Formação de professores para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais
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- Rating: 4 out of 5 stars4/5Do conteúdo sobre formação de professores e em especial do uso de informática na inclusão escolar de pessoas com deficiência
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Formação de professores para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais - Célia Regina Vitaliano
Reitora:
Berenice Quinzani Jordão
Vice-Reitor:
Ludoviko Carnascialli dos Santos
Diretor:
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello
Conselho Editorial:
Abdallah Achour Junior
Daniela Braga Paiano
Edison Archela
Efraim Rodrigues
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello (Presidente)
Maria Luiza Fava Grassiotto
Maria Rita Zoéga Soares
Marcos Hirata Soares
Rodrigo Cumpre Rabelo
Rozinaldo Antonio Miami
A Eduel é afiliada à
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
F723 Formação de professores para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais [livro eletrônico] / Célia Regina Vitaliano (organizadora). – Londrina : Eduel, 2015.
l Livro digital : il.
Vários autores.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://www.eduel.com.br
ISBN 978-85-7216-775-8
1. Professores – Formação. 2. Inclusão em educação. 3. Educação especial. I. Vitaliano, Célia Regina.
CDU 371.13
Direitos reservados à
Editora da Universidade Estadual de Londrina
Campus Universitário
Caixa Postal 10.011
86057-970 Londrina PR
Fone/Fax: (43) 3371-4673
e-mail: eduel@uel.br
www.uel.br/editora
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
2015
Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse o respeito àquilo que é indispensável. Além do pão, o trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.
Mahatma Gandhi
SUMÁRIO
Apresentação
CAPÍTULO 1
Algumas reflexões sobre o processo de inclusão em nosso contexto educacional
CAPÍTULO 2
A formação de professores reflexivos como condição necessária para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais
CAPÍTULO 3
A formação inicial de professores para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais
CAPÍTULO 4
A formação de professores para o uso da informática no processo de ensino e aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais em classe comum
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Apresentação
Célia Regina Vitaliano
As análises apresentadas neste livro, reflexos de dez anos de preocupações e realização de pesquisas sobre o tema formação do professor para inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE), têm como objetivo principal contribuir para que os profissionais da educação, dedicados aos diversos níveis de ensino, especialmente os que atuam nas instituições de ensino superior, responsáveis pela formação de professores, tenham mais elementos para planejar os cursos de licenciatura, de pós-graduação em Educação e, até mesmo, programas de formação em serviço visando à preparação dos futuros professores ou dos professores atuantes em relação a esta questão.
Minhas preocupações com a formação de professores para promover a inclusão de alunos com NEE surgem no início dos anos 1990, marcadas pela divulgação do movimento mundial de educação para todos – inclusão.
Naquela época, já era professora da disciplina de Educação Especial no curso de Pedagogia e percebi de imediato que as implicações educacionais deste novo
conceito afetariam a minha prática junto aos meus alunos, considerando que, até então, me dedicava a prepará-los para identificar os alunos com NEE, especialmente os casos de deficiência mental e encaminhá-los para avaliação e atendimentos especializados, em sala ou escola especial, exceto os casos que conseguiam se adaptar ao nível de exigência do ensino regular. Era comum a ideia de que a educação dos alunos com NEE deveria ser da responsabilidade de professores especializados e aos professores do ensino regular cabia ensinar apenas os alunos sem deficiência. Estas concepções eram provenientes da longa história de segregação e discriminação das pessoas com deficiência e mais recentemente da proposta educacional denominada integração, difundida nos anos 1970 e 1980 em nosso país, que foi compreendida pelo nosso sistema educacional como a possibilidade de educar alunos com NEE nas classes comuns, desde que eles acompanhassem os conteúdos da série em que fossem inseridos.
A proposta de inclusão dos alunos com NEE trouxe o impacto de romper com a ideia de que o aluno deveria se adaptar às condições presentes nas escolas, tendo em vista que as escolas devem adaptar suas condições para atendê-los.
Lembro que, em 1995, o conceito de inclusão ainda era confuso, mas delineava mudanças significativas nas práticas referentes à educação de alunos com NEE. A literatura disponível a respeito e os documentos legais ainda não definiam com clareza como deveria ser implantada nossa política educacional inclusiva, bem como em que se diferenciava da proposta de integração. Havia rumores de que todos os alunos com NEE passariam a estudar nas escolas regulares e que os atendimentos segregados seriam extintos. Além disso, o professor era destacado por muitos pesquisadores como elemento essencial no processo de inclusão dos alunos com NEE.
