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Cuidado! Um Cavalo Viciado Tende a Voltar para o Mesmo Lugar
Cuidado! Um Cavalo Viciado Tende a Voltar para o Mesmo Lugar
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Cuidado! Um Cavalo Viciado Tende a Voltar para o Mesmo Lugar

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O livro Cuidado! Um cavalo viciado tende a voltar para o mesmo lugar parte da premissa de que, para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, são necessárias rupturas bem mais profundas do que imaginávamos. Rupturas com uma radicalidade que leve à problematização, à superação ou, no mínimo, à reconstrução de conhecimentos e práticas que nos eram caros, que nos levaram a escolher caminhos viciados, recheados de sementes que fazem brotar o eterno retorno. Sementes constituídas de valores.

Apresenta indicativos de que a chamada cultura elaborada, a Ciência-Tecnologia, as forças produtivas capitalistas podem ser insuficientes ou até incompatíveis com a sociedade buscada. Os valores demandantes das pesquisas que resultaram nesses produtos, internalizados neles, conferem-lhes determinadas características. Características com potencial para inibir transformações desejadas. Funcionais à perpetuação do status quo.

Não é um livro de respostas, mas de perguntas sinalizadoras de caminhos a serem explorados. Perguntas carregadas de demandas silenciadas historicamente. Almeja contribuir para reinventar processos educativos e produtivos, em diálogo, mediante dinâmica pautada em valores distintos dos atualmente hegemônicos. Apropriação e socialização das forças produtivas, da cultura elaborada, categorias inquestionáveis num espectro político bastante elástico, passam a fazer parte de um quadro mais amplo: sua problematização. Problematização sustentada em dois corpos teóricos genuínos do contexto latino-americano: um fazer educativo (Paulo Freire) e um fazer pesquisa (Pensamento Latino-Americano em Ciência-Tecnologia-Sociedade).

Nessa reinvenção, a investigação temática freiriana, reinventada e ampliada, constitui caminho teórico-metodológico para identificar demandas historicamente silenciadas, gerando currículos, gerando agendas de pesquisa. Demandas inéditas podem requerer pesquisas inéditas, conhecimentos inéditos.

Reinvenção de processos educativos materializada em práxis em curso mediante o diálogo entre processos produtivos e educativos, numa dinâmica de coprodução e coaprendizagem. Práxis incipiente, experienciada em contextos bastante adversos.

A categoria problematização, para além da apropriação e socialização, ajuda-nos, também, a compreender que há uma contradição, uma incompatibilidade intrínseca entre as forças produtivas capitalistas e os limites termodinâmicos da natureza. Além da contradição entre capital e trabalho, há uma contradição entre capital e natureza. Essa contradição, somada àquela, tem intensificado conflitos e uma degradação socioambiental sem precedentes.
LanguagePortuguês
Release dateSep 20, 2018
ISBN9788547319724
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    Cuidado! Um Cavalo Viciado Tende a Voltar para o Mesmo Lugar - Décio Auler

    (PPGECT/UFSC)

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    1

    RAÍZES E HORIZONTES

    1.1 RAÍZES 

    1.2 HORIZONTES: UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL E NECESSÁRIO; UM OUTRO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO É POSSÍVEL E NECESSÁRIO 

    2

    FORÇAS PRODUTIVAS DESTRUTIVAS

    2.1 O MITO DO PROGRESSO: ESSE PROGRESSO MATERIAL PODE SER PARA TODOS? 

    2.2 FORÇAS PRODUTIVAS DESTRUTIVAS 

    2.3 A CONSCIENTIZAÇÃO E A RECICLAGEM DE LIXO NÃO ANULAM A

    TERMODINÂMICA 

    3

    PROBLEMAS NA APROPRIAÇÃO/SOCIALIZAÇÃO DAS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS, NA APROPRIAÇÃO/SOCIALIZAÇÃO DA CULTURA ELABORADA

    3.1 PROBLEMATIZANDO A CULTURA ELABORADA, AS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS 

    3.2 NÃO NEUTRALIDADE DAS FORÇAS PRODUTIVAS, DA CULTURA ELABORADA 

    4

    CAMINHO ÚNICO?

