Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Morada Do Coração
Morada Do Coração
Morada Do Coração
Ebook355 pages5 hours

Morada Do Coração

Rating: 5 out of 5 stars

5/5

()

Read preview

About this ebook

Cris & Ted
NOS ANOS DO CASAMENTO
LIVRO 2

QUANDO CRIS MILLER CONHECEU TED SPENCER NO VERÃO EM QUE COMPLETOU QUINZE ANOS, ELA APENAS SONHAVA QUE SEU AMOR SERIA UM AMOR PARA SEMPRE.

Tanto Cris quanto Ted fizeram importantes promessas no passado. Ted garantiu ao pai que estaria presente ao seu lado, se algum dia ele se casasse novamente. Cris, por sua vez, prometeu à melhor amiga que seria sua madrinha quando ela caminhasse em direção ao altar. Agora que ambos os casamentos estão prestes a acontecer, o casal não poderia estar mais feliz.

O que nenhum dos dois imaginava é que precisariam viajar para cantos remotos do mundo a fim de cumprirem suas promessas e estarem presentes no casamento dessas duas pessoas amadas. Assim, o casal se planeja e compra as passagens aéreas, afirmando, a todo tempo, que está aprendendo a confiar em Deus diante de um futuro incerto.

No entanto, um telefonema inesperado acaba mexendo intensamente com os dois na véspera da viagem, e um diagnóstico assustador os leva a questionar a próxima decisão a ser tomada. Ted expõe feridas latentes de sua infância, e Cris luta para entender o seu papel no relacionamento com a mãe e a tia. Será que os obstáculos os impedirão de cumprir o que prometeram? Ou será que os dois se aproximarão ainda mais um do outro e encontrarão uma forma de se alegrarem ao descobrirem o significado mais profundo da palavra "lar"?
LanguagePortuguês
PublisherBookBaby
Release dateJul 1, 2016
ISBN9781942704034
Morada Do Coração
Author

Robin Jones Gunn

Over the past 25 years Robin has written 82 books with almost 4.5 million copies sold worldwide. To her great delight, Robin’s books are doing exactly what she always hoped to do – they are traveling around the world and telling people about God’s love. She is doing the same. Over the past ten years Robin has been invited to speak at events around the US and Canada as well as in South America, Africa, Europe and Australia. Robin and her husband have two grown children and have been married for 35 years. They live in Hawaii where she continues to write and speak.    

Related to Morada Do Coração

Related ebooks

Christian Fiction For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for Morada Do Coração

Rating: 5 out of 5 stars
5/5

1 rating0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Morada Do Coração - Robin Jones Gunn

    Português

    Cris estava feliz.

    Mais feliz do que lembrava estar em algum tempo. Sentada de frente para Trícia, no novo café favorito das duas em Newport, ficou passando o dedo pela tela do celular, em busca de uma foto. Com um sorriso tímido, virou a tela do aparelho e disse à amiga:

    – Então, pelo visto é uma menina.

    – Ah é?

    Trícia aproximou-se e inclinou a cabeça para olhar bem a imagem. Ela não parecia muito convencida.

    – O Ted continua firme na ideia do nome?

    – Sim. Firme e inabalável.

    A miúda Trícia enrugou o nariz.

    – Gussie não é o melhor nome que existe, se quiser saber minha opinião. Mas, o bebê é de vocês, não meu.

    – Eu sei. Acredite em mim. Não teria sido minha escolha também.

    Antes de guardar o celular na bolsa, Cris olhou mais uma vez a imagem na tela. Em seguida, pegou a enorme caneca e deu um gole no seu chá.

    – Mas sabe que até faz sentido? disse Trícia. Quero dizer, considerando a forma de pensar do Ted, eu até consigo entender como ele chegou a esse nome.

    – Ele está super empolgado, e eu não quero jogar água fria no entusiasmo dele.

