partir de novas relações entre homem/natureza.



Prof.ª Dr.ª Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus

Universidade Federal de Sergipe – UFS
LanguagePortuguês
Release dateSep 20, 2018
ISBN9788547316242
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    Formação de Professores e Condições de Trabalho em Classes Multisseriadas - Jânio Ribeiro dos Santos

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    À professora Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus, pelo carinho, pela paciência, pela humildade, pela valiosa orientação na pesquisa e, sobretudo, pelo exemplo profissional e de vida.

    À minha mãe, Maria Ribeiro dos Santos (in memoriam),

    pelo amor, dedicação e luta incomensurável

    para que eu pudesse prosseguir nos estudos.

    Aos trabalhadores do campo, em geral, e,

    de modo especial, aos professores e demais trabalhadores que atuam nas escolas com classes multisseriadas no campo.

    PREFÁCIO

    A reflexão de quem viveu no meio rural brasileiro, sofrendo as consequências de um modelo de desenvolvimento econômico excludente, entrelaça-se com a necessidade de denúncia e de busca de transformação a partir do que se tornou mais cara a sua vida: a educação, ser professor de escolas rurais e pesquisador da área.

    A composição deste livro, intitulado Formação de professores e condições de trabalho em classes multisseriadas, é resultado de um esforço do pesquisador Jânio Ribeiro dos Santos em apresentar uma análise crítica sobre as condições em que a educação rural continua existindo e as possibilidades da emergência e consolidação da Educação do Campo que se faz e refaz na luta concreta dos milhares de trabalhadores rurais pelo direito ao trabalho, a terra e à educação. A luta pelo direito à Educação e a Reforma Agrária se alimentam do desejo de transformar o campo como lugar do atrasado ou do altamente tecnologizado, voltado para o agronegócio, que expulsa homens e mulheres para um território camponês que seja capaz de produzir a vida a partir de novas relações entre homem/natureza.

    Nesse contexto, a existência das classes multisseriadas, as condições e o trabalho do professor nos anos iniciais, estudados pelo autor em seu trabalho de mestrado em Educação, é um caso específico do que está no limite. De um lado, a dinâmica de um mundo rural construído pelo colonizador e modernizado de forma conservadora ou falsamente democratizado pelos projetos econômicos e políticos de base neoliberal e, do outro, a concepção do campo que recupera a história e a memória de luta pela terra, bem como as necessidades de formar professores para realizarem a difícil tarefa de ensinar os filhos e filhas dos trabalhadores, a leitura do mundo e da palavra para se posicionarem como sujeitos de direitos e serem responsáveis por dar continuidade à luta para transformar o campo brasileiro.

    A maestria da escrita está no fato de suas reflexões partirem da sua própria história de vida como estudante e, posteriormente, professor do meio rural. A pesquisa se constrói em meio às sensibilidades do vivido e do desconhecido que foram as condições de trabalho e a própria formação dos professores do campo. Nessa caminhada, o método contribuiu para que o autor analisasse a problemática das classes multisseriadas e apontasse elementos para a superação dos problemas identificados na materialização de uma escola que ultrapasse a imposição dos interesses do capital.

    Prof.ª Dr.ª Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus

    Universidade Federal de Sergipe – UFS

    PARA OS QUE VIRÃO

    Como sei pouco, e sou pouco,

    faço o pouco que me cabe

    me dando inteiro.

    Sabendo que não vou ver

    o homem que quero ser.

    Já sofri o suficiente

    para não enganar a ninguém:

    principalmente aos que sofrem

    na própria vida, a garra

    da opressão, e nem sabem.

    Não tenho o sol escondido

    no meu bolso de palavras.

    Sou simplesmente um homem

    para quem já a primeira

    e desolada pessoa

    do singular – foi deixando,

    devagar, sofridamente

    de ser, para transformar-se

    – muito mais sofridamente – 

    na primeira e profunda pessoa

    do plural.

    Não importa que doa: é tempo

    de avançar de mão dada

    com quem vai no mesmo rumo,

    mesmo que longe ainda esteja

    de aprender a conjugar

    o verbo amar.

    É tempo sobretudo

    de deixar de ser apenas

    a solitária vanguarda

    de nós mesmos.

    Se trata de ir ao encontro.

    (Dura no peito, arde a límpida

    verdade dos nossos erros.)

    Se trata de abrir o rumo.

    Os que virão, serão povo,

    e saber serão, lutando.

