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Nós, nosso mundo e nosso comportamento
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Nós, nosso mundo e nosso comportamento

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About this ebook

No momento em que o Brasil atravessa um período conturbado na sua esfera social e política, Valmir Benício convida os leitores portugueses a uma importante reflexão sobre as diversas camadas que envolvem a realidade e a cultura do seu país. Alguns temas polémicos são levantados, como forma de lançar questões que ainda não têm respostas concretas: o universo feminino, a opressão das minorias, a corrupção aparentemente crónica do Brasil, a humilhação, a influência dos grandes meios de comunicação social e até o sucesso do MMA, enquanto desportos de luta. A proposta neste livro é repensar e dar maior amplitude a todas essas questões, que se intercruzam e relacionam, com texto dividido em três grandes grupos temáticos: Comportamentos, Reflexões e Problemas Sociais. A intenção do autor não é esgotar o debate, mas fazê-lo reverberar para estimular mudanças – agora também junto do público português, que histórica e afetivamente se vê ligado ao Brasil, numa trajetória paralela.
LanguagePortuguês
Release dateFeb 15, 2019
ISBN9789898938077
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    Nós, nosso mundo e nosso comportamento - Valmir Benício

    Bibliográficas

    Prefácio

    Esta obra é decorrente do livro Nós, o nosso mundo e o nosso comportamento, lançado pela Editora Garcia Edizioni em 2012, no Brasil. No livro, o autor promoveu considerações sobre temas, polémicos ou não, que frequentemente são discutidos, debatidos e preocupam todas as esferas da nossa sociedade.

    Problemas sociais, propostas de reflexões, qualidade de vida e relacionamento conjugal foram algumas das questões abordadas.

    Os aspetos tratados na primeira edição do livro ganharam dimensão no conteúdo e o autor resolveu dividi-lo em dois. A primeira parte aborda questões sobre a realidade da vida da mulher e a segunda os demais temas. Este último é considerado a segunda edição do livro.

    Assim, a nossa proposta é promover uma abordagem diferenciada, sem fugir do cerne da questão, de modo a que consigamos repensar e dar mais amplitude a tais indagações.

    De qualquer forma, vale a pena discorrer sobre estes tópicos, que de uma maneira ou de outra estão sempre presentes nas nossas vidas.

    No presente livro dividimos a abordagem em três grupos de textos, conforme a natureza dos mesmos: Comportamentos, Reflexões e Problemas Sociais.

    No Capítulo I (Comportamentos), falamos sobre a humilhação social, presente em muitas situações da nossa vida em sociedade.

    Encerramos o capítulo com um texto descontraído sobre melhoria da forma de viver e qualidade de vida.

    No Capítulo II, entramos numa linha de reflexão em relação ao paradoxo sobre as linhas conceituais e os dogmas através dos quais trilham a ciência e a fé.

    Ainda neste capítulo, promovemos também a reflexão sobre o indiscutível poder e a influência dos media em inúmeros aspetos das nossas vidas.

    Ao final tecemos algumas reflexões sobre o Luto e o popular e violento desporto MMA.

    No último capítulo, abordamos aspetos de quatro dos nossos principais problemas sociais: a corrupção, o desemprego, a morosidade da justiça brasileira e a discriminação.

    A elaboração dos textos partiu da observação e da pesquisa do autor.

    Não tivemos a pretensão de esgotar ou mesmo fazer uma abordagem científica e aprofundada das questões. Como dissemos, a ideia é focar de uma maneira diferenciada e promover a reflexão, como uma conversa diferente dos nossos problemas sociais mais comuns. Enfim, acreditamos que é sempre interessante o debate, a discussão reflexiva de tudo o que envolve as nossas vidas. Afinal, o mundo é para nós o que dele fazemos.

    Boa leitura a todos!

    Capítulo I

    Comportamentos

    Humilhação Social

    Introdução

    A proposta deste texto é mostrar quadros da vida humana que revelam situações de humilhação, pelas quais passam ou que promovem algumas pessoas e segmentos da sociedade.

    Propomos a reflexão sobre estas situações muitas vezes odiosas e deprimentes, para as quais o ser humano tende a se enveredar e, quem sabe, tentarmos rever conceitos enraizados em cada um de nós.

