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A Música na Escola: Tempos, Espaços e Dimensões
A Música na Escola: Tempos, Espaços e Dimensões
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A Música na Escola: Tempos, Espaços e Dimensões

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O livro A música na escola: tempo, espaços e dimensões convida o leitor a refletir sobre as múltiplas possibilidades que a inserção da música no ambiente escolar oferece para a comunidade educativa. A obra discute a obrigatoriedade do ensino da música como conteúdo específico dentro da disciplina de Arte e também como uma disciplina autônoma, observando e analisando os diferentes caminhos que uma escola percorre ao introduzir o ensino de música em todos os seus níveis de ensino. A experiência da escola apresentada nesta obra permitirá ao leitor conhecer quais são os processos relacionados com a inserção da música na comunidade escolar e compreender o(s) impacto(s) dessa inserção a partir do olhar da equipe diretiva, dos professores, dos alunos, das famílias, dos funcionários e da comunidade como um todo. São apresentados e discutidos os possíveis caminhos da inserção da música na escola numa realidade social, política e econômica em constante mudança e transformação. Contudo espera-se que o leitor possa se aproximar dos procedimentos e impactos produzidos num contexto educativo específico, com suas potencialidades, fortalezas e limitações, podendo transferir a outras realidades as experiências aqui apresentadas, incentivando a reflexão sobre diferentes modalidades e visões de construção do espaço da música no ambiente escolar.
LanguagePortuguês
Release dateSep 25, 2018
ISBN9788547312961
A Música na Escola: Tempos, Espaços e Dimensões

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    A Música na Escola - Carla Eugenia Lopardo

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Às pessoas que fazem parte da minha vida, porque sem elas nada teria sentido.

    APRESENTAÇÃO

    Os conceitos sobre inovação e cotidiano escolar permeiam as discussões sobre os modos de conhecer e fazer música, assim como os espaços e as dimensões que a música assume no ambiente escolar. São apresentados, nesta obra, os processos de análise, avaliação, adaptação, perdas e ganhos que a presença da música provoca não somente na matriz curricular de uma instituição, mas também nas pessoas, nas concepções sobre o que representa e como a música está presente no ambiente escolar, que papel e funções ela desenvolve, em quais espaços da vida escolar ela se insere, constrói-se, desenvolve-se e transcende. Nessa direção, tento dialogar com os diferentes significados e as diversas concepções sobre educação musical que são construídos com a vivência da música nos múltiplos espaços-tempos escolares, colocando em discussão conceitos como gestão democrática participativa, currículo musical heterogêneo, identidade escolar e construção do conceito de educação musical no ambiente escolar.

    A minha busca esteve centrada em mostrar essas encruzilhadas como respostas aos diversos momentos do processo de inserção da música, tendo como desafio o fato de revelar a vida cotidiana da comunidade estudada na textura da aparente rotina de todos os dias na perspectiva de José Machado Pais e Nilda Alves, sem prestar demasiada atenção nos fatos por si só, mas principalmente no modo como me aproximava deles, o modo como os interrogava e revelava. Seguindo essa forma de enxergar a realidade, mergulhando nas situações cotidianas com as quais me deparava, fui tecendo as redes que davam sentido às diferentes versões sobre a presença da música na escola. As vozes de cada uma das partes envolvidas nesse processo foram ouvidas, percebidas e contextualizadas. Por meio da realização de um conjunto de entrevistas, de discussões com grupos focais, a escrita dos diários de campo, as conversas de corredor, os registros de experiências musicais dentro e fora da sala de aula, em tempos e espaços diversificados, permitiram criar uma base de dados significativos, observando as interseções e os cruzamentos entre as diferentes vozes dessa realidade. Assim, a pesquisa, que deu origem a este livro, desenvolveu-se entre os anos 2010 e 2014, numa escola particular na Zona Norte de Porto Alegre/RS, na qual desenvolvi minhas atividades como professora de música ao mesmo tempo em que olhava para essa realidade como campo de estudo e pesquisa.

    PREFÁCIO

    Este livro foi originalmente apresentado como tese de doutorado em Música, no Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A versão ora publicada tem uma redação distinta em relação à tese e apresenta várias modificações, pensando em um círculo de leitores mais amplo.

