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Fortuna a Saga da Riqueza
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Fortuna a Saga da Riqueza

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About this ebook

Fortuna a Saga da Riqueza narra a historia de Ricardo e Carolina em meio à crise econômica mundial de 2008. Falando sobre a busca da prosperidade, o livro é repleto de fatos históricos e de muita ação.

Ao longo da trajetória dos personagens, o leitor tem a oportunidade de conhecer um pouco da educação, do estilo de vida, do pensamento político e das ideias que norteiam o imaginário popular do Brasil.

O romance aborda a saga de uma família que conheceu as evoluções socioeconômicas do século XX abalado pelas guerras mundiais, embalado pelo capitalismo e consolidado pela sociedade de consumo, onde, afinal, o que importa é enriquecer.

Os personagens têm identidades e trajetórias muito claras e definidas, personificando as diretrizes econômicas e sociais que nortearam os acontecimentos das últimas décadas.

Fortuna a Saga da Riqueza é um livro vivo, a historia não acabou. Ela continua nos países que lutam contra a instabilidade e o desemprego.

LanguagePortuguês
Release dateFeb 4, 2014
ISBN9781311043948
Fortuna a Saga da Riqueza
Author

Cassia Cassitas

Cassia Cassitas made her career in technology. She has remained in academics both as a teacher and a student, working on innovative projects including those that involve prospects.She specialized in philosophy and existence, information engineering, and college didactics. Currently she studies French, due to her husband’s influence, and English to enlarge her world.Mother to two adolescents who devour books, Cassia published her first work, Sunday, The Game, in 2010, a digital best seller in Brazil. Cassia Cassitas lives with her family in Curitiba, where her dreams prosper under the eyes of her readers.

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    Fortuna a Saga da Riqueza - Cassia Cassitas

    "Utilizar o tempo, o intelecto, as próprias forças para conquistar o que se quer, é como encontrar um tesouro."

    1

    O carro deixou o shopping Iguatemi e parou na frente de um edifício moderno no Morumbi, exatamente às 19h44, quando o acúmulo de trânsito do horário de rush já dava sinais de enfraquecimento. O portão eletrônico se abriu e Carolina dirigiu-se à sua vaga no andar térreo. Ao descer do carro após estacionar, deparou-se com o carro de seu marido.

    Porque estaria na garagem àquela hora? Ricardo já teria chegado?

    Nos últimos meses, é verdade, a rotina de Ricardo tornara-se incerta, porém, ele nunca voltava da agência antes das dez.

    Carregando sua bolsa, algumas sacolas e o notebook, Carolina caminhou em direção ao elevador. No hall, apertou o botão e, enquanto aguardava, arrumou a blusa mirando-se de lado no grande espelho à sua direita. Satisfeita, ela acariciou a barriga, que exibia uma gravidez de seis meses.

    Àquela hora do dia, o lustre de cristal neoclássico já estava aceso, valorizando os elementos do ambiente. As portas se abriram e ela entrou no elevador. Após digitar o código de acesso ao seu apartamento, recostou-se na lateral do elevador panorâmico enquanto admirava a vista da cidade iluminada, que sempre a deslumbrava, até que a porta se abriu, resgatando-a de seus pensamentos.

    Ela entrou no apartamento e encontrou Ricardo na sala, esparramado no sofá em frente à TV.

    Deixou sua bolsa na mesa próxima à porta e depositou as sacolas no chão. Oi, amor, foi falando. Já em casa?

    Ele respondeu ao cumprimento mantendo os olhos grudados na tela. Recostado a uma das laterais do sofá, havia afrouxado a gravata, tirado os sapatos e dobrado as mangas da camisa, mantendo uma das pernas sobre o sofá e a outra no chão. Parecia respirar com esforço, e seus gestos denunciavam as mãos úmidas.

    Se tivesse me avisado que chegaria cedo, teria vindo direto para casa.

    Ele não disse nada, pois o programa na TV capturara totalmente sua atenção.

