Livre para Crescer
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Sabemos que o "mundo ideal" não existe. Que o ser humano desde sempre viveu em condições pouco ou nada "ideais" mas que, mesmo em condições extremas, foi sobrevivendo; sabemos que o ser humano pode sobreviver a situações trágicas, à escassez de recursos, violências, poluição, acontecimentos traumáticos... e que, até em condições de vida o mais hostis, há sempre alguém que consegue manter as capacidades de amor, criatividade, génio, compaixão, compreensão, que nos tornam humanos.
A questão que pretendo analisar neste livro e que, na minha opinião, todos que têm a responsabilidade de criar crianças se deveriam colocar, é a seguinte:
"Queremos criar seres humanos que, apesar de todas as condições adversas, sobrevivem?
Ou:
Queremos contribuir para que as condições sejam as menos adversas possíveis ao saudável desenvolvimento físico e emocional, de forma a possibilitar que floresça o potencial de cada um?"
Neste texto, e partindo do princípio de que as disfunções sociais existentes são resultado de uma educação obsoleta, autoritária e manipuladora que começa em casa e se perpetua na escola, serão descritos aspetos fundamentais a ter em conta para reverter esse processo educacional decadente. Apresentarei propostas para criar crianças emocionalmente saudáveis e contribuir, assim, para uma sociedade mais equilibrada e sustentável.
Será analisado como nos desviamos das necessidades inscritas no nosso padrão biológico e as consequências que isto tem a nível individual e social. Apresentarei algumas ideias para aproximar as necessidades à realidade, de modo a criar um contexto de educação mais coerente e saudável, que permita a cada um desenvolver o seu máximo potencial, de modo a enriquecer e inspirar a nossa sociedade.
Por fim, irei descrever a minha opção pessoal que resulta para a minha família e vai ao encontro dos meus valores descritos de liberdade, desenvolvimento individual e tolerância: o Unschooling.
Agnes Sedlmayr
Agnes Sedlmayr é ativista pelos direitos da criança, Parentalidade com apego (Attachment parenting) e Unschooling. Tendo sido professora, decidiu abandonar a profissão, por não se identificar com os modelos vigentes nas instituições de educação. Acreditando na urgência de melhorar e transformar a nossa sociedade, defende e divulga uma mudança radical no modo como são educadas as crianças; Autora do e-book “Livre para Crescer”, é oradora nos mais diversos eventos, apoiando famílias e divulgando a escolha de caminhos mais adequados ao saudável desenvolvimento emocional, cognitivo e físico das crianças. Agnes tem três filhos, que nunca frequentaram infantários ou escola.
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Livre para Crescer - Agnes Sedlmayr
Prefácio
Sabemos que o mundo ideal
não existe. Que o ser humano desde sempre viveu em condições pouco ou nada ideais
, mas que, mesmo em condições extremas, foi sobrevivendo; sabemos que o ser humano pode sobreviver a situações trágicas, à escassez de recursos, violências, poluição, acontecimentos traumáticos. E que, até em condições de vida o mais hostis, há sempre alguém que consegue manter as capacidades de amor, criatividade, génio, compaixão, compreensão, que nos tornam humanos.
Porém, a questão que pretendo analisar neste texto e que, na minha opinião, todos que têm a responsabilidade de criar crianças deveriam colocar, é a seguinte:
"Queremos criar seres humanos que, apesar de todas as condições adversas, sobrevivem?
Ou:
Queremos contribuir para que as condições sejam as menos adversas possíveis ao saudável desenvolvimento físico e emocional, de forma a possibilitar que floresça o potencial de cada um?"
Para responder a esta questão, ao longo deste texto irei partilhar alguma informação, sobre quais serão então as condições ideais
para o desenvolvimento saudável do ser humano. Dado que provavelmente nos nossos dias não existe nenhum país, povo, tribo, etc. que apresenta essas condições ideais para nos servir de exemplo, julgo que teremos que analisar fatores biológicos com base em evidências científicas que nos indicam de que forma o ser humano deveria viver, para estar em equilíbrio físico e emocional.