    (MELLO, 2010, p. 66-67)

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    capítulo 1

    A RELAÇÃO ENTRE A QUESTÃO AGRÁRIA, EDUCAÇÃO

    E ESCOLAS DO CAMPO NO BRASIL

    capítulo 2

    CLASSES MULTISSERIADAS: DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO

    DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

    2.1 | Classes multisseriadas: trajetória, limites e perspectivas 

    2.2 | Contextualização do município pesquisado 

    2.2.1 | Números da educação no município 

    Capítulo 3

    FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE NAS CLASSES MULTISSERIADAS:

    RESULTADOS E ANÁLISES

    3.1 | Formação de professores 

    3.2 | Condições de trabalho docente 

    3.2.1 | Escola Mandacaru 

    3.2.2 | Escola Juazeiro 

    3.2.3 | Escola Umbuzeiro 

    3.2.4 | Escola Aroeira 

    3.2.5 | Escola Jurema 

    3.2.6 | Escola Alecrim 

    CONSIDERAÇÕsES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Esta obra expõe a pesquisa apresentada como dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), entre os anos de 2010 e 2012, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus. Teve como objeto de investigação as classes multisseriadas¹ – forma de organização escolar encontrada geralmente nos estabelecimentos de ensino localizados no campo brasileiro, em que são concentrados em um mesmo espaço e tempo escolar, estudantes de diferentes séries/anos (e idade) e na maior parte dos casos, sob a regência de apenas um professor.

    Neste estudo, partimos da compreensão de que no bojo do modo de produção capitalista, a educação que poderia contribuir para a emancipação humana, tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes (SADER, 2005, p. 15). Nesse sentido, compreendo como necessária a defesa de uma educação para além do capital (MÉSZÁROS, 2009). Em outras palavras, uma educação que contribua para a transformação radical² dos modelos econômico e político capitalista e da sua própria forma escolar, tendo em vista a construção de outro projeto histórico³ pautado nas demandas históricas e nos interesses sociais e culturais da classe trabalhadora em geral e, em particular, daqueles que vivem e sobrevivem do campo brasileiro, os camponeses.⁴ Assim,

    [...] uma reformulação significativa na educação é inconcebível sem a correspondente transformação social na qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança (MÉSZÁROS, 2005, p. 25).

    Desse modo, advogamos que a Educação do Campo se constitui numa possibilidade, em um instrumento potencializador para transformação social e para promoção de mudanças estruturais da sociedade capitalista. Mas afinal, o que é a Educação do Campo?

    A Educação do Campo é um projeto de educação que está em construção com nexos no projeto histórico socialista. É um projeto da classe trabalhadora do campo. Tem como protagonistas os próprios camponeses e trabalhadores do campo, suas lutas e organização e suas experiências educativas, que incluem a escola, mas vão além dela. Ela se contrapõe à educação como mercadoria e afirma a educação como formação humana. O papel da educação também é o de formar sujeitos críticos, capazes de lutar e construir outro projeto de desenvolvimento do campo e de nação. (SANTOS; PALUDO; OLIVEIRA, 2009, p. 54)

    Em contraposição a esse projeto da classe trabalhadora, o modelo de educação predominante no campo é da chamada Educação Rural, que [...] tem seu alicerce numa visão instrumentalizadora da educação, em que é suficiente para o povo do campo uma alfabetização funcional, pautada num projeto de reprodução do capital (SANTOS; PALUDO; OLIVEIRA, 2009, p. 55).

    Esse modelo de educação integra as políticas desenvolvimentistas pautadas na lógica equivocada do crescente processo de urbanização do país e da sua aposta no processo de desaparecimento do campo, que colocam a cidade como referência para todas as ações sociais (JESUS, 2008; 2009). Partindo dessa lógica, os modelos econômicos adotados consideram a cidade moderna, produtiva, superior. Contraditoriamente, o campo e tudo que está nele são tidos como lento, improdutivo, atrasado. A esse respeito à autora acrescenta:

    É importante se observar que até mesmo o discurso do avançado no campo é completamente paradoxal. Geralmente o considera desenvolvido quando produz agricultura de ponta para exportação, por meio da monocultura; e, nesta lógica, quanto mais se produzir a agricultura ou a pecuária extensiva, mas se considera um campo desenvolvido, argumentando-se em favor da ampliação do desenvolvimento local. Ao contrário, elas se desenvolvem a partir da concentração fundiária e de renda, compelindo à diversidade de outras culturas, quando não as extinguem completamente, a exemplo da pecuária extensiva no norte do país. (JESUS, 2008, p. 154)

    Ademais, é oportuno destacar que os dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam o crescimento dessa tendência perversa de urbanização do país. De acordo com a sinopse divulgada, a população brasileira era composta por 190.755.799 habitantes; sendo 160.925.792 (84,4%) residentes da área urbana e 29.830.007 (15,6%) da área rural. Comparando esses dois últimos dados referentes à distribuição espacial da população brasileira (áreas urbana e rural) com os dados do ano 2000, observa-se que a população urbana era formada por 137.755.550 (81,2%) habitantes e a população rural por 31.835.143 (18,8%), o que demonstra, portanto, um aumento de 3,2% na tendência de urbanização do país (BRASIL, 2010a).

    Mas nas análises de Veiga (2003), o Brasil é muito menos urbano do que se

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