    Um repórter do Globo News entrevistava um grupo de pessoas sobre o impacto da crise no mercado imobiliário americano nas instituições financeiras estrangeiras. Alguns defendiam a posição de que a bolha inflacionária nos preços de imóveis nos Estados Unidos levaria o país a uma recessão comparável à depressão da década de 1930, enquanto outros argumentavam com números e estatísticas que o modelo expansionista tinha sido adotado há décadas, com sucesso na geração de empregos e circulação monetária.

    Ricardo assistia ao programa como se participasse da discussão, sacudindo a cabeça e murmurando para si mesmo. Ela mal podia ouvir suas palavras.

    A depressão é um fato, senhores. Não é um acontecimento congelado na história, que vocês podem enclausurar num relato histórico. Com um suspiro, continuou. Olhem para os lados, são períodos em que milhões de pessoas sem meios de ganhar o próprio sustento vivem à deriva, reduzidos a nulidades na sociedade. Tudo isso, por não conseguirem trabalho e saberem que dificilmente serão sustentados. Isso é a degradação, essa é a realidade!

    Ele argumentava com os economistas e apontava com o dedo na direção dos interlocutores. Seu relógio estava em cima da mesinha de centro ao lado dos celulares desligados. Ele sempre tirava o relógio quando se contrariava.

    Carolina balançou a cabeça. Eram apenas mais das habituais noticias negativas da economia. Como de costume, Ricardo permanecia sob o domínio da própria mente viciada em estresse.

    Aconteceu alguma coisa, Ricardo? — perguntou, enquanto tirava os sapatos e o casaco, voltando-se para trancar a porta de entrada.

    Saí para pensar. Mas em todos os lugares, só se fala no problema das hipotecas, seu impacto, seus culpados. A cada momento surgem novas informações sobre os números dos empréstimos, os fundos de investimentos, a situação dos mutuários...

    É verdade, só se fala nisso. — disse, sentando-se na poltrona mais próxima e inclinando o corpo para beijá-lo. Sem se atrever a tocá-lo, permaneceu assim, esperando uma oportunidade para se aproximar.

    Você está pálido, quer um pouco d’água? Estou ficando preocupada, você está bem?

    Ele ergueu as mãos sobre a cabeça. Não aguento mais. A pressão dissimulada dessa diretoria é cruel. Minha cabeça está quase explodindo. Usam palavras e reuniões, pedem relatórios e mais relatórios. O que eles querem? Que alguém escreva um parágrafo de mea culpa, se autodenuncie como protagonista dos acontecimentos?

    Ricardo estava transtornado. Levantou-se, tirou a gravata e a deixou cair no chão, levando a mão à testa várias vezes enquanto andava de um lado para outro, sussurrando consigo mesmo.

    O que houve? Novidades sobre aquele caso? Carolina procurava manter-se no domínio de suas emoções, enquanto apanhava a gravata e tentava estabelecer pelo contato visual e o tom de sua voz uma relação de cumplicidade com Ricardo.

    Olhando para ela, Ricardo continuou. As novidades estão nos jornais, na televisão, na internet. Sempre fui contra essas práticas modernas de capitalização. Capitalização! Meu Deus, como podem associar títulos podres à capitalização? Estão todos alienados ou sou eu que estou ficando louco? A legislação foi observada, todos os detalhes estão nos contratos. As pessoas não leem os contratos antes de autorizar uma operação com seu dinheiro?

    Costumam ler o suficiente. Normalmente, algo entre a sua capacidade de entender o que está escrito e a confiança que depositam no seu gerente de investimentos...

    Sacudindo a cabeça, se voltou para a TV. Veja esses senhores! Ouça esses argumentos! Carolina, você está ouvindo essas afirmações? Cada uma das etapas desse desastre está bem aí: os juros baixos por um longo período, o aparecimento de inovações financeiras, a escalada contínua dos preços, as negociações de ativos em função de uma suposta valorização futura.

    Ele fez uma pausa para recuperar o fôlego. Com os olhos vermelhos olhou fixamente para Carolina. Olhe a calma com que demonstram ter razão desmentindo os fundamentos de qualquer escola de economia! E essa certeza de que dessa vez é diferente? Não é! Eles sabem que não é verdade, que a situação não se sustenta e em poucos dias estará escancarada em todos os jornais.