    O ato de humilhação pode decorrer da tendência humana de sentir-se melhor, mais forte, mais bonito, enfim – superior ao outro. Decorre também da necessidade de manter ou promover status ou da situação e comportamento dos humilhados.

    Cabe sempre lembrar dos princípios que norteiam a nossa vida e o convívio entre as pessoas. A igualdade e fraternidade estão entre eles.

    Aspetos gerais – primeiro vejamos aspetos conceituais. O que é tecnicamente a ação de humilhar?

    Humilhação¹ – Ação pela qual alguém humilha ou é humilhado; afronta: receber uma humilhação, tratar desdenhosamente, com soberba; rebaixar, vexar, submeter, oprimir.

    A situação de humilhação pressupõe sempre duas figuras contrastantes ou antagónicas, sendo que normalmente uma está em situação superior à outra.

    O estudo da humilhação implica em analisar a questão das emoções – os sentimentos do ofensor e do ofendido. Envolve a questão da fronteira moral da intimidade, definida assim por alguns autores. Envolve também a vergonha, a impotência e o abatimento do humilhado.

    O sentimento de humilhação refere-se ao fato de ser e sentir-se inferiorizado, rebaixado por alguém ou grupo de pessoas.

    Aqueles que são humilhados não conseguem ter uma reação à altura da ação que humilha.

    A humilhação social envolve, na sua essência, de um lado os pobres, os excluídos, os diferentes, as minorias, os deficientes, os desafortunados, os incapazes, os derrotados ou malsucedidos; e do outro, os ricos, os bem apessoados, os vitoriosos, os prepotentes e dominadores.

    O conceito reflete a desigualdade existente no nosso meio e implica uma exclusão social. Envolve ainda a angústia, a frustração, a depressão, a depreciação, o desprezo e o encolhimento. Por fim, envolve também o fenómeno conhecido pelos sociólogos como invisibilidade.

    Inúmeras são as situações no nosso meio social, em que aquele que é teoricamente inferior se torna imperceptível, se mistura com o cenário, se confunde com as coisas e com o nada.

    É nesta situação que pode haver a humilhação subjetiva ou introspectiva.

    Mas, entendemos que para que ela seja configurada, é necessário que uma das partes seja afetada, frustrada ou angustiada.

    Com o fenómeno da invisibilidade, verificamos mais uma passividade, uma acomodação. Nem sempre, neste caso, está presente a humilhação. Talvez a possamos enquadrar como situação humilhante.

    Assim como no mundo jurídico, onde para configurar crime contra a honra é necessário ser provada a capacidade de entendimento da vítima, na humilhação é necessário que o ofendido tenha entendido a ofensa contra ele dirigida. Por outro lado, mesmo que a pessoa humilhada não compreenda a humilhação, outras pessoas fazem-no e isto interfere nas relações.

    Portanto, há que se preocupar também com o efeito social do ato da humilhação. Estas questões envolvem o que os estudiosos do assunto chamam honra, sob o ponto de vista subjetivo (a honra interna) e objetivo (honra exterior). O primeiro caso envolve o sentimento da própria honorabilidade pessoal, a dignidade individual, o decoro, o sentimento que todos nós temos e pelo qual exigimos respeito. O segundo a face exterior da honra de alguém, o respeito que se deve merecer daqueles que cercam o sujeito, a boa fama, a estima pessoal – enfim, a maneira pela qual é reconhecido em sociedade.

    Cabe lembrar que o ideal da visão disseminada pelos princípios religiosos é justamente o de colocar a humildade como o ideal da honra. É inerente a busca da santidade.

    Porém, há que não confundir-se a postura humilde com a situação de humilhação. Aos olhos da sociedade, da moral, da ética e dos bons costumes, ações de humilhação são reprováveis e merecem a repulsa de todos.