    4.1 CAMINHO ÚNICO 

    4.2 NÃO NEUTRALIDADE DA CIÊNCIA-TECNOLOGIA 

    5

    O INÉDITO É VIÁVEL

    5.1 O INÉDITO É VIÁVEL? É IMPRESCINDÍVEL E NECESSÁRIO 

    5.2 REINVENTANDO FREIRE 

    5.3 PRÁXIS EM CURSO: A INCUBADORA SOCIAL 

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Suspeito que estejamos numa encruzilhada. Numa bifurcação. Visualizo dois possíveis caminhos. Deve haver outros. Um deles, caminho estreito, com muitas ramificações, cheio de obstáculos, no qual cintilam alguns pontos luminosos, alguns lampejos de luz sinalizando horizontes inéditos. O outro, caminho largo, com muitas luzes artificiais piscando, vindas de poucos comandos articulados a um sistema central. Luzes que não brilham, nem poderão continuar brilhando para a maioria. Comandos que não apagam apenas luzes, mas vidas humanas.

    Escrevo este livro num momento de muitas nuvens carregadas no horizonte. Está sendo escrito com indignação, com momentos de desânimo, mas, acima de tudo, de esperança. Esperança que ressoa com os ecos vindos dos gritos dos que sofrem e lutam por justiça. Ecos vindos do presente e do passado, de muitos lugares do planeta, sinalizadores de que as vozes, de que as lutas dos injustiçados não são silenciáveis. Silenciados, hoje, reapareceremos amanhã. Reapareceremos renovados. Renovados pelos nossos erros e pelas nossas aprendizagens. Essa utopia, em momentos de melancolia, como o atual, sinaliza horizontes, mesmo sendo móveis, como dizia Eduardo Galeano, ajuda-nos a caminhar e viver.

    Concepções, valores e práticas fascistas, racistas, classistas, bem como de outras naturezas, até agora, atuando de forma latente, apresentam-se à luz do dia, num cenário em que não são nada desprezíveis sinais preocupantes de degradação ambiental. Mudanças climáticas, contaminação da água e do solo, destruição e não resiliência dos ecossistemas, interrupção de ciclos naturais, extinção das abelhas. Desaparecimento daquilo que Cechin (2010) chama de serviços gratuitos da natureza. Podemos estar mediante a adesão progressiva a comportamentos competitivos, sendo a relação entre as pessoas mediada, cada vez mais, pela competição, abandonando valores como solidariedade e colaboração, segundo Milton Santos (2000), caminhando para a barbárie.

    Barbárie, degradação socioambiental ou uma sociedade ou sociedades menos feias (Paulo Freire). Depende da ação humana. Depende do engajamento de amplos setores sociais que, historicamente, têm estado em silêncio. Silenciados pela força, pela astúcia dos opressores, pelo observar passivo do desenrolar dos acontecimentos. Entre as alternativas que sinalizei, na referida encruzilhada, parece que há urgência. Não visualizo um cenário promissor se esses silenciados e os que assistem ao desenrolar da história passivamente não se tornarem protagonistas. Distintos cenários correspondem a diferentes valores tornados prioritários.

    Este livro tem a pretensão de somar-se a outras ações em curso, uma pequena luz a iluminar outros, novos caminhos. Caminhos que exigem radicalidade. Possivelmente uma radicalidade que nos faça sair da timidez e assumir, com mais convicção e coragem, que o capitalismo e sustentabilidade socioambiental são incompatíveis. Uma radicalidade que nos dê lucidez para percebermos que, talvez, quanto mais insistirmos em pequenas, ou grandes reformas nesse modelo, por exemplo, num esverdeamento do capitalismo, estejamos caminhando irreversivelmente para a autodestruição. Possivelmente, não a destruição do planeta como um todo, mas de nós humanos. A vida pode continuar sem nós. Os valores tornados prioritários talvez constituam um obstáculo para a nossa permanência, um atalho para nossa exclusão.

