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Ética e a Miséria da Política
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Ética e a Miséria da Política

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Ética e a Miséria da Política trata de um momento grave da vida da sociedade brasileira e suas indisfarçáveis pequenas misérias do cotidiano. A ausência de ideias e projetos de futuro formam o chão da miséria política e intelectual que atinge a alma e a autoestima da sociedade brasileira. A barbárie, a degeneração dos valores democráticos e a situação de estagnação econômica ameaçam a delicada semente da democracia.

O país retrocede em relação aos valores sobre ética e a moral que contamina a estrutura do Estado, o tecido da sociedade e seu cotidiano com anomias sociais agravando o convívio humano da sociedade. Ocorre um fenômeno que ninguém imaginava: o Brasil está em pleno estado de subdesenvolvimento. O povo empobrece e os ricos cada vez mais ricos esbanjando o fetiche do consumismo.

O que fazer? Eis a questão.

Nesses momentos, o melhor a fazer é recuperar a memória e jogar luz para o esclarecimento no presente sobre o que está ocorrendo com o Brasil. Neste livro, faz-se uma releitura e um testemunho de uma geração e sua utopia por uma sociedade desenvolvida e com justiça social.
LanguagePortuguês
Release dateSep 21, 2018
ISBN9788547319427
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    Ética e a Miséria da Política - Carlos Michiles

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Qualquer juízo contendo uma crítica científica me é bem-vindo. Em relação aos preconceitos da assim chamada opinião pública, à qual nunca fiz qualquer concessão, continua valendo o lema do grande florentino: Segui il corso, e lascia dir le genti!

    Karl Marx

    Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive para a politica ou se vive da politica. Quem vive para a politica a transforma, no sentido mais profundo do termo, em fim de sua vida, seja porque encontra forma de gôzo na simples posse do poder, seja porque o exercício dessa atividade lhe permite achar equilíbrio interno e exprimir valor pessoal, colocando-se a serviço de uma causa que dá significado a sua vida. A política é um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira. Tal esforço exige, a um tempo, paixão e senso de proporções... não se teria jamais atingido o possível, se não houvesse tentado o impossível.

    Max Weber

    A Beth Michiles, irmã (In memoriam).

    A Hanna e Lucas Michiles, filha e neto, amores e convivência familiar que fazem a vida valer a pena.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço carinhosamente a Christiane Couto, com quem o exercício do diálogo, na diversidade de opinião, corrobora a existência humana com suas angústias e desafios, recorrendo a inteligência para realizar suas utopias possíveis e impossíveis. A quem a capa desse livro deve a sua criatividade, bem como a mídia virtual para além dos limites daqui e além dali.

    Cabe agradecer a algumas pessoas que participaram, direta ou indiretamente, deste esforço em concluir este livro feito com muita noção de que a vida requer fazimentos constantes para continuar aquietando as inquietações da vida. Aos meus professores e amigos Cristóvam Buarque, Vamireh Chacon e Paulo Timm que se dispuseram em testemunhar com suas palavras um pouco da nossa trajetória neste livro. Agradeço a Fundação Leonel Brizola/Pasqualini do Distrito Federal e toda sua equipe técnica, em especial ao presidente da Fundação, Manoel Dias, que me prestigiou por diversas vezes como vice presidente da Fundação no DF na missão de debater e difundir as ideias do inspirador dessa instituição que motivou pensar sobre a ética do centauro dos pampas. Aos jornalistas Walter Brito e Elizangela Isaque, ao amigo José da Mata, o cara do cinema voador, ao Rubens Martins, amigo causídico longevo de tantas conversas e diversas, ao Wesley Miranda que nos momentos de ceticismo em ver meus arquivos zarparem para as nuvens, conseguiu recuperar com sua habilidade tecnológica e me devolver a paz para continuar essa viagem de trabalho e prazer; as meninas cheias de futuro inteligente, Isabela Arneiro e Mila Catherine. Aos amigos das terças e quintas no aconchegante retiro da cobertura da 211 Norte, Fábio Moherdaui, decano Hermínio e os Robertos gaúchos de Bagé e Pelotas. Mas, claro, nenhuma dessas pessoas tem alguma responsabilidade sobre as ideias formuladas nesse livro com a tinta de muitas histórias sobre esse Brasil que precisa ser incessantemente desnudado e revelado.

    PREFÁCIO

    E agora, Cepal? Educação como eixo central do progresso econômico e da justiça social.

    Cristovam Buarque

    Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e Senador.

    Há bons livros que provocam análises; outros, ainda melhores, provocam reflexões. Este livro, com artigos do Carlos Michiles, publicado com o título de Ética e a Miséria da Política, é um desses que provocam reflexões e novas ideias. Por sua leitura, percebe-se que nos faltam pensadores que orientem o Brasil na busca de um novo modelo de desenvolvimento. É como se estivéssemos em um barco em alto-mar tormentoso, reclamando da falta de comandante, sem percebermos que os nortes mudaram de lugar e os faróis apagaram.