    1 Fonte: Acesso ao sítio http://www.dicio.com.br/humilhacao/

    Quadros de humilhação

    Agentes

    Talvez pudéssemos citar figuras ilustrativas presentes em situações passíveis de humilhação que ocorrem no nosso meio social. Por exemplo:

    1. O magro esbelto e o gordo desajeitado;

    2. O rico arrogante e o pobre modesto;

    3. O branco bem apessoado e o negro maltrapilho;

    4. O falante extrovertido e o recalcado tímido;

    5. O atleta malhado e o deficiente raquítico;

    6. O machão sem escrúpulos e o homossexual afetado;

    7. O patrão e o empregado;

    8. O jovem ativo e o idoso impotente;

    9. O veterano e o caloiro;

    10. O vencedor e o vencido.

    Se analisarmos os exemplos citados podemos elencar alguns aspetos:

    a. Envolvem basicamente a questão do status, da estética, da hierarquia e condição socioeconômica;

    b. São exemplos ilustrativos. Os aspetos envolvidos podem não ser determinantes – o gordo pode ser o rico arrogante e o magro o pobre modesto. O negro pode ser o atleta machão, falante, bem apessoado e extrovertido e o branco o deficiente tímido, maltrapilho e homossexual – e assim por diante.

    Na verdade, são exemplos de figuras ou agentes passíveis de promover ou sofrer a humilhação. Às vezes a situação de humilhação pode dar-se subjetivamente numa das partes. Por outro lado, pode haver a intenção e a ação de humilhar, sem que isto cause alguma reação na outra parte. Veremos mais detalhes sobre estes aspetos adiante.

    Situações

    Podemos também citar outras situações passíveis de configurar humilhação:

    a. O vencido perante a claque (adversária ou a própria);

    b. O filho adotado perante a família adotante no meio de filhos legítimos;

    c. A mulher separada perante amigos e familiares;

    d. O sujeito gozado perante amigos e colegas;

    e. O demitido perante os colegas de trabalho;

    f. O falido perante os colegas empresários;

    g. O convidado ou frequentador (clubes, discotecas, festas)

    h. excluído ou isolado das rodas e dos grupos sociais.

    De qualquer forma, a situação caracteriza uma humilhação quando uma figura é comparada à outra, quando, em determinada situação, uma figura é exposta em detrimento de outra.

    Outro aspeto a salientar é que o ser humano parece estar constantemente a colocar-se – ou a tentar colocar-se – numa situação superior, em relação a algum aspeto de outrem para se sentir realizado.

    Enfim, pode-se dizer que o ser humano parece alimentar-se da necessidade de superar o outro, de lhe ser superior, de estar em posição de destaque em relação aos outros.

    Isto faz-nos lembrar Freud (1929/1930-1976), que escreveu que os homens não são criaturas gentis e amáveis e sim dotados de uma tendência à hostilidade – que o homem é o lobo do homem.

    Podemos concluir que o contraste é inerente à configuração da humilhação. Que seria do rico no meio de milionários, dos bonitos no meio de beldades e do atleta no seu meio desportivo, que não se destaca tanto quanto fora dele?

    O que é o recordista se ele não tiver superado outros atletas?

    O que é o belo se ele não tiver uma referência para ser contrastado?

    O que será do rico se a riqueza não significar poder e status

    sobre outros?

    Esta tendência de se contrapor ao outro, de figurar em comparação com terceiros, talvez explique as diversas rivalidades entre claques, categorias profissionais e até entre irmãos.

    Cabe aqui até fazermos um exercício de reflexão quanto a este detalhe. Como em outros aspetos, as pessoas procuram ou alimentam-se da diferença e a lei e os princípios morais e éticos recomendam a igualdade. Como em quase tudo neste mundo, estamos sempre a ser levados pelas tendências emocionais e instintivas. Somos apenas contidos na proporção da valorização e dos sentimentos que temos em relação a estes princípios.

    As formas de humilhação podem apresentar-se por meio de grosseria pura e simples ou por meio de humilhação subtil, velada.

    É comum verificarmos na escola as primeiras situações passíveis de humilhação, onde o diferente já é alvo de grosserias, chacotas e de ironias.

    Inicia-se aí a traumática experiência humana com este deprimente sentimento.

    Por fim, citemos a humilhação que ocorre em ambientes profissionais. Há um trabalho sobre o tema elaborado pela médica do trabalho Margarida Barreto, na tese de mestrado Jornada de Humilhações, concluída a 22 de maio de 2000. A médica, que é mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), em pesquisas promovidas, concluiu que o número de ocorrências deste tipo é extremamente alto.

    Este tipo de humilhação tem o nome de assédio moral, e consiste na degradação das condições de trabalho, através do estabelecimento de hostilidades contínuas que um superior ou colega desenvolve contra um indivíduo. Esta situação envolve a questão do temor do empregado e o poder de mando e desmando do patrão.