    Cris recostou-se. Seus longos cabelos castanhos estavam presos numa trança solta, que caía por cima de seu ombro esquerdo.

    – Tem muitas coisas mudando na vida de vocês, disse Trícia.

    Cris acenou positivamente com a cabeça e sorriu.

    – Com certeza. Uma porção de boas mudanças. Mudanças maravilhosas. E muitas delas estão acontecendo numa velocidade incrível.

    – É a mesma sensação que eu e o Douglas estamos tendo. Me diga de novo…quando é que vocês vão para a África?

    – Daqui uma semana.

    A garçonete encheu novamente os copos de água das duas e demorou-se um momento, sorrindo para Cris de uma forma carinhosa e maternal.

    Cris sorriu de volta. Amava a atmosfera aconchegante e acolhedora do Café da Juliana. Retornando a atenção para Trícia, falou:

    – O Ted me disse que já está tudo certo para vocês tomarem conta da nossa casa enquanto estivermos fora.

    – Sim, e ficamos muito agradecidos, falou Trícia, beliscando um pequeno pedaço do muffin de cenoura e abobrinha que as duas estavam dividindo. Nem dá para acreditar que o pai do Ted nos permitiu morar de graça na casa dele. Não poderia ter sido em melhor hora.

    – Eu sei. Eu e o Ted tivemos o mesmo sentimento dois meses atrás, quando nos mudamos para lá.

    – Seu sogro já lhe disse se vai voltar a alugar a casa quando vocês retornarem?

    – Não.

    – Acha que dariam conta de pagar o valor, caso ele oferecesse para alugá-la a vocês?

    – Acho que não. Pelo menos não até eu e o Ted encontrarmos um emprego fixo. Mas o Ted acha que é melhor conversarmos sobre isso pessoalmente com o pai dele na semana que vem.

    Ao longo dos meses anteriores, tanto Cris quanto Ted haviam conseguido manter uma renda estável através dos mais curiosos biscates. Ted consertara pranchas de surfe na garagem de casa, e Cris usara seus dotes de costura para criar toalhas de mesa e jogos americanos personalizados. A maior parte das encomendas havia sido fruto da indicação de tia Marta, que, sendo bastante sociável, convencera diversas de suas amigas abastadas a trazerem seus projetos personalizados para a sobrinha.

    Foram dois meses de sonho, especialmente depois de ela e Ted terem perdido o emprego alguns meses antes. Cris sabia, no entanto, que a temporada idílica não duraria para sempre. Mas enquanto estivessem nela, queriam aproveitar cada minuto.

    Trícia segurou a enorme xícara de chá com as duas mãos.

    – Continuo achando bastante exótico vocês dois partirem para o outro lado do mundo por um mês. Não conheço ninguém que tenha ido às Ilhas Canárias. E não é uma loucura que a Katie esteja se casando no Quênia? Não parece surreal?

    – Sim. Muito surreal.

    – Você fala desse assunto com uma calma admirável, comentou Trícia, colocando os finos cabelos loiros atrás da orelha.

    – É porque você não me viu umas semanas atrás, disse Cris. Quando ficamos sabendo que a viagem seria na primeira semana de março, e não nas datas originais em abril, entrei em pânico. Pensei que seria impossível mudarmos os voos e tudo o que já tínhamos organizado. Mas, para variar, minha tia deu um jeito.

    Trícia inclinou-se na direção de Cris novamente.

    – Você ficaria chocada se eu dissesse que às vezes invejo você?

    – Me inveja?

    – Sim. Várias vezes quis ter uma tia Marta que me levasse para fazer compras e me pagasse passagens áreas.

    Cris teve vontade de citar as inúmeras condições que pareciam acompanhar os presentes dados por tia Marta ao longo dos anos, mas Trícia já conhecia as histórias.

    – Sou grata a ela.

    – Eu sei.

    Trícia empurrou o prato na direção da amiga, indicando que ela deveria comer o restante do muffin.