    Um livro cuja gênese emana das minhas convicções, desejos, necessidades e angústias. Acima de tudo, do sonho de um mundo diferente e melhor. Um livro que, no processo, adquiriu vida própria. Uma criatura, quase um sujeito exigente, às vezes, chato, exigindo-me dedicação e rigor. Acordando-me, em muitas madrugadas, clamando pelo registro, para que as elaborações processadas durante o descanso do meu corpo não fossem perdidas. O sacrifício que me exigiu foi perfeitamente suportável. Foi mais um desafio que a vida coloca para quem não concebe uma vida vivida sendo espectador, sentado na sacada, na plateia da história. Colocar, vivenciar sinais de vida, não de morte, desafio particularmente marcante nos meus últimos anos.

    Este livro quer contribuir para nosso reagrupamento, iluminar caminhos com a experiência vivida e problematizar alguns caminhos trilhados que, possivelmente, fizeram-nos caminhar em círculos, chegando, ou melhor, voltando, ao ponto de partida. Suspeito que, para a construção de uma sociedade menos feia, a ruptura tenha que ser bem mais profunda do que imaginávamos. Uma ruptura com uma radicalidade que leve à problematização, à superação, ou, no mínimo, à reconstrução de conceitos e práticas que nos eram caros, que nos levaram a escolher caminhos contaminados, recheados de sementes que fazem brotar o eterno retorno. Uma radicalidade que, no meu entender, exige redefinir a função da escola, dos processos educativos/formativos.

    Não é um livro de respostas, mas de perguntas sinalizadoras de caminhos a serem explorados, caminhos para novos horizontes. Concebo este livro não como um manancial de respostas, não como uma fonte de consulta. Mas uma paisagem da qual brotam perguntas e desafios em busca de respostas. Perguntas carregadas de demandas silenciadas historicamente. Perguntas, às vezes, quase respostas, marcadas pelas angústias, pelas convicções, pela minha história. Vou esparramando perguntas. Perguntas que, no meu entender, estão associadas a desafios e problemas que, historicamente, têm sido ignorados. Ignorados porque expressam demandas de uma ampla maioria da sociedade constituída de sujeitos, como dizia Paulo Freire, quase transformados em objetos, impedidos, até agora, em linhas gerais, de exercer o papel de participantes ativos no processo histórico. Este livro contém muito mais lacunas a preencher do que uma fonte a explorar. Perguntas que remetem, também, a conhecimentos e práticas do passado, silenciados, abandonados pelo caminho como sementes ainda não germinadas. Abandonadas porque seus frutos revelaram-se incompatíveis com a lógica capitalista. Os valores priorizados pelo capital esterilizam tais práticas, conhecimentos e experiências sociais.

    O caminho que o livro segue é o da pedagogia da pergunta. Para Freire e Faundez (1985), problematizando a educação bancária, em pleno vigor, hoje, a escola fornece muitas respostas para perguntas não feitas. Defendem uma pedagogia da pergunta. Este livro formula muitas perguntas. Algumas quase respostas, marcadas pela suspeita: é suficiente, numa educação popular, a apropriação/socialização de uma cultura demandada e marcada por interesses e valores das classes dominantes? Perguntas que requerem respostas novas, conhecimentos novos. Perguntas que contêm marcas, que buscam dar voz aos silenciados do mundo. Perguntas demandadas por um projeto transformador de sociedade.