    Considerações – Estudo de caso: O vencedor e o vencido

    Algumas das situações que podemos citar são aquelas que envolvem competição. Como foi dito, para ocorrer a humilhação uma das partes precisa sofrer com a situação.

    Numa competição, numa luta, numa batalha ou guerra ou num jogo, a parte vencedora terá a glória, o reconhecimento, a reverência e à outra caberá o sentimento humilhante de derrota, de incompetência, da frustração causada à plateia, ao espetador ou àqueles que torcem por si.

    Lembremos o público do Estádio do Maracanã na final da copa do mundo de 1950, onde cerca de duzentas mil pessoas se sentiram humilhadas pela derrota da Seleção Brasileira, franca favorita, perante o Uruguai. Lembremos, ainda, a famosa derrota de George Foreman, também favorito, perante o lutador Muhammad Ali. Perder com Ali foi extremamente humilhante para Foreman, diante das circunstâncias que envolveram o evento, que ficou conhecido como a luta do século, segundo palavras do próprio lutador.

    Na competição, cria-se uma expectativa em relação aos competidores, por parte dos mesmos e do público. No final, o vencido sentir-se-á incompetente, inoperante, incapaz e impotente.

    A questão da diferença

    Agora falaremos sobre a questão da diferença, no que concerne a situações ou figuras passíveis de humilhação. Estamos a falar da diferença de cor, capacidade física, da diferença estética e da orientação sexual.

    Primeiro trataremos da questão racial, no que se refere ao tema da diferença de raças, em especial em relação aos negros.

    Hoje pode-se dizer que a questão do preconceito felizmente mudou muito, mas o problema ainda existe e merece atenção. Por isso, até desenvolvemos um capítulo sobre o tema, que veremos mais adiante. Como a discriminação e o preconceito acabam por envolver a questão da humilhação, discorreremos um pouco sobre este aspeto.

    Até há bem pouco tempo atrás, a questão do negro envolvia o estigma da inferioridade social, além da questão estética. O negro era associado à pobreza, era o feio, o estranho, o diferente, e isto, por muitos anos, foi interiorizado pelos pertencentes da raça negra, o que inevitavelmente implicou num complexo de inferioridade e de incapacidade, vergonha e inibição. Esta situação social promovia, entre os negros, frustrações e preterições e, por consequência, limitações para o seu desenvolvimento.

    Negro lindo – Felizmente um levante e uma visão críticos dessa situação, o questionamento, a promoção dos valores étnicos, não só por parte de representantes dos negros, mas também por parte de todos os segmentos sociais, foi gradativamente promovendo a reversão desta situação em boa parte do nosso meio social.

    Há alguns anos uma reportagem da Revista Época indagou sobre o que a figura daquele que seria o primeiro galã negro representaria em termos de mudanças sociais (Revista Época – ED. 666 – 19/02/2011). Estamos a falar do ator Lázaro Ramos, protagonista da novela Insensato Coração, da Rede Globo de Televisão.Abordaremos mais sobre a questão do preconceito e da discriminação num tópico específico, onde também falaremos sobre o novo cenário que felizmente vislumbramos para o negro na sociedade atual.

    Falemos agora sobre a questão do diferente quanto à sua apresentação física.

    O excluído

    O deficiente, o portador de deformidades, de marcas ou quaisquer outras características que causem rejeição, constrangimento, isolamento, é constantemente submetido a uma vida de limitação social. Talvez esteja presente aqui um problema ainda mais complicado, por muitas vezes tratar-se de aspetos irreversíveis.

    É o mesmo problema que envolve o obeso, porém, neste caso, trata-se de um aspeto que pode de alguma maneira ser revertido, salvo em alguns casos patológicos.

    De qualquer maneira, em quaisquer dos aspetos citados em que a pessoa se enquadrar, terá sempre a sua autoestima, o seu poder de desenvolvimento e a sua integração social seriamente comprometidos.

    Há um princípio japonês que diz que o ser humano cresce na direção do seu elogio. O que ocorre quando é o contrário? O que ocorre com o ser humano que cresce sendo obrigado a sentir-se inferior, feio, rejeitado e discriminado? Como conviver com este estigma de as pessoas estarem sempre a olhar-nos de modo diferente, a indicar-nos com os olhos? Como lidar com o fato de pessoas evitarem encarar-nos ou mesmo ficar perto de nós?