    – E eu estou feliz por vocês, continuou. De verdade. Vai ser ótimo vocês poderem fazer essa viagem agora, porque a vida irá mudar completamente quando forem pais.

    A garçonete esticou o braço entre as duas e recolheu o prato vazio. Em seguida perguntou se gostariam de algo mais, e Trícia agradeceu, pedindo a conta.

    Os pensamentos de Cris voaram longe ao considerar as mudanças que Douglas e Trícia haviam enfrentado desde que o menininho deles, Daniel, chegara ao mundo, mais de dois anos atrás. Ficou pensando, então, em todas as mudanças que ela e Ted estavam para viver. A verdade, no entanto, é que não estava com a menor vontade de pensar naquilo. Após mexer o restante de seu chá latte, bebericou-o vagarosamente.

    A garçonete se retirou, e Trícia retornou ao assunto.

    – Se bem que, do jeito que a nossa vida está agora, mesmo que eu tivesse uma tia me oferecendo passagens aéreas de graça, não poderíamos ir a lugar nenhum.

    – Nenhuma transição é fácil. Mas, assim que tiverem o espaço de vocês, e o Douglas estiver mais familiarizado com o emprego novo, vocês voltarão a se sentir em casa aqui em Newport.

    – Eu sei. E o mesmo acontecerá com vocês quando voltarem da África. Deus há de providenciar um lugar para vocês morarem. Mas é como você disse; passar pela transição não é fácil.

    As duas permaneceram sentadas, compartilhando de um gostoso silêncio. Cris estava feliz por terem a companhia uma da outra durante aquela fase e por estarem ancoradas, lado a lado, no porto seguro de uma amizade firme e de uma esperança inabalável na fidelidade divina.

    – Você acabou não terminando de me contar sobre a Gussie, disse Trícia. Quando vocês irão pegá-la?

    – A partir de sábado, segundo o Ted.

    – Já? Uau, que ótimo! disse Trícia.

    – É mesmo. Até porque eu ainda não a vi.

    – Não?

    – Não. Só por fotos. Ted assinou os papéis ontem e a levou direto para trocar o silencioso.

    A garçonete pôs a conta sobre a mesa e começou a rir em voz alta. Cris e Trícia olharam para cima, e ela rapidamente cobriu a boca com a mão.

    – Me desculpem. Eu não estava tentando bisbilhotar. É que escutei você falando algo sobre Gussie.

    Cris balançou a cabeça afirmativamente.

    – E agora você disse que estavam trocando o silencioso dela, continuou a garçonete, rindo mais uma vez.

    Cris e Trícia se entreolharam, sem entender qual era a graça.

    – Pensei que você estivesse falando de um bebê. Um bebê de verdade.

    A garçonete lançou um olhar confuso para Cris e acariciou a barriga.

    – Achei que você estivesse esperando uma menininha e que fosse lhe dar o nome de Gussie.

    Trícia começou a rir.

    – Não! Nós estávamos falando de um carro. O marido de minha amiga comprou uma kombi nova. Bem, ela é usada, mas para eles é nova. Ele tinha uma parecida quando estávamos no colégio. Mostre a foto para ela, Cris.

    Apanhando o telefone, Cris abriu a foto.

    – Esta é a Kombi-Gussie, em toda sua fofura vintage.

    – Gostei do adesivo com a inscrição Poder das flores¹ colado na frente, disse a garçonete.

    – Não é lindo?

    Cris olhou novamente a foto, admirando ainda mais o veículo.

    – Foi por causa do adesivo que meu marido concluiu que ela é uma menina.

    – Faz total sentido agora.

    A garçonete riu mais uma vez, como se de fato estivesse apreciando a brincadeira.

    – Bem, parabéns pela nova adição à família. Tenho certeza de que a Gussie vai ser muito feliz em sua casa nova, falou ela, ainda sorrindo ao se retirar.