    Ela estremeceu perante aquela imagem. Estou muito preocupada com você, Ricardo. Esse assunto não é da sua alçada, está nas mãos do governo, do senado, dos mecanismos de regulação internacionais. Você precisa se acalmar, senão a sua história terminará antes dessa crise. Por que está massageando as pernas, é aquela sensação de formigamento novamente? Venha, um banho vai ajudar você relaxar, enquanto preparo algo leve para jantarmos.

    Esfregando as mãos nas pernas, respondeu sem olhá-la. Preciso pensar. Saí mais cedo para conseguir me distanciar.

    Então veio ao lugar certo, essa ducha vai te refrescar, e depois conversamos — sorriu e o beijou rapidamente nos lábios.

    Ricardo deu de ombros e se deixou arrastar por Carolina até o quarto. Começou se despir para o banho sem dizer uma palavra. Carolina abriu o chuveiro, regulou a temperatura da água em 20 graus Celsius e colocou no box o sabonete líquido das ocasiões especiais.

    Pendurou uma toalha branca próxima ao box e voltou para o quarto. Hoje vou te emprestar minha emulsão especial. Ela é ótima.

    Sentado na cama, Ricardo desabotoava a camisa mecanicamente; não tinha forças para despi-la. Sentia todo seu corpo tremer como se estivesse com febre, mas sua temperatura não se alterara. Carolina o ajudou a tirar a camisa, desafivelou seu cinto, suas calças, tirou as meias e o apoiou para que ficasse de pé.

    Então perguntou, Quer mais alguma coisa?

    Não. Ele se arrastou para dentro do banheiro.

    Assim que a porta do banheiro se fechou, seu ar de tranquilidade desapareceu, deixando entrever toda sua aflição. Largou as roupas do marido que havia juntado sobre a cama e levou a mão ao peito. Como ela detestava vê-lo nessa situação.

    Há um ano assistia Ricardo se debater entre seus princípios e as determinações da agência. O pesadelo se instaurara em suas vidas alguns meses atrás, num dia em que Ricardo tinha chegado tarde, estupefato com as ideias que ouvira na longa reunião sobre as práticas modernas de capitalização. Eram horas de reunião, seguidas de horas de conversas em casa.

    Sua primeira atitude foi estudar ainda mais, buscar nas correntes contraditórias ao pensamento econômico adotado pelo país nas ultimas décadas. Essa fundamentação era necessária, ele pensava, se pretendia argumentar com seus superiores, e demonstrar tecnicamente que as medidas adotadas não trariam o resultado a que se propunham. Foram meses e meses num desgaste inútil. A trajetória já estava traçada, mas Ricardo não percebia. E agora, essa reação se repetindo numa frequência crescente.

    O chuveiro foi desligado, resgatando Carolina de seus devaneios. Recolheu rapidamente as roupas e se dirigiu à cozinha.

    ***

    Ricardo não se mexia. Cercado do mármore italiano das paredes e do piso, ele permaneceu ali um bom tempo sob o jato de água morno e generoso de seu chuveiro de última geração, recebendo sobre a cabeça atormentada o alívio da iluminação azulada, como se aquela água pudesse levar os números para longe.

    Mas ele tinha paixão pelos números. O mundo financeiro o fascinava desde criança, quando passava horas ouvindo o pai, um homem astuto que fez fortuna trabalhando com números e informações. O cálculo havia influenciado a percepção de mundo de José, ensinando que era apenas uma questão de tempo até que o progresso se infiltrasse na rotina das pessoas e transformasse o que encontrasse pela frente. A única linguagem jamais abandonada é a financeira. Todo o mundo sabe o que significa lucro, dividendo e prejuízo.

    Ricardo sacudiu a cabeça e fechou os olhos. Era assim que a geração de seu pai entendia a globalização. Nas grandes cidades, nos ambientes de alta tecnologia, as novidades chegam mais rápido. Depois atingem as cidades menos populosas, as atividades mais tradicionais, passando pelos hábitos da juventude, até chegar aos bancos das escolas. E aí, então, um dia aparecem nas fábricas e no campo, afetando os operários e o trabalhador rural.