    Respostas ainda frágeis, incipientes, com sinalizações encontráveis em espaços em que práxis contra-hegemônicas estão sendo efetivadas. Setores sociais, educadores que lutam por um outro mundo possível têm avançado para o campo da concepção de currículos, de políticas públicas para a educação, não ficando restritos ao campo da execução. Contudo pouco temos conseguido avançar em algo, no meu entender, central: a essência da perpetuação do capitalismo está no controle, na concepção que esse exerce sobre o sistema produtivo (o que inclui Ciência-Tecnologia, a agenda de pesquisa), direcionando-o para o valor-troca (geração de lucros privados) e não para o valor-uso (satisfação de necessidades sociais).

    Respostas possivelmente encontráveis em espaços de diálogo entre processos educativos e produtivos. Não de qualquer processo produtivo, mas naquele em que a produção para o valor-troca vem sendo problematizada e direcionada para a satisfação de necessidades sociais. Espaços em constituição, ora com mais vigor, ora fragilizados. Por exemplo, a economia solidária, as incubadoras sociais, as tecnologias sociais, a agroecologia, as cooperativas de trabalhadores.

    Perguntas carregadas pela esperança, pela convicção de que um outro mundo é possível e necessário, sendo, para tal, possível e necessária uma outra educação – uma outra escola –, um outro sistema produtivo, distinto do demandado pelas transnacionais. Perguntas que remetem, que desafiam, que exigem aventurar-se para além das redes de proteção disciplinar, como destaca Dagnino (2008), que apontam para caminhos, para conhecimentos e práticas inéditas, assim como são inéditos alguns dos problemas atuais. Outros, antigos, mas negligenciados porque situados entre os esfarrapados espalhados pelo mundo. As respostas que ensaio, sinalizadas em práxis ainda bastante pontuais, precisam ser aprofundadas, estudadas, vivenciadas com mais intensidade.

    No livro, trabalho uma visão em extensão. Ao explorar um local desconhecido, uma primeira incursão é de cautela, um olhar para o todo, sem muita atenção aos detalhes. Se minhas inquietações, intuições e provocações, alicerçadas na minha caminhada, forem consideradas razoáveis, demandarão aprofundamentos. Tratando-se de um primeiro voo panorâmico, muitas questões são tratadas apenas superficialmente.

    As perguntas, as sinalizações de possíveis respostas buscam encaminhamentos à tese central: necessidade de repensar a função da escola, repensar dinamizável num processo de diálogo, de interação orgânica entre processos educativos e produtivos. Ou seja, processos de coprodução e coaprendizagem, categorias que encontram sinais de materialidade em literatura, assim como num projeto em curso, no âmbito da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), denominado Incubadora Social da UFSM¹,², do qual participo.

    Por que o sistema dominante permite, até estimula, a apropriação, a socialização, pela escola, da cultura elaborada³, não ocorrendo o mesmo com as forças produtivas (produção e apropriação privada), sendo que Ciência-Tecnologia constituem dimensão central em ambas?

    Qual a função da escola? Quem a definiu? Com que objetivos? Não será preciso redefinir sua função se almejamos algo distinto da lógica capitalista? Ela não foi criada para ser funcional a essa lógica? Para outra sociedade, outra função para a escola? Função com que foi criada: socializar a cultura elaborada. Será? A intenção implícita não está em difundir valores legitimadores do status quo? Mesmo sem focalizar o campo dos valores, Harari (2015), na obra Sapiens: Uma breve histórica da humanidade, assinala o poder perpetuador do sistema vigente mediante a socialização do conhecimento tradicional. Em sua análise, Os governantes financiavam instituições educacionais cuja função era disseminar o conhecimento tradicional com o propósito de sustentar a ordem existente. (HARARI, 2015, p. 270).

    Mesmo havendo exceções, independente de distintos campos político-ideológicos, tem havido um razoável consenso quanto à função da escola: propiciar a socialização, a apropriação da cultura, da ciência hegemônica, a dita cultura elaborada, produzida historicamente. Pouco tem sido problematizado o fato de que essa cultura, a ser apropriada, socializada, foi demandada pelo capital, por interesses e valores desse, interesses e valores subsumidos, materializados nessa cultura. Ou é factível uma separação entre a parte denominada cognitiva (neutra?) e os valores, as marcas da história em que esse conhecimento foi produzido? Ainda, ter essa cultura elaborada, essas forças produtivas, e não outras, resulta de contingências históricas, de valores tornados prioritários, responsáveis, também, pela seleção das demandas de cuja investigação resultou a cultura elaborada, as forças produtivas.