    Cris virou-se para Trícia e abaixou a voz, sentindo-se constrangida que a conversa das duas tivesse sido ouvida.

    – Por acaso eu disse que Gussie era um bebê?

    – Não, acho que fui eu quem a chamou de seu novo bebê.

    Trícia riu mais uma vez.

    – Engraçado ela ter pensado que estávamos falando de um bebê e não de um carro.

    – Quem daria o nome de Gussie à uma criança?

    – Nunca se sabe. Vai que Gussie entra para a lista dos dez nomes mais populares para meninas…– Acho que não, falou Cris, pegando a conta.

    – Ei, é minha vez de pagar. Lembra?

    – Vamos dividir.

    – Não. Você pagou na última vez. Passe a conta para cá.

    Trícia olhou firmemente para Cris, como que tentando reforçar suas palavras. O problema era que seu rosto arredondado jamais seria capaz de transmitir um ar ameaçador. Jamais.

    – Então eu deixo a gorjeta.

    Trícia não se opôs à sugestão de Cris. Abriu sua grande bolsa e pôs-se a procurar pela carteira.

    – Quase me esqueço de perguntar. Como o Ted está se sentindo em relação ao casamento do pai?

    – Muito bem. Ele está feliz pelos dois. E eu também.

    – Mas e aquela questão sobre a infância dele?

    – Que questão sobre a infância dele?

    – É que durante muitos anos foram só ele e o pai. Você sabe como os dois são próximos. O Douglas me disse que acha que o Ted está passando por uma fase difícil agora que o pai dele vai se casar e deixar de ser sua base.

    – Sua base?

    – É, a pessoa a quem ele recorre, falou Trícia, olhando o total da conta.

    Cris franziu a testa. Por que o Ted falou de seus sentimentos em relação ao casamento do pai para o Douglas e a Trícia? Ele nunca me disse nada sobre uma possível dificuldade em relação a isso.

    – Sei que o Ted terá de se adaptar, falou Cris. Mas ainda estamos na esperança de que o Bryan e a Carolyn voltem a morar aqui. Mas, de um modo geral, estamos muito felizes por eles.

    Trícia pagou a conta, Cris deixou a gorjeta, e as duas saíram do café, deparando-se com toda a claridade da manhã.

    – Sabe, quando contei à minha mãe que o pai de Ted ia se casar nas Ilhas Canárias e que planeja viver por lá, ela teve de pesquisar a localização das ilhas. Quando viu que elas ficam ao largo da costa oeste da África, disse que ele não deve durar lá mais que um ano. O que você e o Ted acham? O pai dele vai continuar morando nas Ilhas Canárias indefinidamente?

    – Não sei. A noiva dele, Carolyn, tem muitos familiares por lá. Mas é mesmo um lugar muito distante daqui. Tenho certeza de que é isso que o Ted está sentindo.

    – É realmente longe. E o Quênia também.

    – Pois é.

    Cris olhou de relance para as palmeiras que circundavam a parte posterior do estacionamento e pensou na sua melhor amiga ruiva, tão corajosa e espontânea. Muito tempo antes, Cris prometera a Katie que estaria ao lado dela no dia de seu casamento. Só não tinha imaginado que teria que ir à África para cumprir sua promessa.

    Chegando ao carro branco de Trícia, Cris abriu a porta do passageiro. Um urso de pelúcia e um pacote de lencinhos umedecidos a esperavam no banco da frente.

    – Pode jogar essas coisas no banco de trás, disse Trícia. Este carro está uma bagunça. Me desculpe.

    – Não se preocupe. Estou agradecida por você estar sendo a minha motorista hoje.

    – E eu estou admirada que você tenha vindo a pé até aqui.

    – Não é tão longe assim, disse Cris. Estou tentando me exercitar mais porque tenho ficado muito tempo assentada enquanto costuro.

    – Bem, aonde quer ir primeiro?

    – À Loja de Noivas da Gina, para buscar o vestido de Katie.