    Os políticos continuam usando ideias do passado, que já não orientam a sociedade e a economia para o novo futuro, surgido com a globalização, a robótica, a inteligência artificial, o esgotamento financeiro e gerencial do Estado, o fortalecimento do individualismo pessoal com os limites ecológicos ao crescimento. Eles não levam em conta que a classe operária está dividida em uma parcela moderna, com acesso a elevado consumo, sem consciência nem interesse de classe, sem bandeiras transformadoras, apenas reinvindicações corporativas; ao lado, milhões vivem na exclusão social, sem emprego nem chance de se empregar.

    O debate que Michiles nos apresenta demonstra que as teorias da Dependência foram muito enriquecedoras no seu momento. Serviram para orientar o desenvolvimento de que países da América Latina precisavam, rumo a uma economia eficiente e a uma sociedade justa. No entanto, crescemos economicamente sem sustentabilidade; apoiados nos recursos financeiros do Estado, sem capacidade inovativa nem competitividade; urbanizando a sociedade, mas em monstrópoles, não nas metrópoles esperadas; concentrando a renda para dinamizar a produção automobilística, no lugar de sua prometida distribuição.

    A Cepal, que pode ser usada como símbolo do conjunto das ideias tratadas pelo Michiles, completa 70 anos em um mundo completamente diferente daquele no qual suas ideias foram concebidas.

    É natural que nossos filósofos e nossos economistas, que 70 anos atrás desenvolveram a Teoria da Dependência, não tenham percebido a inesperada marcha do desenvolvimento mundial nas últimas décadas. Com petrodólares dos países dependentes, compram indústrias nos chamados países metropolitanos. Empresas brasileiras, indianas, chinesas, investem no mercado internacional, apropriando-se de grandes e simbólicas empresas dos países centrais.

    É surpreendente como os teóricos da Dependência não foram capazes de perceber a marcha à Economia do Conhecimento e à consequente importância da educação como vetor do progresso. A ideia de dependência na forma de veias abertas do continente, conforme popularizada por Eduardo Galeano, se apresenta hoje como mentes fechadas de nossa população, por falta de educação.

    Quase na mesma época das ideias cepalinas, na defesa de subsídios e protecionismo para realizar a industrialização da América Latina, países como Coreia do Sul, Finlândia e Singapura já percebiam que o poder da metrópole vinha de sua educação. Que mais do que das indústrias, a força dos EUA vinha de suas universidades e do poder que elas criaram graças ao conhecimento; e que a igualdade social na Europa vinha, sobretudo, do acesso dos filhos dos pobres à escola com a mesma qualidade oferecida aos filhos dos ricos.

    A Teoria da Dependência não levou em conta a hipótese do capital do conhecimento ser mais importante do que o capital financeiro e industrial. Os textos cepalinos diziam que a economia movia-se por três recursos — capital, terra e mão de obra — a mesma trindade desde o início da colonização.

    A preocupação com o chamado know how, anglicismo para a tecnologia, surgiu considerando-a como serviço a ser importado, não a ser produzido localmente. Mesmo quando a preocupação com a criação de C&T apareceu, buscava-se desenvolver institutos e faculdades, sem buscar qualidade nem universalização da educação de base, ainda menos da igualdade do acesso à educação, independente da classe social da criança.

    A educação foi tratada como um serviço social a que a população tinha direito - como saúde, água, esgoto –, não como o vetor do progresso.

    Para a Cepal, a falta de educação era uma questão social e secundária, não era o eixo central do progresso econômico e da justiça social. A educação não fazia parte da infraestrutura necessária à superação do atraso e da dependência. A falta de educação não era vista como um dos entraves fundamentais ao progresso. Até hoje, os descendentes intelectuais da Cepal não aceitam com facilidade a visão de que Educação é Progresso, de que só a educação consegue fazer o progresso.

    Se não perceberam a importância da educação como o principal vetor do progresso econômico e da justiça social, também não perceberam os limites ecológicos e fiscais, e tampouco que a inflação é o mais perverso de todos os impostos.