Analisarei como nos desviamos destas necessidades que estão inscritas no nosso padrão biológico, e as consequências que isto tem a nível individual e social.
Apresentarei algumas ideias para aproximar as necessidades à realidade, de modo a criar um contexto de educação mais coerente e saudável, que permita a cada um desenvolver o seu máximo potencial, de modo a enriquecer e inspirar a nossa sociedade.
Por fim, irei descrever a minha opção pessoal que resulta para a minha família e vai ao encontro dos meus valores descritos de liberdade, desenvolvimento individual e tolerância: o Unschooling.
Agosto 2014
Dedicatória
Dedico este texto aos meus amados filhos Timo e David, que desencadearam em mim um processo de consciencialização que está longe de chegar ao fim. Dedico este livro também às minhas sobrinhas Naylah e Catarina, assim como aos meus pequenos grandes amigos Gabriel, Maria pequena
, Ema, Maria grande
, Dúnia, Bernardo, João Nuno, Simão, Carmen, Lia, Jamal, Miguel e aos meninos do grupo de ensino doméstico da Lousã: Malik, Jey, Lisa, Harvey, Ruben, Oriana, Santiago e Valentim.
Agradeço ao meu companheiro Álvaro por me apoiar incondicionalmente e partilhar este caminho.
Capítulo 1
Necessidades da criança num mundo industrializado
Atualmente uma vasta maioria de crianças na Europa vive em condições físicas quase ideais: alimentação suficiente e nutritiva, casa, roupa, cuidados de higiene, medicação disponível, brinquedos e acesso a inúmeras fontes de informação.
Como nunca na história humana, a maioria das famílias na Europa não necessita de se preocupar diariamente em conseguir o mínimo de alimentos para não morrer à fome, ou procurar locais seguros contra a intempérie, ou ver- se sujeitos a doenças sem possibilidade de diagnóstico ou cura, ou escassez de água limpa, etc.
Desta forma, temos a oportunidade de nos preocupar com outras condições que não sejam estritamente para a sobrevivência direta no quotidiano, e temos a possibilidade de nos dedicar aos aspetos psicológicos, ao desenvolvimento do bem-estar emocional e à manutenção de um bem-estar geral baseado no nosso equilíbrio emocional, intelectual e espiritual.
Infelizmente, parece-me que não é esta a nossa prioridade. Por um lado, devido a fatores externos como a estrutura política e económica dos países, a influência dos mass-media que espelham os lóbis das maiores empresas europeias e mundiais baseadas em lucro, e a necessidade e vontade de ganhar dinheiro; pelo outro lado, devido a fatores internos resultantes da perpetuação de disfunções não questionadas, transmitidas de geração em geração.
Assim encontramo-nos hoje em dia perante a triste realidade duma sociedade que, em termos materiais, atingiu um patamar nunca visto, mas em termos emocionais sofre profundas disfunções.
É normal, isto é, comum, que cada família europeia tenha um carro, uma casa com televisão, passe ferias na praia ou noutro país, utilize computadores e telemóveis. É também normal, comum, que em cada família se encontrem alguns ou todos os adultos com depressão (diagnosticada ou não), desinteresse geral pela vida, doenças psicossomáticas, burn-out, disfunções sexuais, dificuldades em comunicar, fobias, ausência de autoestima (muitas vezes disfarçada sob megalomania, consumismo, aquisição de elevadas posições sociais), ansiedade geral, desconfiança no mundo, medo constante do futuro...
Nas crianças, é considerado normal (comum), que roam as unhas, tenham tiques nervosos, obesidade, perturbações de sono, stress, dificuldades de coordenação motora, necessidades especiais
na aprendizagem escolar.
Nos jovens, é, ainda, normal (comum) que se separem radicalmente dos adultos, criem peer groups, pratiquem opressão (bullying), experimentem drogas, entrem precocemente na atividade sexual na qual mudem frequentemente de