    – O que você vai fazer se for necessário algum outro ajuste quando ela experimentar o vestido no Quênia?

    – Minha tia comprou um pequeno kit de costura para eu levar, e tenho vários alfinetes de segurança.

    Bem naquela hora, o celular de Cris soou. Removendo-o da bolsa, viu que tia Marta havia lhe mandado uma mensagem.

    – Por falar na minha tia, ela quer saber se você gostaria de ir à casa deles na semana que vem para limpar a geladeira.

    Trícia lançou um olhar confuso para Cris.

    – Por quê? A empregada dela pediu demissão?

    – Não, acho que ela está perguntando se vocês querem a comida que está sobrando na geladeira, para que não estrague enquanto estiverem fora.

    – Sim, claro! Muita gentileza dela perguntar. Você sabe que meu marido jamais recusaria uma oferta gratuita de comida.

    Cris escreveu uma mensagem rápida para tia Marta, e Trícia retomou a conversa que haviam iniciado mais cedo no café.

    – Quer dizer então que a Katie e o Eli continuam firmes na ideia de fazer o casamento num safári africano?

    – Sim.

    – E seus tios ainda estão planejando ir aos dois casamentos?

    – Estão.

    Trícia olhou novamente para Cris.

    – Você não falou muito sobre os seus sentimentos em relação a isso.

    – De qual parte você está falando? Do safári ou dos meus tios?

    – De ambas.

    – No início eu tinha minhas dúvidas sobre esse negócio do safári, mas a Katie nos mandou tantas informações que estou bem empolgada. O Ted também.

    – Imagino que o Ted esteja mesmo. Mas, e a sua tia? Você acha de verdade que ela vai ficar bem andando por lá num jipe e dormindo numa barraca?

    – Segundo ela, sim. Ela fez uma pesquisa extensa sobre todos os detalhes da viagem e convenceu Katie a ficar num hotel antes do casamento, em vez de usarmos as barracas. Disse que vamos dormir em camas luxuosas e comer refeições premiadas. Segundo ela, são acomodações de primeira classe no Serengeti.

    Trícia trocou de faixa e desligou a seta. Com hesitação na voz, disse:

    – Sei que é maldade dizer isto, mas, mesmo com todo esse luxo e tal, eu espero que sua tia não…

    Cris aguardou que ela encontrasse o final desejado para sua frase.

    – Espero que ela não torne as coisas desagradáveis para todo mundo.

    A delicada descrição de Trícia acerca do temperamento de tia Marta fora certeira. Marta realmente tinha o dom de irritar qualquer pessoa que passasse muito tempo na sua companhia. Porém, de uma forma profunda e alicerçada em laços sanguíneos, Cris muitas vezes se sentia mais próxima da tia do que de sua própria mãe. Seu nível de empatia por Marta continuava presente mesmo em situações capazes de enlouquecer outras pessoas.

    – Eu amo a minha tia, falou Cris, sem variar o tom de voz.

    – Eu sei. Talvez seja grosseiro de minha parte comentar isso, mas eu e o Douglas estávamos conversando outro dia e esperamos que você e o Ted não sejam atropelados por ela nessa viagem. A ideia é que possam dedicar toda a atenção de vocês ao Bryan e à Carolyn, e ao Eli e à Katie. Esse é o motivo da viagem.

    – E é por isso que meus tios estão indo conosco.

    Trícia lançou um olhar descrente para Cris.

    – Vai dar tudo certo, falou Cris com mais otimismo do que realmente sentia.

    Estava consciente de que viajar ao lado de Marta poderia ser difícil, já que tinha ido com ela à Suíça muitos anos antes. Também sabia que todos os detalhes da extensa viagem já estavam devidamente planejados, de modo que a melhor escolha que poderia fazer era a de estender amor à tia no decorrer daquele tempo e não levar as coisas para o lado pessoal.

    – Espero mesmo que dê tudo certo.