    Este é um aspeto muito triste da realidade humana. E este processo inicia-se desde cedo, quando menino. Aquela criança alva, loura, bonita e fisicamente saudável certamente terá mais facilidades e portas abertas do que aquelas crianças obesas, negras ou portadoras de alguma deficiência ou deformidade. Ou seja, o mundo tratará melhor os mais bonitos, os mais claros e os mais ricos (normalmente estas características são coincidentes).

    É aqui que temos uma situação de humilhação social permanente.

    Esta questão também envolve o aspeto do império da estética, dos ditames pré-definidos da preferência social padrão. Estamos a falar da predefinição de que o mais belo é o alto, o magro, o branco, o liso do cabelo ou o azul dos olhos.

    Que bom que existe o desporto, a dança e a música! São atividades nas quais, por exemplo, os negros têm como mostrar suas as habilidades e serem enaltecidos, independentemente da cor ou capacidade física, mas nem sempre isto acontece. E quando não acontece? Que estrago deve causar na personalidade das pessoas! Alguns negros acabam por mostrar reflexos deste processo no olhar de desconfiança, no comportamento mais agressivo e na postura mais defensiva e tímida.

    Curiosamente, no caso da homossexualidade ocorre algo diferente. Também aqui há o olhar de reprovação, de desdém e de constrangimento. Também as pessoas são olhadas e apontadas, mas ao contrário do que ocorre nos outros casos, muitas vezes não acontecem demonstrações de incómodo com a situação. Aliás, parece que, em determinadas situações, se demonstra ou se procura demonstrar um certo orgulho da condição de gay e em geral ocorre um certo alarde e uma promoção da orientação sexual através de gestos, roupas ou fala. Aqui também entendemos haver uma situação passível de humilhação, ainda que, algumas vezes, o sujeito passivo da ação não reaja ou não seja afetado por ela.

    Cabe observar que o tema homossexualidade é dos preferidos dos gozões e humoristas. É comum usarem esta condição para ridicularizarem e é tema frequente em boa parte do repertório de programas de humor e comédias.

    A questão social: O rico e o pobre

    Também verificamos a humilhação na questão da desigualdade de classes, que envolve a angústia dos pobres e a tranquilidade dos ricos – a contínua preocupação com as finanças e a segurança do primeiro e a ostentação do segundo. Mas a configuração das situações de humilhação ocorre em circunstâncias em que membros das duas classes têm que compartilhar o mesmo espaço, os mesmos bens ou serviços.

    Ocorrerá, primeiramente, na escola, quando os filhos dos ricos chegarem em automóveis e os pobres forem levados pelos pais, a pé ou de autocarro. Ocorrerá nas festas, nos salões de dança, nas viagens e no ambiente de trabalho. Neste caso, ocorrendo o já referido assédio moral – quando o patrão hostiliza o empregado de várias formas de intimidação e humilhação.

    Ocorre também nos clubes sociais, onde há sempre os espaços e privilégios para os sócios mais ricos, e até na forma diferenciada com que são atendidos.

    Nos hospitais, quanto às acomodações, por exemplo, alguns têm até quarto privativo, enquanto os demais... sabemos como são tratados os demais, não é?

    Ascensão social – Felizmente, em quase todos os casos citados, é possível haver uma reversão do quadro, conforme a ascensão social dos representantes de segmentos minoritários ou diferenciados.

    O negro, o obeso, o deficiente e o homossexual podem, por um motivo ou outro, ascender de classe social. Há vários exemplos de celebridades que pertencem a cada um dos grupos citados.

    Nessa situação, é como se inexistisse aquele aspeto que pudesse distinguir ou, em tese, inferiorizar a pessoa.

    Os fatores celebridade ou sucesso parecem prevalecer e, felizmente, para todos nós, não há que se falar em situações de humilhação. Isso ainda serve de exemplo para mostrar que todos, independentemente da cor, do sexo, da orientação sexual e da condição socioeconómica, podem ser bem sucedidos e conseguirem o reconhecimento social.

    Qualidade de vida: Um modo bom de viver bem

    Em seguida, daremos uma trégua aos textos mais áridos e vamos promover uma conversa mais descontraída em relação a outras questões do

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