Desta forma, identifiquei que esta nova proposta educacional mudaria meus objetivos de ensino, que deveriam se voltar à preparação dos meus alunos, futuros professores e pedagogos, para promover a aprendizagem e participação dos alunos com NEE em classe comum. Desta constatação surge a questão central, norteadora da construção deste livro: como estruturar a formação dos alunos dos cursos que têm como objetivo formar professores para promover a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais? Percebo que a partir deste questionamento e/ou dificuldade, comecei a estudar e investigar esta questão.
Em 1997, organizei meu projeto de doutorado, com o intuito de desenvolver um estudo que me auxiliasse a responder a essa questão, cujo foco centrou-se no curso de Pedagogia. Naquela época, as indicações oficiais
que conhecia a respeito da formação que deveria ser oferecida nos cursos de graduação para formar o professor, para atuar de modo a incluir alunos com NEE na classe comum, era a Portaria n.º 1.793, emitida pelo MEC em dezembro de 1994, que recomendava a inclusão, prioritariamente nos currículos dos cursos de Pedagogia, Psicologia e demais cursos de Licenciaturas, de uma disciplina de Educação Especial, com enfoque na integração dos alunos com NEE no ensino regular. Além disso, este documento continha um texto anexo com a indicação de que o curso de Pedagogia, particularmente, deveria incluir tópicos de Educação Especial nas demais disciplinas do curso. Em específico, no curso de Pedagogia o qual atuo, os professores avaliaram que não poderiam atender a tal recomendação de acrescentar conteúdos referentes à educação de alunos com NEE às ementas e aos programas de suas disciplinas, visto que não tinham conhecimentos a respeito.
Percebi, intuitivamente naquele momento que o fato dos cursos de licenciatura oferecerem uma única disciplina sobre a educação de alunos com NEE, por mais que fosse bem estruturada e bem ministrada por professores bem capacitados, não seria condição suficiente para formar adequadamente os futuros professores em relação ao processo de inclusão dos referidos alunos.
Este panorama, aliado ao contato com professores atuantes nas escolas regulares reclamando não estarem preparados para lidar com os alunos com NEE que estavam recebendo e a literatura da área comentando a necessidade de preparação dos professores, sem, no entanto, indicar com clareza os procedimentos necessários para isso, motivou-me a buscar construir conhecimentos sobre este tema.
Após concluir o doutorado e retornar às atividades didáticas, organizei minha segunda pesquisa sobre o mesmo tema, expandindo as análises para todos os cursos de licenciaturas.
Ao iniciar a minha atuação no programa de Mestrado em Educação, minha primeira orientanda também manifestou interesse em realizar uma pesquisa sobre o tema formação do professor, neste caso, em relação à preparação de professores para utilização do computador no atendimento a alunos com NEE em classe comum.
Ao somar mais de 10 anos pesquisando sobre este tema, resolvi organizar os principais dados e conclusões provisórias que encontrei com objetivo de compartilhá-las, por meio deste livro. Vale destacar que, durante este processo, reencontrei e conheci pessoas amigas, que também se interessam e pesquisam sobre este tema. Por esse motivo, algumas delas estão presentes nos capítulos deste livro como coautoras.
No primeiro capítulo conto com a colaboração de Maria Júlia Canazza Dall’Aqua, para apresentar algumas reflexões sobre o processo de inclusão no contexto educacional atual de nosso país, assim como a compreensão de que, até o momento, desenvolvemos sobre o processo de inclusão, aspectos que tomo como base para propor as análises e sugestões apresentadas nos demais capítulos.
O segundo capítulo apresenta uma análise que visa estabelecer possíveis relações, entre a tendência de formação de professores reflexivos e a formação de professores para promover a inclusão de alunos com NEE. Neste, destacamos os aspectos convergentes em tais propostas, chegando à compreensão de que a formação de professores reflexivos é condição necessária para formação de professores, com vista à inclusão de alunos com NEE. Este capítulo foi organizado em parceria com Silza Maria Passelo Valente, que embora não atue na área de Educação Especial, desenvolveu estudos e trabalhos na área de formação de professores.
O terceiro capítulo apresenta as principais análises sobre o tema central desta obra, com descrições que visam dimensionar a importância da formação inicial dos graduandos, futuros professores, para promover a inclusão dos alunos com NEE. Além disso, apresenta inúmeras análises e sugestões para favorecer tal preparação. Para elaborá-lo, contei com contribuições de Eduardo José Manzini, tendo em vista que a sua construção iniciou-se na época do meu doutorado, período no qual participei ativamente de seu grupo de pesquisa e recebi apoio e orientações para elaborar minha tese. Considerando que, oficialmente, ele não foi meu orientador, tê-lo aqui presente, contar com sua colaboração é para mim muito significativo e gratificante.