    A inserção da música na escola ocupou um lugar central nas discussões da área de educação musical desde quando foi publicada a Lei Federal nº 11.769 de 2008, que tornou a música conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular Arte, previsto no § 2º do artigo 26 da LDB 9394/96. A referida Lei permitiu que a música estivesse presente nos currículos escolares para todos os alunos. Em diversas partes do Brasil, professores mobilizaram-se para a implementação da música nas escolas. Inúmeros relatos, registros de práticas e experiências de vários locais foram divulgados. A presença da música na escola tornou-se, então, uma realidade, apesar das dificuldades tantas vezes mencionadas: a falta de profissionais habilitados na área, a ausência de concursos públicos, o apoio restrito das secretarias de educação, as questões de recursos e infraestrutura necessárias, a produção de materiais didáticos atraentes, entre outros.

    O livro de Carla apresenta um caso singular de uma experiência inovadora da implantação da música em uma escola no Rio Grande do Sul. Em oito capítulos, a autora narra como a participação de uma comunidade e seu empenho como professora de música atuante nesse espaço pôde fazer toda a diferença. A obrigatoriedade do ensino de música é abraçada pela escola, e a música é oferecida para todos os níveis de ensino. Como Carla afirma, essa implementação é muito mais do que o processo de inserir a música como conteúdo ou como componente curricular a partir da obrigatoriedade de uma legislação (LOPARDO, 2018, p. 23). Ela é tomada como um:

    Processo inovador dentro de uma rotina escolar, dentro de um cotidiano que começa a perceber que determinados movimentos no seu interior acontecem em função da presença da música no convívio das pessoas. (LOPARDO, 2018, p. 23)

    De uma forma sensível, Carla observa que esses movimentos provocam mudanças as quais se refletem nos modos em que as pessoas se relacionam, como elas vivenciam a música, se expressam e interagem com ela. Trata-se, portanto, de um processo muito mais abrangente e dinâmico já que:

    O conceito de inserção implica penetrar no mais íntimo de uma realidade, se instalar gradativamente, invadindo espaços, ocupando tempos e assumindo aos poucos uma presença cada vez mais consistente. (LOPARDO, 2018, p. 23)

    A descrição de todos esses processos segue as regras do trabalho científico e as formalidades exigidas, porém o resultado é um texto cativante e envolvente. Carla deixa transparecer sua paixão pelos alunos – crianças e jovens – que entrevista e observa, nas conversas com as famílias de seus alunos, no cuidado ético e respeitoso com os colegas professores, e no diálogo com seus diretores, que participam desse processo de incluir a música na escola, de diferentes formas, nos diferentes momentos do dia a dia. A linguagem do livro é fácil, instigante e conduz os leitores pelas rotas do cotidiano escolar e de sua comunidade, trazendo descrições detalhadas. Na tradição dos estudos sobre educação musical e cotidiano, a autora faz uma sofisticada análise do miúdo que reforça a importância de se olhar para cenas tão próximas e, por vezes, invisíveis e tão poderosas.

    A intenção do livro é não apenas provocar uma discussão sobre a obrigatoriedade do ensino da música como conteúdo específico dentro da disciplina de Arte (LOPARDO, 2018, p. 23), como se refere a autora, mas, na minha opinião, mostrar que não só uma legislação muda uma rotina escolar, mas os movimentos articulados de uma comunidade é que vão garantir a presença da música na escola. O livro de Carla nos lembra que o trabalho de pais e educadores, envolvendo as políticas públicas para o ensino de música, consegue melhor lidar com a complexidade e os aspectos mais profundos do cotidiano escolar, no qual a música é um dos pilares.

    As publicações sobre a música na escola têm proliferado nos últimos anos. Mas com certeza o livro apresentado por Carla há de colaborar para a prática de educadores musicais ao mostrar um bem-sucedido esforço de transformar a sua tese acadêmica em livro. A reflexão apresentada sobre o tema incorpora os ensinamentos científicos sem deixar de fora as dimensões do encantamento, do sensível, e de se surpreender com o mundo cotidiano nas escolas.