    O livro deve ser lido como um bom texto da história das ideias, mas também para nos fazer refletir sobre a criação de uma nova geração de pensamento social e econômico capaz de perceber:

    a.  a realidade da globalização que exige economias competitivas internacionalmente;

    b.  os limites do Estado, tanto na sua capacidade gerencial, quanto na disponibilidade de recursos fiscais;

    c.  a necessidade de responsabilidade fiscal e de equilíbrio monetário;

    d.  que a inflação foi usada como ferramenta social para concentração da renda, servindo como meio de desapropriação dos pobres, trabalhadores ou excluídos, para financiar a construção da infraestrutura econômica e garantir subsídios fiscais aos empresários ineficientes e, por isso, dependentes de protecionismo contra a concorrência internacional. A inflação foi um mecanismo perverso, mas eficiente, para financiar as atividades do Estado, mas, como era previsível, saiu do controle e explodiu em hiperinflação, inflação permanente e indutor de concentração de renda;

    e.  os sinais teóricos e empíricos que indicam os limites ao crescimento econômico, exigindo que a velha bandeira do aumento do PIB seja substituída pela melhoria da qualidade de vida;

    f.  que o fim da ilusão do PIB e da abundância vai exigir austeridade no uso dos recursos naturais e fiscais, construindo sociedades justas e economias eficientes;

    g.  que não se constrói sociedade justa sobre economia ineficiente; e

    h.  que o motor do progresso econômico e da justiça social está na educação de qualidade para todos.

    Setenta anos depois da criação da Cepal, da Teoria da Dependência e do Propósito do Desenvolvimentismo, o livro de Michiles nos faz refletir sobre os próximos anos e o que será dito quando comemorarmos, em 2048, o primeiro centenário daquela instituição e das ideias que lhe sucederão.

    Testemunho de uma Geração

    Vamireh Chacon

    Professor Emérito

    Universidade de Brasília

    A América Latina, melhor dita América Ibero-Latina, pelas nossas características lusas e hispânicas em paralelas origens, não costuma ter em nossas culturas diversas autobiografias, memórias não só políticas, mas também intelectuais e pessoais.

    Ética e a miséria da política, de autoria de Carlos Michiles, é um testemunho da geração brasileira da década de 1960 à de 2020, portanto um fim de século e começo de outro também brasileiro. Visto e sentido por dentro, de esperançoso a dolorido, sem perder a esperança. Suas influências intelectuais e políticas estão imersas nas circunstâncias de tempo e lugar. Carlos Michiles as experimentou principalmente quando estudante de graduação e pós-graduação na Universidade de Brasília, pesquisou-as em doutoramento na Inglaterra, na Universidade de Manchester, de volta ao Brasil participando da administração da ciência e tecnologia, e em nova fase de amadurecido pesquisador.

    A ascensão e os dilemas do Partido dos Trabalhadores, com seu principal líder, Luís Inácio Lula da Silva, no centro das atenções nacionais e internacionais, têm nos debates em torno da Teoria da Dependência um dos seus iniciais cenários. Teoria de início semeada pelo alemão André Gunder Frank, professor em universidades da Europa, América do Norte e do Sul. Prosseguida, ampliada e aprofundada por Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos e Vânia Bambirra. Mais conhecida pelo livro Dependência e desenvolvimento, de autoria de Fernando Henrique Cardoso e do chileno Enzo Faletto.

    Sem entrarmos nos debates internos dessa doutrina, reconheçamos sua grande influência universitária, mais no Brasil que em qualquer outro país. Seu grande dilema foi a passagem da teoria à prática na presidência Fernando Henrique, o que implicava em projeções políticas internacionais dos seus condicionamentos locais. Por isso não passou da teoria à prática. Sua sucessão é de responsabilidade dos seus herdeiros. Carlos Michiles vive e não só pesquisa esta época e circunstância. Dá o testemunho de jovem observador participante daqueles acontecimentos vistos da capital do Brasil e da sua principal universidade.

    Entendamos as dificuldades das principais estrelas, então no auge: João Goulart, Leonel Brizola e Miguel Arraes, com divergências internas e externas, num tempo histórico se revelando urgente e se atropelando no cenário da guerra fria internacional, chegando, também, ao Brasil. A seguinte geração passou a concentrar suas reflexões e ações no PT e em Lula.

    O desenrolar histórico não se concluiu no começo do século vinte e um.

    Carlos Michiles ainda terá muito a participar e escrever além do promissor início no seu livro de testemunho, Ética e a miséria da política.

    Contexto do fio da história em Brasília

    Paulo Timm, economista e fundador do PDT/DF

    A pedido do meu dileto aluno, amigo e companheiro histórico na formação e na sustentação política partidária do trabalhismo em Brasília, Carlos Michiles, tentarei, já não sem dificuldade, recuperar um pouco das memórias de Brasília na década de 1970. Para tanto serei obrigado a recorrer aos Apontamentos que escrevi para os 50 anos de Brasília. Não será, por certo, uma recuperação digna de historiador competente, apenas pontos de apoio a relembranças de grande valor sentimental.

    Cheguei a Brasília em 1973, último dos Anos de Chumbo, vindo do Chile, onde cursara o mestrado e vivera a intensa experiência de Salvador Allende, oriundo do Rio Grande

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