Compondo o quarto capítulo serão apresentados os resultados de uma pesquisa que abordou a formação de professores das séries iniciais em relação ao uso da informática no processo de ensino e aprendizagem de alunos com NEE em classe comum. Esta pesquisa foi desenvolvida por minha orientanda de mestrado, Eromi Izabel Hummel, que defendeu sua dissertação em 2007. Este capítulo evidência que a disponibilização de recursos, tais como o computador e professores auxiliares em sala de aula não se constituem em condições suficientes para garantir o processo de inclusão dos alunos com NEE. Para efetivar o referido processo, é necessário sobretudo formação sobre como utilizar os recursos, bem como a compreensão do processo de inclusão e identificação das reais necessidades de adaptações que o aluno com NEE requer em classe comum para favorecer sua aprendizagem e participação.
Outro esclarecimento que se faz necessário é sobre a formação de qual professor estaremos nos referindo neste livro. Pretendo especificamente tratar da formação dos professores que atuam em todos os níveis de ensino, aqueles que, historicamente, foram preparados por cursos de licenciatura para compreenderem-se professores apenas de alunos sem deficiência e que, nos últimos anos, vêm sendo cobrados a também se preocuparem com a aprendizagem de alunos com NEE.
Os resultados das pesquisas e análises, que até o momento desenvolvi sobre a formação do professor para inclusão dos alunos com NEE, são apresentados nesta obra com o propósito de compartilhá-los e contribuir para ampliar a compreensão desta questão, especialmente com pesquisadores e professores também interessados neste tema. Além disso, gostaria que este livro me possibilitasse a oportunidade de trocas de experiências e de ideias acerca das questões apresentadas, para isso disponibilizo meu e-mail: creginav@uel.br, e ficaria muito grata de receber comentários sobre as análises aqui contidas. Por fim, espero que a leitura deste livro lhes seja proveitosa.
CAPÍTULO 1
Algumas reflexões sobre o processo de inclusão em nosso contexto educacional
Inclusão e exclusão são conceitos intrinsecamente ligados, e um não pode existir sem o outro porque inclusão é, em última instância, a luta contra exclusões. [...] Se exclusões sempre existirão, a inclusão nunca poderá ser encarada como um fim em si mesmo. Inclusão sempre é um processo. (Mônica Pereira Dos Santos, Marcos Moreira Paulino).
O ponto do qual desejamos partir para iniciar uma reflexão sobre a temática da inclusão escolar no contexto sociopolítico que atualmente se apresenta, diz respeito a um questionamento que enfoca se, efetivamente, estamos em tempos de inclusão. Para tanto se faz necessário situar a noção e o significado de direitos humanos que, tanto em nível nacional quanto internacional, têm avançado e adquirido o que se poderia chamar de status oficial, compondo uma estrutura conceitual, tanto da oratória quanto da legislação, que fundamenta a fruição e a violação desses direitos.
Nesse sentido, considerando a legitimidade de se ter direitos, parece haver uma incoerência quando são defendidos e estabelecidos sem que, no entanto, sejam definidos os deveres de quem deve provê-los. Direitos requerem, necessariamente, deveres correlatos. E a um direito, seja ele qual for, deve antepor-se o dever de garanti-lo. Não sendo reconhecido esse dever, os direitos alegados, segundo esse ponto de vista, só podem ser vazios.
(SEN, 2000, p.262). Assim sendo, a ideia de um direito vazio se apresenta na legislação quando não há uma especificação exata dos agentes responsáveis por prover os direitos e nem a quem compete levar a efeito sua fruição.
Nos últimos anos temos visto, em termos numéricos, a ampliação da abrangência do atendimento escolar à maioria da população, especialmente no ensino fundamental, no entanto, este aumento substancial de alunos não veio acompanhado da possibilidade de lhes oferecer, efetivamente, uma educação de qualidade. Mais precisamente em 1996, tem-se a publicação da Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que instituiu uma política educacional inclusiva. Esta reforçada, em 2001, com a publicação da Resolução CNE/CEB nº 2, que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, garantindo o acesso à escola pública, até mesmo às crianças com necessidades educacionais especiais (NEE), fato que propiciou o aumento do número de matrícula destas crianças nas escolas regulares em classe comum. (FERREIRA; FERREIRA, 2004). Concomitantes a esta situação, estão ocorrendo as transformações tecnológicas, políticas, ideológicas, epistemológicas, que nos remetem a outras tantas questões sociais, éticas, educacionais [...]
. (FERREIRA, 2003, p.133).
As ações governamentais específicas para a educação, colocadas em prática a partir da década de 1990, reduziram sensivelmente