Veja quem eu sou
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Sete histórias de diferentes tamanhos, escritas em momentos diferentes: "Guardião", "O mistério de Greystone", "A moça no balanço", "Recordação de um amor", "Veja quem eu sou", "Sonhos de uma noite de verão", "Meu amor". Todos com elementos em comum que depende de você descobrir. Mas lembre-se, nem tudo é o que parece ser e a qualquer momento sua vida pode mudar. Portanto, mantenha os olhos abertos e aproveite a leitura.
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Veja quem eu sou - Silvia Castellano
Aos sonhadores de todas as idades.
Guardião
Olhara o amanhecer que surgia pela janela. Era o início de um novo dia, mas ainda não sabia que despontava uma segunda-feira diferente das outras, que me teria mudado totalmente a existência.
O senhor Hamilton, o meu protegido, sempre acordava cedo, um pouco por hábito, um pouco por falta de sono. Agora, estava com oitenta e seis anos e tinha problemas para dormir.
— Bom dia, George — o cumprimentara com um sorriso, saltando da pequena poltrona onde tinha passado a noite e acompanhando-o para fora do quarto.
Ele não respondera, como era previsível.
— Hoje precisamos ir ao médico — acrescentara com um tom alegre.
Ainda nenhuma resposta. Não sabia nem mesmo por que me obstinava a falar com ele, já que não podia me ouvir.
Esperara-o sair do banheiro, depois o seguira até a cozinha, indo ao seu lado, mesmo que caminhasse muito lentamente. Não podia perdê-lo de vista. Nunca.
Porque eu, Jeremy Whitman, era um anjo da guarda. O seu.
Fui destinado ao senhor Hamilton dez anos atrás, porque o seu cuidador anterior subiu de grau e fui o escolhido para substitui-lo. Por um lado, na verdade, ocupar-se de um ancião não era o máximo das excitações, mas não era a primeira vez. Sendo um anjo jovem, eu não tinha qualquer possibilidade de escolha. Mas foi, de qualquer maneira, um elemento positivo: os anciões saiam pouco e, em consequência, eram menos sujeitos a acidentes, então minhas tarefas eram limitadas.
Queria uma tarefa um pouco mais empolgante, mas infelizmente me faltavam ainda trezentos e sete anos antes de subir de posição. Um tempo infinito, mesmo para um anjo.
Todavia, naquela manhã, o senhor Hamilton devia ir ao médico, então, seria um pouco mais trabalhosa do que de costume. Observei-o colocar as roupas e os sapatos lentamente, enquanto eu volteava em círculo pelo quarto.
— Sabe, George, acredito que você e eu devemos fazer mais ginástica. Tenho as asas todas entorpecidas. Estou ficando flácido, não acha? — divertia-me brincando com ele, porque me sentia menos sozinho. — Talvez devêssemos ir à academia. Você poderia fazer um pouco de peitoral, o que me diz?
Rira para si mesmo, depois correra ao seu auxílio para libertar o casaco que estava preso ao cabide do guarda roupa. Esperara que vestisse o casaco, depois, como sempre, o observei saudar a foto da sua falecida esposa, colocada sobre o criado mudo e, finalmente, saímos porta afora.
O consultório do médico se encontrava a poucos quarteirões de distância e devia-se atravessar somente um cruzamento. Levamos cerca de vinte minutos pela velocidade do andar do senhor Hamilton, mas não tínhamos pressa. Não tínhamos outros compromissos pela manhã e a consulta era às oito e meia. Havia muito tempo.
Volteara junto a ele, olhando em volta distraidamente. Havia muitas crianças que iam para a escola, correndo e empurrando-se entre elas e, como sempre, encontrara-me agradecendo ao Céu por não ser um A.C.I. (Anjo Custódio Infantil). Muitos gritos e lamentos para o meu gosto. A maioria das crianças que conheci na minha vida humana e que via todo dia pela estrada eram umas verdadeiras pestes e meus Irmãos, os seus custódios, eram obrigados a correr atrás delas, com uma expressão de quem está à beira de uma crise de nervos. É verdade, nós anjos recebemos o dom da Santa Paciência, mas mesmo esta podia terminar e eu nunca fui um tipo particularmente tolerante. Talvez, melhoraria isso com a idade adulta e todo o resto, mas uma espingarda do exército da União tinha dado fim a minha existência, matando-me aos dezoito anos. Destino cruel, talvez, mas agora não me importava mais. Afinal, minha carreira de anjo custódio me agradava.
Finalmente, chegamos no semáforo, mas enquanto esperávamos abrir o sinal verde percebera uma presença negativa aos arredores. Olhara em volta, aguçando a visão.
Aqui está ele. Era um tipo alto, escuro, com grandes asas negras. Era um demônio, um Obscuro. Pela áurea que o circundava entendera que se tratava de um jovem, mas era de qualquer maneira perigoso.
Ele também me percebeu, mas olhara o senhor Hamilton e fizera uma risota maléfica.
De repente, minha vista escurecera. Era um de seus truques sujos para diminuir nós anjos, mas eles eram eficazes, sobretudo quando você não o esperava. Levara um segundo para recuperar-me da surpresa e outro bom tempo para combater a escuridão com minha luz interior.
Um segundo demasiado longo.
Quando readquirira a visão o senhor Hamilton estava estirado no meio da avenida, inconsciente. Era impossível, não tinha me ausentado tanto assim! O Obscuro devia ter manipulado o tempo, de modo a deixar o homem sem proteção por alguns minutos.
Procurara o demônio entre a multidão, mas tinha sumido.
Covarde.
Correra de encontro ao senhor Hamilton, preparando minhas energias para curá-lo. As pessoas começaram a acudir, enquanto os outros carros paravam todos em volta, no entanto, eu ainda tinha alguns instantes para socorrê-lo.
Sua chama vital estava realmente debilitada, mas eu ainda podia salvá-lo. Não devia morrer naquele dia, não por culpa minha...
Pousara a mão sobre o seu peito, na altura do coração, e deixara fluir minha energia curadora.
— Vamos George, fique firme! — gritara, esperando que naquela fase