    Jusamara Souza

    Professora titular do Departamento de Música - UFRGS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    Abem – Associação Brasileira de Educação Musical

    BNCC – Base Nacional Curricular Comum

    CD – Compact Disc

    Fapem – Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical

    LDB – Lei de Diretrizes e Bases

    Ospa – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre

    PPP – Projeto Político Pedagógico

    RH – Recursos humanos

    RS – Rio Grande do Sul

    SOE – Serviço de Orientação Educacional

    TV – Televisão

    Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação

    UFRGS – Universidade Federal de Rio Grande do Sul

    UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

    Sumário

    Capítulo 1

    INTRODUÇÃO 

    1.1 A INSERÇÃO DA MÚSICA NA REALIDADE EDUCATIVA BRASILEIRA 

    1.2 CONHECENDO OUTRAS EXPERIÊNCIAS 

    1.3 ORGANIZAÇÃO DA OBRA 

    Capítulo 2

    Sobre a escola

    2.1 A COMUNIDADE EDUCATIVA 

    2.2. VISÃO DE ESCOLA E FORMAÇÃO: QUAL O PERFIL DO ALUNO? 

    2.3 OS COMPONENTES DA ESCOLA 

    2.3.1 Equipe diretiva

    2.3.2 Professores

    2.3.3 Alunos 

    2.3.4 Outros segmentos dentro da escola 

    2.4 PROJETO PEDAGÓGICO 

    2.4.1 A construção do projeto 

    2.4.2 Uma nova proposta educativa 

    2.4.3 O ensino de arte na escola 

    2.4.4 As estratégias desenvolvidas: o envolvimento de todos 

    capítulo 3

    COTIDIANO, inserção E INOVAÇÃO ESCOLAR

    3.1 NOVIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR E O TRANSBORDAMENTO DA ESCOLA 

    3.2 O COTIDIANO ESCOLAR 

    3.3 O CONTATO COM A REALIDADE ESCOLAR 

    capítulo 4

    O olhar como professora e pesquisadora

    4.1 O ENSINO DE MÚSICA NESTA ESCOLA 

    4.2 AS VISÕES SOBRE O COTIDIANO ESCOLAR E A PRESENÇA DA MÚSICA 

    capítulo 5

    os processos de inserção da música na Escola

    5.1 OS PROCESSOS DESDE A AÇÃO INSTITUCIONAL 

    5.1.1 Estratégias para a inserção da música na escola 

    5.1.2 Modalidades do ensino musical obrigatório no currículo 

    5.1.3 Os recursos 

    5.1.3.1 Recursos econômicos 

    5.1.3.2 Recursos humanos 

    5.1.3.3 Recursos materiais e estrutura física

    5.1.4 A criação de outros espaços para a música na escola 

    5.1.4.1 O coral: mais do que simplesmente cantar... 

    5.1.4.2 A oficina de instrumentos musicais 

    5.1.5 Diálogo da música com as instâncias de avaliação institucional 

    5.1.5.1 Conselhos de classe 

    5.1.5.2 Reuniões com o SOE e a coordenação pedagógica 

    5.2 OS PROCESSOS DESDE A AÇÃO PEDAGÓGICA 

    5.2.1 Na procura da identidade escolar 

    5.2.2 A interpretação das necessidades e os interesses dos alunos 

    5.2.3 A construção de um modelo de currículo musical participativo

    5.2.4 A elaboração dos planos de ensino

    5.2.5 A elaboração dos projetos trimestrais:

    a unidade didática como opção no planejamento das aulas 

    5.2.6 A construção dos materiais didáticos 

    5.2.7 Avaliando na aula de música 

    5.2.8 A música no projeto pedagógico da escola 

    5.3 OS PROCESSOS DESDE O ASPECTO SOCIAL

    5.3.1 Expandir os limites da sala de música: outros modos de interagir 

    5.3.1.1 Passeios didáticos 

    5.3.1.2 Concertos didáticos 

    5.3.1.3 Pelos corredores da escola 

    5.3.1.4 Apresentações musicais 

    5.3.1.5 O show de talentos: quando a comunidade inteira participa 

    capítulo 6

    Construindo o quebra-cabeça:

    as diversas vozes da comunidade escolar

    6.1 COMPREENDER O OLHAR DO ALUNO 

    6.2 O QUE SIGNIFICA A MÚSICA DENTRO DA ESCOLA PARA O ALUNO?

    6.3 CONSTRUINDO O CONCEITO DE EDUCAÇÃO MUSICAL

    6.4 INTERCONEXÕES DE UMA MESMA REALIDADE

    capítulo 7

    Na procura de um modelo flexível de inserção

    da música na vida escolar 

    7.1 PROBLEMATIZANDO A INSERÇÃO DA MÚSICA NO CONTEXTO ESCOLAR

    7.2 O RETORNO À COMUNIDADE ESCOLAR

    7.3 O MEU PAPEL COMO PROFESSORA E PESQUISADORA

    capítulo 8

    Algumas palavras finais

    8.1 OS LIMITES DESTE PROCESSO

    8.2 NOVOS DESAFIOS 

    REFERÊNCIAS

    Capítulo 1

    INTRODUÇÃO

    1.1 A INSERÇÃO DA MÚSICA NA

    REALIDADE EDUCATIVA BRASILEIRA

    A história da educação musical escolar no Brasil tem atravessado por diferentes momentos e processos que foram definindo as diversas formas e modalidades de inclusão da música nas escolas. Claramente identificada nas últimas décadas, a forte tendência de integrar as áreas artísticas de conhecimento na oferta educativa, fez com que a música estivesse garantida ou por uma opção da direção escolar ou pela presença de um professor qualificado nas diferentes artes que pudesse interagir livremente com as quatro linguagens: teatro, música, artes visuais e dança.

    A inclusão da arte no currículo escolar como uma área de conhecimento, sob a denominação de Arte, no Brasil, é oficializada com a implementação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996¹ na Resolução nº 2, Câmara de Educação Básica (CEB) de 7 de abril de 1998. A partir disso, o ensino de arte passa a ser uma das dez áreas de conhecimento que compõem o currículo da Educação Básica. Na sequência, o Ministério da Educação divulga os Parâmetros Curriculares para o Ensino de Arte, contemplando as linguagens de artes visuais, teatro, música e dança. Paralelamente inicia-se um processo de criação de cursos especializados em uma das linguagens e, gradativamente, a extinção dos cursos de educação artística, criados para formar professores polivalentes. O ensino de arte também incluía a música como uma das áreas a serem consideradas, mas a presença dela nas escolas era definida pelas escolhas individuais de cada instituição ou município. O quadro começa a mudar a partir de 2008, quando a Lei Federal nº 11.769², que tornava a música conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular arte, passa a ser implementada nas instituições de ensino públicas e privadas. Com a aprovação dessa Lei, sancionada no dia 18 de agosto de 2008, a música como conteúdo obrigatório passou a receber uma nova atenção nas escolas brasileiras. A referida lei tratava sobre a inserção da música nas escolas prevendo um tempo máximo de três anos para a sua implantação, a partir do qual o conteúdo música deveria ter sido inserido no currículo de todas as escolas de educação básica (públicas e particulares) e em todos os níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio³. As escolas teriam que procurar um espaço para o desenvolvimento das aulas, investir em instrumentos musicais e materiais didáticos e contratar professores devidamente qualificados e habilitados. A música, a partir dessa Lei, se estabeleceu como um conteúdo curricular obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular Arte (BRASIL, 2008).

    O Ministério da Educação não determinou o conteúdo programático das aulas, nem fez menção de como a música deveria ser inserida no currículo, visto que os sistemas educacionais possuem liberdade e autonomia na elaboração de seus projetos pedagógicos a partir da Lei 9394/96, porém, com a elaboração das Diretrizes Nacionais para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica pelo Conselho Nacional de Educação, em dezembro de 2013⁴, são oferecidas as ferramentas necessárias para a institucionalização da música a partir da instrumentalização de políticas públicas adequadas que competem aos municípios, às Secretarias de Educação, aos Conselhos de Educação e ao próprio Ministério da Educação. Diante dessa situação, cada escola deveria se preparar, tanto nos aspectos estruturais quanto funcionais, para garantir a presença da música no contexto escolar. Um processo de longo prazo no qual será possível avaliar o impacto sócio-educativo dentro da própria comunidade escolar, procurando observar qual é o lugar que a música ocupa nesse contexto e quais ações devem ser desenvolvidas para sustentar e garantir a sua inserção. Na época em que foi realizada a pesquisa, a qual ofereceu as bases para a escrita deste livro, a Lei n° 11.769/08 permitia que a música fosse inserida em projetos específicos e não apenas como um recurso dentro de outro componente curricular, isso porque a música tem estado presente em diversos contextos educativos brasileiros ao longo de décadas, mas em muitos casos ela não estava presente no currículo, disponibilizada para todos os alunos.