    Trícia fez uma breve pausa.

    – Posso falar mais uma coisa?

    – Claro.

    – Talvez eu não devesse dizer isto, Cris, mas desde que vocês se mudaram para cá, nunca vi a sua tia intrometer tanto na vida de vocês. Parece que ela continua achando que você é aquela adolescente ingênua de quatorze anos, que veio de uma fazenda do Wisconsin para passar as férias de verão com ela. Só que você mudou. Todos nós mudamos.

    – Eu sei.

    Trícia manteve a atenção na estrada.

    – Acho que sua tia a trata como a filha que nunca teve.

    Cris já havia pensado nas mesmas coisas diversas vezes.

    – Talvez eu esteja falando demais, Cris, mas é uma pena que a Marta nunca tenha tido uma filha. Ela poderia ter descarregado nela todo o seu treinamento de socialite e, de bônus, você ainda teria uma prima.

    Trícia estacionou numa vaga de frente para a Loja de Noivas da Gina e desligou o carro.

    Em vez de abrir a porta para descer, Cris inspirou profundamente.

    – Minha tia teve uma filha, sim.

    Trícia virou-se para ela com os olhos arregalados.

    – Seu nome era Joana, falou, com um nó na garganta.

    ¹ Poder das Flores (Flower Power, em inglês) foi um slogan usado pelo movimento hippie, caracterizado por imagens de flores bem coloridas. (N. da T.)

    Cris não esperava que, ao dizer o nome Joana, as lágrimas lhe chegassem tão rapidamente à borda das pálpebras.

    – Meus tios tiveram uma menininha, revelou à Trícia. Eles lhe deram esse nome em homenagem a minha bisavó.

    – Cris…eu não sabia, disse Trícia em voz baixa.

    – Eu nunca conversei sobre ela. Só fiquei sabendo por que minha mãe me contou quando eu ainda era adolescente. Marta teve uma menininha que nasceu prematura. Talvez tenha nascido com alguma deficiência. Não sei ao certo, porque nunca perguntei os detalhes à minha mãe. Só sei que ela morreu quando tinha apenas alguns dias de nascida.

    – Que triste.

    – Pois é.

    Cris engoliu seco antes de contar a Trícia o restante da dolorosa história.

    – Aí eu nasci poucos dias depois.

    Por um momento, nenhuma das duas falou.

    Trícia balançou a cabeça.

    – Não consigo nem imaginar o que teria sido de mim, se o Daniel tivesse morrido com poucos dias de vida. Como alguém se recupera de um trauma desses?

    – Nem sei se é possível recuperar-se completamente.

    – Ainda mais quando a sua única irmã ganha uma menininha alguns dias depois, e você passa os anos vendo aquela criança saudável crescer e se lembrando que…

    Trícia deixou a frase inacabada pairar entre elas.

    Cris sentiu a garganta apertar novamente.

    – Agora que eu e o Ted estamos falando em aumentar a família, tenho pensado bastante sobre a perda de Marta. Sinto mais empatia por ela e acho que entendo por que ela age comigo dessa forma.

    – Sim, claro.

    Trícia ficou olhando fixamente para o para-brisa, enquanto as duas permaneciam assentadas no estacionamento.

    – Você é a filha que ela não pôde criar.

    – Exatamente.

    – Sabe o que mais? falou Trícia, virando-se para olhar para Cris. Agora faz sentido. Pare e pense. Sua mãe e seu pai concordaram em deixar você passar o verão inteiro aqui com seus tios. Acho que os meus pais não teriam permitido uma coisa dessas quando eu tinha quatorze anos de idade. A lealdade e o amor de sua mãe pela irmã talvez tenham pesado nessa decisão. Você alguma vez já perguntou à sua mãe sobre isso?

    – Não. Minha mãe costuma guardar seus pensamentos e sentimentos para si.