    Entendo que, em sua apropriação/socialização, não estão sendo socializados conhecimentos neutros, mas marcados por dimensões históricas, pelos valores demandantes dessa cultura. Cultura gerada, impregnada de valores tornados hegemônicos no âmbito da luta de classes pregressa. Apropriar-se dessa cultura não pode estar significando internalizar valores fundantes e ratificadores do status quo? Valores, muitas vezes, incompatíveis com um outro mundo, legitimadores do atual. Suspeito que, com a socialização do conhecimento hegemônico e, de carona, dos valores que lhe dão referência histórica, muitos processos educativos, concebidos para a transformação, estejam exercendo a função de legitimadores do mundo realmente existente, impedindo uma transformação na direção desejada.

    Não seria por meio da socialização da cultura elaborada, da universalização (globalização) de suas forças produtivas, que o capital consegue a hegemonia econômica e cultural, tal qual analisado por Gramsci⁴? Cultura potencializando determinados valores e silenciando outros. Hegemonia construída por meio da universalização da agenda pesquisa, no campo científico-tecnológico, e de seus produtos? Cultura aqui compreendida como constituída de valores, conhecimentos, práticas e tradições.

    Complementar e articulado ao aspecto anterior, entendo que, também em movimentos populares, em processos de educação popular, muitas vezes, mantivemos intocável a matriz geradora, reprodutora do capitalismo: a separação entre concepção e execução. Separação constituindo a essência tanto no campo educacional, quanto nas políticas em Ciência-Tecnologia (CT), na definição das agendas de pesquisa. O capitalismo tem sua gênese, sua essência nessa separação. O que nós, sonhadores e lutadores por um outro mundo possível e necessário, para além do capitalismo, ignoramos historicamente consiste no papel dos valores na seleção das demandas das quais resulta a cultura elaborada, as forças produtivas (DELIZOICOV e AULER, 2011). Valores, no processo de concepção e execução, internalizados, materializados na cultura elaborada, nos produtos científico-tecnológicos e socializados, generosamente, na execução de currículos escolares.

    Com este livro, busco contribuir para a constituição de um novo marco político-conceitual, no qual repensar a função da escola tem um papel central, reinvenção que tem como essência romper com a separação entre concepção e execução, subvertendo a essência da lógica capitalista, conforme caracterizada, dentre outros, por Braverman (1987). O horizonte que vislumbro, apresentando alguns fragmentos de sua materialidade, consiste em conceber currículos, conceber agendas de pesquisa a partir de demandas dos segmentos sociais historicamente relegados. A teorização resultante dessa caminhada, mediante o diálogo entre processos educativos e produtivos, pode sinalizar processos educacionais ampliados. Ainda pontuais, incipientes, tênues, experenciados em contextos muito adversos.

    Na análise de Braverman (1987), diferentemente de outras espécies de animais, movidas por atividades instintivas, sendo instinto e execução indivisíveis, nos humanos, a concepção e a execução de tarefas podem ser separadas, fragmentadas. A ideia de uma pessoa pode ser executada por outra. Tal possibilidade constitui a base da organização da produção capitalista. Uns poucos, os donos do capital, dos meios de produção, concebem a organização de tal produção enquanto que, os que vendem seu trabalho, os trabalhadores, meramente executam a ação concebida por aqueles. O filme Tempos Modernos, lançado em 1936, por Charles Chaplin, é ilustrador dessa dinâmica.

    Ainda, segundo Braverman (1987), com o denominado fordismo/taylorismo, havendo a progressiva aceleração na execução das tarefas, nas linhas de montagem, com

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