    Em sua memória, Ricardo revivia as conversas com seu pai. Ele acreditava que em qualquer situação todos poderiam ganhar.

    Acreditava na produção estimulando a circulação, na circulação abrindo espaço para maior produção, sucessivamente, num círculo virtuoso. Essa era a sua concepção de enriquecimento da sociedade, tornando os pobres menos pobres que nos séculos passados, e os ricos muito mais ricos que antigamente.

    Com esse raciocínio, José educou Ricardo para um mundo de desigualdades, em que os desiguais lutam, todos os dias, para conquistar posições privilegiadas, sem esquecer seus princípios e preocupações com a sociedade.

    Ricardo esfregou os olhos com as mãos e sorriu. Em meio à turbulência de sua vida nos últimos meses, somente agora a lembrança de seu pai vinha à sua mente.

    Desligou o chuveiro e permaneceu ali, no silêncio suntuoso de sua suíte, por mais algum tempo. Lembrou-se do olhar do pai, do brilho que sempre o impressionara quando lhe explicava coisas importantes relacionadas ao dinheiro. Era o assunto preferido de José.

    Envolvido pelas próprias lembranças, se vestiu e seguiu para a cozinha. Com o ânimo renovado, encontrou Carolina atarefada com o jantar.

    Lembrei-me do meu pai. Acho que o velho exultaria se estivesse na ativa. Imagine! Você se lembra de como ele gostava de ler sobre economia e se vangloriar de antecipar os resultados? Aquele italianinho era danado! Acho que estaria dando pulos se estivesse aqui...

    Ricardo encerrou a última frase com uma gargalhada.

    ***

    Carolina poderia se ajoelhar ali mesmo, frente ao milagre operado no estado de espírito do marido. Ao invés disso, tratou de rir muito também, contribuindo o quanto pôde para esticar a conversa em torno do sogro e das recordações da infância.

    O tio era engraçado mesmo., ela disse sorrindo. Dizia que o bonde dos ricos havia freado para que os nonos pudessem subir. Todo mundo gostava das histórias dele, havia sempre uma plateia pronta para ouvi-las.

    Ricardo encostou-se ao balcão. Naquele tempo, ele ouvia todos os noticiários das rádios e lia os jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro. De vez em quando, quando havia um fato novo, um acontecimento especial, encomendava o de Minas Gerais, o de Brasília. Fazia questão de se inteirar de todos os comentários para formular suas próprias opiniões. Arrumou o cabelo com as mãos e perguntou com um ar quase alegre, Carol, o que você acha que ele faria?

    Além de tomar essa sopa maravilhosa que eu fiz pra você, ainda quente? respondeu, sorrindo. Bem, acho que ele faria como você, estudaria as possibilidades. Ela serviu a sopa para ambos e se sentou para jantar. Esse suco é para você.

    Ele pegou o copo de suas mãos e o colocou sobre a mesa. Meu pai era uma raposa, Carol. Não comia nada quente nem cru. Era meio matreiro, sabe, esperava a hora certa, se fazia de quieto. Como o Maranha! Você não acreditaria se visse o ‘doutor’ Maranha ministrando suas orientações. Com fala mansa, escassa, incisiva. Ele induz as pessoas a se pronunciarem para economizar as próprias palavras, você sabe como é.

    Ela provou uma colher de sopa com alívio, estava ótima. Tio José era assim? Lembro-me dele tão alegre, contando piadas, tomando suas pingas. Tinha muita presença de espírito, dava cada resposta. Eu ficava imaginando de onde ele tirava aquilo, mas não havia quem não risse.

    Você está falando do personagem social que participava das festas, se divertia com os amigos. Quando o assunto era dinheiro, meu pai era outra pessoa. Esse tio de quem você está falando era o garoto esperto, o queridinho da vovó, como a minha mãe dizia.

    Ele passou manteiga numa fatia de pão e deu uma mordida. Depois de mastigar o pão e engoli-lo, ele disse, "Vó Ana

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