    Por outro lado, a consulta que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) promoveu no ano de 2015 foi apresentada à sociedade brasileira como uma ferramenta de discussão, debate e reflexão sobre as possíveis reformas educativas promovidas pelo Ministério de Educação. Esse debate foi estabelecido entre as diferentes esferas da sociedade, universidades, secretarias, municípios, escolas, professores, alunos, entre outros. Nas palavras do Ministro de Educação, na época:

    A Base Nacional Comum prevista na Constituição para o ensino fundamental e ampliada, no Plano Nacional de Educação, para o ensino médio, é a base para a renovação e o aprimoramento da educação como um todo. (p. 2)

    Nesse documento a música está inserida como uma das formas de expressão artística entre as várias subáreas das Artes: Artes Visuais, Dança, Teatro e Música, por sua vez, contempladas no eixo das Linguagens. A música, como conteúdo, é apresentada de forma explícita no documento no que se refere ao ensino fundamental, anos iniciais e anos finais, mas tanto na educação infantil como no ensino médio, os aspectos relacionados à música permanecem como uma atividade didática que permeia os diversos campos de experiências por meio da perspectiva das áreas de conhecimento abordadas nesses níveis de ensino.

    Ao tomar contacto com a proposta da BNCC a Associação Brasileira de Educação Musical (Abem) apresentou um documento que foi resultado de um trabalho coletivo mediado pela associação a partir das deliberações desenvolvidas no Fórum sobre o ensino de música na proposta da Base Nacional Comum Curricular, realizado em Brasília, na UnB, nos dias 03 e 04 de dezembro de 2015, contando com a participação de professores, alunos, pesquisadores e representantes das diferentes regiões do país, num trabalho colaborativo e articulado com as demandas da sociedade. Nesse documento foram apresentadas algumas sugestões de alteração, assim como elencados os aspectos mais significativos e aqueles que precisariam ser ajustados ou revisados. Desta maneira, o documento aponta que é:

    Fundamental que educação de jovens e adultos, bem como educação de populações quilombolas, indígenas, em itinerância, do campo, entre outras definidas por diretrizes curriculares específicas, estejam diretamente e mais enfaticamente contempladas na BNCC. (p. 3)

    Além disso, o documento propõe uma revisão da definição da área das linguagens e da área de música como componente curricular, além de sugerir a redefinição dos objetivos propostos para música, dentre outros aspectos.

    Finalizado o processo de discussão, a BNCC foi encaminhada ao CNE para sua homologação e posterior implementação. A nova BNCC foi homologada, pelo MEC, no dia 20 de dezembro de 2017, servindo de referência para a construção dos currículos de todas as escolas públicas e privadas do país. É importante ressaltar que o documento menciona aspectos relacionados à legislação vigente destacando que a música, como conteúdo obrigatório nas diferentes etapas da educação básica, está respaldada pela legislação, o que ainda consolida a presença da música no ambiente escolar com a aprovação do referido documento.

    Observando este panorama nota-se que a realidade da música, como conteúdo curricular nas escolas, depende, atualmente, das decisões tomadas por cada município e cada escola, em particular. No Brasil, muitas ações ao longo dos últimos anos foram desenvolvidas para concretizar a presença da música nas escolas, tanto no nível público como no privado; porém essas ações deparam-se com diversos obstáculos referentes às problemáticas locais e falhas no sistema de implantação de políticas públicas a nível nacional, tais como: ausência de profissionais habilitados, falta de estrutura física e recursos financeiros, dentre outros fatores, que constituem uma realidade a partir da qual a existência da música nas escolas se transforma muitas vezes num desafio.

    O foco deve ser a avaliação do impacto das diversas mudanças nas legislações em termos locais, com adaptações das exigências da normativa às características de cada região, de cada escola e visando atingir uma educação musical de qualidade, com professores qualificados e espaços adequados para o desenvolvimento da área.

    Partindo dessa realidade, a intenção deste texto é provocar a discussão sobre a obrigatoriedade do ensino da música como conteúdo específico dentro do componente de Arte e também como um componente curricular autônomo, observando e analisando os diferentes caminhos que uma escola percorre ao introduzir o ensino de música em todos os seus níveis de ensino. Essa inserção, à qual faço referência, é muito mais do que o processo de inserir a música como conteúdo ou como componente curricular a partir da obrigatoriedade de uma legislação. A inserção da música, neste caso, se constitui como um processo inovador dentro de uma rotina escolar, dentro de um cotidiano que começa

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