    – Bem, fico feliz que ela não tenha guardado você apenas para si própria. Que bom que ela foi corajosa e a dividiu com a irmã. Já pensou se os seus pais não tivessem deixado você vir para cá? Não seria só a sua vida que seria completamente diferente hoje.

    Cris absorveu as palavras de Trícia de tal forma, que seu coração acelerou ao pensar em como teria sido a sua vida, caso nunca tivesse conhecido Ted, Douglas, Trícia, Katie e o restante de seus amigos, com quem tinha uma amizade eterna. Tentou imaginar, então, uma vida alternativa que girasse em torno da infância protegida que ela vivera no Wisconsin. Cris só havia se tornado a pessoa que era em virtude das experiências que tivera em Newport. Todos os seus relacionamentos mais importantes, incluindo o seu relacionamento com Cristo, eram resultado das semanas que passara na casa de praia dos tios. A ideia de nunca ter vindo para Newport lhe fez sentir um calafrio na nuca.

    – Não é uma loucura pensar que uma única decisão é capaz de afetar uma série de eventos e mudar uma vida para sempre? falou Trícia, esfregando a palma da mão no volante. Mudar um monte de vidas, na verdade.

    Algo lá no fundo do coração de Cris fez com que ela tremesse ao pensar em tudo que sabia sobre a soberania de Deus. Ele tinha planos para seus filhos e cumpria cada um deles. Seus pais haviam lhe negado diversas coisas ao longo da infância e da adolescência. Todavia, para essa decisão, que mudou a sua vida, eles haviam dito sim, mesmo tendo todos os motivos lógicos para dizerem não.

    – Fico com vontade de chorar diante de tamanha maravilha, disse Cris.

    – Os caminhos misteriosos do Senhor e sua perfeita coordenação do tempo, falou Trícia com um sorriso. Essa não é uma das frases da nova música que o Ted e o Douglas estão escrevendo? Sem dúvida alguma a mão de Deus tem estado sobre a sua vida.

    Cris concordou lentamente com a cabeça.

    – Sabe de uma coisa? Acho que preciso agradecer aos meus pais pela coragem que tiveram.

    – Boa ideia. Agradeça-lhes por mim também.

    Trícia se esticou e apertou o braço de Cris.

    – E obrigada por me contar sobre sua tia. Foi muito esclarecedor. Você realmente é a filha que Marta nunca teve.

    O comentário de Trícia e a comovente conversa que as duas tiveram no carro continuaram nos pensamentos de Cris durante o tempo que passaram juntas resolvendo afazeres, ao longo do restante da manhã.

    Na volta para casa, Cris perguntou a Trícia se a amiga poderia deixá-la na casa de Bob e Marta.

    – Pensei em mostrar o vestido para minha tia. Ela ainda não o viu.

    – Quer que eu entre ou espere por você?

    – Não. Vou pedir ao Ted para me buscar mais tarde.

    Pondo a capa do traje sobre o braço e três sacolas de compra cheias na outra mão, Cris deu adeus a Trícia e caminhou rapidamente até a nova porta da frente da luxuosa casa de praia de Bob e Marta. Tocou a campainha e ficou esperando.

    Marta abriu a porta com uma expressão de surpresa no rosto. Sua maquiagem estava perfeita.

    – O que você está fazendo tocando a campainha, Cris?

    – Achei que era a coisa educada a se fazer.

    Cris entrou na casa e inalou o aroma do odorizador de ambientes favorito da tia, uma mistura de limão e frésia. A essência era agradável e ao mesmo tempo surpreendente, como Marta.

    – Que é isso que está dizendo? Esta é sua segunda casa. Sempre foi e sempre será.

    Marta franziu os olhos escuros.

    – Você fez compras? perguntou ela, como se não pudesse acreditar que Cris havia ido às compras sem ela, já que comprar era seu esporte favorito.

    – Sim. Trícia eu saímos hoje de manhã. Pedi para ela me deixar aqui para que eu pudesse lhe mostrar o vestido

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1